... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 29 de maio de 2011

Questão de caráter...

"O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver." Freud 


Quando conheci Amaury percebi uma certa insegurança, mas propriamente relacionada à timidez, embora se comportasse de maneira arrogante e com os vícios preconceituosos costumeiros da classe média pequena burguesa. Havia também, uma insegurança relativa às frustrações trazidas do passado com alguns traumas, mas no contexto geral era um homem de bom caráter.

Ao conhecer Claudia, que era uma mulher bonita, encantadora, com uma vida social cheia e repletas de amigos; se interessava pelas questões sociais, estudava direito, esquerdista de carteirinha tinha princípios morais e éticos bem arraigados; assim como esbanjava felicidade e alegria de viver pelos poros.

Apaixonado pela esquerdista, causou-se com ela e transformou-se num homem extrovertido, divertido e agradável. Passou a não somente cumprimentar os subalternos, como ter compaixão por eles, virou de esquerda se interessando em política, questão social e a ter uma vida com novos princípios.

Inebriado pela beleza da jovem esposa, apesar de também ser belo, era vaidoso e cuidava da aparência, vestia-se elegantemente. Formaram um belo casal de causar inveja e admiração. 

Os anos passaram mais rápido para Amaury, enquanto Claudia permanecia jovial e encantadora, enciumado e novamente inseguro quanto aos sentimentos da esposa passou a se permitir novos interesses, relacionando com novas conquistas.

Hoje, tornou-se um homem amargo, rancoroso, sem princípios morais e éticos, sua arrogância não provém mais de timidez, afastou-se dos filhos, dos amigos e, é notório sua baixa-estima pela falta de vaidade, maneira de vestir-se, aparentando muito mais idade do que os seus cinqüenta anos. 

Relaciona-se com  Maria do Carmo, uma mulher fria, egoísta, sem vaidade,    também bastante envelhecida apesar de cinqüentenária, totalmente ausente de afeto ou compaixão pelos demais. Entretanto, foi capaz de transformar a personalidade de Amaury.

Não é à toa que o mestre da psicanálise previu a fragilidade masculina em se deixar dominar pelas mulheres. Assim, como alerta a jornalista Martha Mendonça em seu livro “Canalha Substantivo Feminino”, expondo alguns casos de mulheres canalhas e afirma: "Elas agem assim porque é a natureza delas, porque não têm empatia com o outro e buscam o próprio prazer e seus objetivos sem se importar com quem está na frente.(...) Elas atuam na vitimização, na chantagem emocional e vão pondo o homem contra os filhos, contra a família, até conseguirem o que querem".

terça-feira, 24 de maio de 2011

"Toda a nossa cumplicidade"

Desgastada por toda solidão e abandono de Roberto, entre lágrimas derramadas pela saudade, Regina abre sua pasta de lembranças daquele amor etéreo na busca ilusória de reviver momentos do passado para se manter viva. Eis que, encontra um bilhete...

"Oi amor...
Tenho achado você um pouco distante..
Mas, como você tinha hoje uma audiência, e provavelmente estava preocupada.
Que tal, um namorinho...
Falar de amor, olhar nos olhos, e deixar eu ver aquele brilho que você traz,
quando está apaixonada...
Um beijo e esperando que você se encante por mim novamente

Roberto...
Não sei quem é o autor, mas achei interessante...."



A TODA NOSSA CUMPLICIDADE

Todas as estrelas do céu
São cúmplices do nosso amor
As rosas e seus espinhos
São cúmplices do nosso amor

A sua fé
O meu café
O seu cigarro
E o meu sarro
São cúmplices do nosso amor

A minha saliva
A tua língua
A lua que cresce
E a lua que mingua
São cúmplices do nosso amor
O vôo sem asas e o tropeço no ar
As minhas palavras e a vontade de gritar
O teu sorriso e a tristeza do meu olhar
Dos dias que te vejo e quando não esqueço
As minhas noites vazias num quarto escuro
E dos nossos momentos de prazer que me faziam puro
A solidão que me engolia quando fugia para o futuro
Do meu cigarro que queima, e da bebida que mistura
Dos nossos sofrimentos, e melhores momentos
E nossos fingimentos sempre grandes instrumentos
Para as nossas verdades, e que estas perdoem
As nossas mentiras !

(autor desconhecido)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cumplicidade em todos os sentidos...


"Muitas vezes pregada, pouco observada, a fidelidade integral é geralmente um peso para aqueles que a impõem a si próprios como uma mutilação: consolam-se com sublimações, ou com o vinho. O casamento tradicional autorizava o homem a 'algumas traições', sem reciprocidade; agora, muitas mulheres tomaram consciência de seus direitos, e das condições de sua felicidade: se nada em sua própria vida compensa a insconstância masculina, irão se ver roídas pelo ciúme e pelo tédio. Numerosos são os casais que fazem mais ou menos o mesmo pacto que Sartre e eu: manter através de afastamentos uma 'certa fidelidade'... O empreendimento tem seus riscos: pode ser que um dos parceiros prefira suas novas ligações às antigas, julgando-se o outro, então, injustamente traído; em vez de duas pessoas livres, enfrentam-se uma vítima e um carrasco... Sartre e eu havíamos sido mais ambiciosos; tínhamos desejado conhecer 'amores contingentes'; mas há uma questão da qual nos havíamos levianamente equivocado: como o terceiro se acomodaria ao nosso arranjo? Por vezes, ele se conformou sem dificuldade; nossa união deixava bastante espaço para amizades ou camaradagens amorosas, para romances fugazes. Mas, se o protagonista desejava mais estouravam conflitos."

(Simone de Beauvoir, in A Força das Coisas)

"Vagabundo no fundo do coração"



"(...) no conjunto, o casamento é hoje a sobrevivência de costumes defuntos e a situação da esposa é muito mais ingrata do que outrora, porque ela tem ainda os mesmos deveres mas não os mesmos direitos; tem as mesmas tarefas sem tirar delas recompensa nem honra. 0 homem, hoje, casa para ancorar na imanência, mas não para nela se encerrar; quer um lar mas conservando a liberdade de se evadir dele; fixa-se, mas o mais das vezes continua vagabundo no fundo do coração; não despreza a felicidade mas não faz dela um fim em si; a repetição aborrece-o; procura a novidade, o risco, resistências que lhe caiba vencer, camaradagens, amizades que o arranquem da solidão a dois." (Simone de Beauvoir, in O Segundo Sexo)

Diálogo de um relacionamento acabado...




- Vejo você distante de toda a forma demonstrativa do meu carinho em esperar por sua chegada, tentei lhe agradar da sua carência aclamada ao chegar em casa.





- Você está enganada. Adorei a minha chegada. Desde o momento da abertura da porta, quando você veio me abraçar e ver como eu estava por causa da gripe e da sua preocupação em relação à chuva e ao fato de estar na estrada. 






- Bebi praticamente sozinha o bom vinho que reservei para sua chegada, pois mesmo você estando presente sinto-me solitária.

- O vinho estava ótimo. Os acepipes estavam maravilhosos. A sua produção estava esplendida. E não estou falando por falar...

- Daí, preenchi-me com os pensamentos filosóficos sobre o amor, capazes de atenuar meu sofrimento da sua perda... Enfim, tão triste a perda de um grande amor.

- Não existe perda que não possa ser reconquistada. Mas, a reconquista vem com o tempo. Durante anos eu esperei pela sua aproximação, que teimava em não vir. Quando me dei por vencido, surge novamente a mulher tão esperada.

- Para que haja reconquista, precisamos estar abertos e deixar de lado as autodefesas, sermos honestos um com o outro, ter diálogo e trabalharmos nossas mágoas. Quando nos sentimos rejeitados a tendência é nos afastarmos mesmo. Eu me sentia sozinha. Foi um erro me afastar e esperar que você me trouxesse de volta. Deveria ter discutido e exposto minhas carências e faltas. Mas, nosso tempo era tão curto juntos que evitava brigas. Mudei de comportamento porque quero lhe reconquistar, mas isso também não está sendo compreendido por você. Do que mais você desconfia ???

- Onde foi que eu errei ????? Por que não conseguia te chamar a atenção ??? O que eu fazia de tão errado pra cada vez mais ver você tão afastada e desinteressada ?

- Você era distante, sempre inatingível. Chegava em casa muito irritado e grosseiro. Criticava-me, não havia qualquer qualidade que você visse em mim. Não sentia você sintonizado em mim... Hoje vejo como você é carente e precisa que eu sempre tome a iniciativa.

Ainda trago uma porção de boas lembranças. Nem mesmo os espinhos e as dificuldades fizeram com que eu as esquecesse.

- Se ainda, existem boas lembranças, acho que dá para recuperar o nosso relacionamento.

- E foi por essas lembranças que durante anos eu também chorei silenciosamente a sua perda.

- Você não me perdeu, eu apenas esperava que você mudasse e fosse gentil comigo. Parceiro e compartilhasse sua vida comigo.

- Ainda existem lacunas e peças que ainda não as entendo. Fatos que pra mim ainda não foram totalmente esclarecidos mesmo você dizendo que esses fatos nunca existiram. Fatos estes, que poderiam ser uma paranóia por mim criada, mas que foram reforçados por observações feitas por pessoas que eram distantes de nossa amizade e convivência. Verdades que nunca serão esclarecidas.
Enfim, são e serão sempre meias verdades !!!!
Mas, adorei mesmo a nossa noite, mesmo estando muito cansado e com o corpo dominado por uma gripe que teima em me castigar.

- Que lacunas são essas ? Que meias verdades você quer saber ? Nunca existiu nada, nenhum caso extra com alguém. Sempre lhe respeitei e mesmo sentindo você distante jamais permiti qualquer interferência de alguém. Me acomodei, sim. Direcionei minhas insatisfações para estar com amigos e amigas, pela ideologia... Mas, sempre na esperança de ter você de novo. Mesmo, com as migalhas fui levando... Nunca tive segredos e lhe contava da minha vida. Não dê ouvidos aos outros, porque é mentira. Não há nada que eu tenha escondido de você. As pessoas também, falavam que você não estava nem aí pra mim. E, diziam - Que relacionamento é esse ? Você sempre sozinha... e etc e tal. Mas, pouco me importava e respondia na ponta da língua que tínhamos um relacionamento maduro e seguro. Confiava em você e você em mim. 

- Hoje, acho que estamos como gostaríamos de sempre estar. Você sempre gentil e carinhosa. Se permitindo mais e me entendendo. Eu, "Apenas seguirei como encantado ao lado teu "...

- Beijos

- Beijos

Mulheres Abandonadas...


Várias são as histórias de mulheres abandonadas por seus parceiros, sejam anônimas ou famosas, que se tornaram vítimas trágicas da dor e do sofrimento. Assim, como: Camille Claudel morreu louca num sanatório por causa de Rodin;

"Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta." Camille Claudel

Frida Khalo tentou o suicídio por diversas vezes em decorrência das traições de Rivera;

"Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e vc. Vc sem dúvida foi o pior deles." Frida Khalo

Maria Callas caiu numa depressão profunda após o abandono por Onassis;

“Tudo o que querem saber a meu respeito está ali, na música. Callas morreu”. Maria Callas

Dentre tantas outras...

Posto que, a dura realidade feminina decorrente do abandono do parceiro com perda do amor, leva a muitas dessas mulheres ao extremo da pressão psicológica, fazendo-as perder sua própria identidade e vontade de viver.

Em sua magnânima obra, O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir consegue traduzir o significado do sofrimento dessas mulheres:


“A mulher abandonada não é mais nada, não tem mais nada. Se lhe perguntam: "Como vivia, antes?", não se lembra sequer. Esse mundo que era seu, ela o deixou cair em cinzas para adotar uma nova pátria de que é bruscamente expulsa; renegou todos os valores em que acreditava, destruiu suas amizades; encontra-se sem teto sobre a cabeça e em derredor é o deserto. Como recomeçaria uma vida nova, se não há nada fora do amado? Refugia-se em delírios, como outrora no claustro; ou se é demasiado sensata, resta-lhe apenas morrer: muito rapidamente, (...) ou pouco a pouco; a agonia pode durar muito tempo. Quando uma mulher, durante dez ou vinte anos, se dedicou a um homem de corpo e alma, quando êle se manteve firmemente sobre o pedestal em que o ergueu, o abandono em que êle a deixa pode ser uma catástrofe fulminante. "Que poderei fazer, indagava aquela mulher de 40 anos, se Jacques não me ama mais?" Vestia-se, pintava-se com cuidado, mas seu rosto endurecido, já gasto, não podia suscitar um novo amor; poderia ela própria amar outro depois de vinte anos à sombra de um homem? Restam ainda muitos anos de vida quando se tem 40 anos. Revejo outra mulher que conservava olhos belos, traços nobres, apesar de um rosto inchado pelo sofrimento e que deixava, sem o perceber sequer, as lágrimas escorrerem-lhe pelas faces, em público, cega e surda.

(...) Se é inda moça, a mulher tem possibilidades de curar-se: um novo amor poderá curá-la. Por vezes, a este se entregará com um pouco mais de reserva, compreendendo que o que não é único não pode ser absoluto; mas muitas vezes ela se quebrará de encontro a esse novo amor, com muito mais violência ainda que da primeira vez, porque terá de resgatar também o malogro anterior.”

Até a liberdade nos causa temor quando alforriados...

"Que nada nos sujeite.
Que a liberdade seja a nossa própria substância"

Simone de Beauvoir


Durante anos, fui me acostumando com a dor e vivenciando o sofrimento da solidão a dois que me tirava o prazer. Não inclinada à submissão, fui me revoltando a cada mágoa e me distanciando a cada rancor, numa tentativa ansiosa de sobreviver me entorpecendo pelos encontros de seres semelhantes que disfarçavam sua dor e sofrimento em busca de companhia para driblar a solidão escondida à cada alma opaca.

Àquele que se dizia companheiro, me chicoteava com palavras rudes e cobranças de falsa atenção. Para amar é preciso ser livre, sem amarras ou correntes. Mas, meu algoz me torturava num êxtase de prazer cruel que só ele se satisfazia, enquanto eu vagava no vácuo da existência ávida de amor.

A solidão me obrigara caminhar no fio cortante da navalha, me fazendo sangrar a cada dia. E, assim, fui seguindo quando o próprio vampiro me empurrara do penhasco num gesto perverso me jogando a liberdade. Mas, que liberdade amarga que só me fez jorrar lágrimas de sangue num âmago vazio e faminto de emoção. 

Assim, é a dor que quando passa estamos tão acostumados à ela, que o alívio nos causa o sofrimento da falta. Mesmo, que por àqueles que durante tempos nos feriu. (Claudine Garcy)

domingo, 22 de maio de 2011

Almas em sofrimento...

"Os sofrimentos da neurose e da psicose são, para nós, a escola das paixões da alma, assim como o fiel da balança psicanalítica, quando calculamos a inclinação de sua ameaça em comunidades inteiras, dá-nos o índice do amortecimento das paixões da polis." (Lacan, in O Estádio do Espelho)


Os dramas da Sexualidade negada...


Era comum, Adolfo fechar-se no escritório e percorrer as páginas pornográficas na fantasia cibernética de seu computador. Existia sempre uma mudança de página eletrônica com a chegada inoportuna de Marta ao chamá-lo à mesa para as refeições, ou qualquer outro motivo que a fizesse interrompê-lo.

Sua fantasia obsessiva pelas salas-de-pate-papo dos fetichistas chegava ao extremo de ultrapassar a tela do computador  a procura secreta de encontros furtivos, sendo seus devaneios eróticos alimentados pela possibilidade do real.

Por diversas vezes, sua compulsão sexual entediada naturalmente pela recusa de Marta em fazer parte daqueles ensaios pervertidos, facilitou-o na concretização de suas fantasias sadomasoquistas, exibicionistas, inversões e tantas outras nas relações extraconjugais.

Com a negativa da esposa em satisfazer Adolfo na alcova, as grosserias se iniciavam perdurando em críticas ácidas e assim, o distanciamento era evidente. Pois, Marta apenas queria romance e suas súplicas eram tão simples como um passeio à beira-mar contemplativo ao pôr do sol, viagem à sós com o marido ou namoro apesar do largo tempo de casamento.

Ademais, com o passar dos muitos anos e o envelhecimento notório diante dos cabelos brancos, Adolfo sentia-se inseguro e temeroso com uma futura baixa da virilidade, da qual Marta já vivenciara com a sua entrada no climatério.

Enquanto, aquela mulher sonhava com carinho, afeto, amor e um relacionamento sexual comum porque ainda, apesar dos pesares, desejava e amava seu parceiro. Do outro lado, Adolfo sequer se interessava em agradar Marta ou satisfazer sua vontade. Pois, já não a amava, nem mesmo nutria qualquer encantamento afetivo por ela, apenas a utilizando como escape da sua patologia atormentada.

Talvez, no pretérito daquele homem houvesse "um esqueleto escondido em seu armário do inconsciente", donde segredos irreveláveis ou, mesmo na infância um suposto abuso, causara-lhe a perversão.
(Claudine Garcy)



"(...) o que deve ser, de fato, considerado perversão é o desejo de fazer mal ao objeto, humilhá-lo, degradá-lo. Humilhando, o perverso se vinga da humilhação a que foi submetido. A perversão é uma neurose erótica; uma forma erótica do ódio. O fantasma que sustenta o ato perverso é o de vingança que transforma o traumatismo (da criança) no triunfo do adulto." (Adelson Bruno dos Reis Santos e Paulo Roberto Ceccarelli, em PERVERSÃO SEXUAL, ÉTICA E CLÍNICA PSICANALÍTICA)

Amar não é ser prisioneiro da paixão...


"Tomem cuidado com o poderoso apego exclusivo a uma outra pessoa; ele não é, como algumas pessoas pensam, evidência da pureza do amor. Esse amor encapsulado, exclusivo — alimentando-se de si próprio, não dando nem se importando com os outros —, está destinado a desmoronar sobre si mesmo. O amor não é apenas uma centelha de paixão entre duas pessoas; há uma distância infinita entre se apaixonar e permanecer apaixonado. Mais propriamente, o amor é um modo de ser, um "dar a", não um "enamorar-se"; um modo de se relacionar como um todo, não um ato limitado a uma única pessoa." (Irvin Yalom in O Carrasco do Amor) 

sábado, 21 de maio de 2011

A estética da mulher conteporânea...


"O mero voltear dum xaile para cima dos ombros usa hoje mais consciência à visão do gesto em quem o faz do que antigamente. Dantes o xaile era parte do traje; hoje é um detalhe resultante de intuições de puro gozo estético."
(Livro do Desassossego por Bernardo Soares)


Desabafos de uma mulher silenciada...



"Lacan bem expressou no  final do seu   'Seminário sobre a A Carta Roubada', uma carta sempre chega ao seu destino."
 (Slavoj Zizek in Como Ler Lacan)

A Carta...


Como não consigo ter diálogo ou discutir qualquer ponto de vista, dado os seus argumentos infundados e agressivos para justificar nossos desentendimentos resolvi escrever, assim talvez consiga colocar meus desabafos. Até porque fico muito angustiada pelo meu silêncio e impotência diante da impossibilidade de defesa, cuja dor parece rasgar meu peito. 

São muitas coisinhas e muitas críticas que vão minando nosso relacionamento, mas por acreditar que vão passar com o tempo, me calo para evitar discussões e brigas. O que foi um erro, mesmo sendo uma autodefesa acabou dando nisso, mágoas acumuladas e distanciamento na espera de um futuro a longo prazo que não virá.

Não consigo me dar ou estar em harmonia diante da sua grosseria e, assim o distanciamento é inevitável. Mas, sempre acho que isso não é motivo para deixar você e acabo dizendo para mim mesma que vai passar...

São tantas as suas queixas, dentre a principal de querer exclusividade total da minha atenção. Quando você dizia que queria estar comigo no topo de uma montanha sem acesso algum externo, achava que era uma forma de demonstração de amor. Hoje vejo como o seu egoísmo, ciúme e desconfiança são patológicos.

Desta forma, fui colocada em seu desejo emocional como um objeto disponível a ser usado quando lhe é conveniente. Ou seja, você na verdade me quer como uma coisificação personificada ao seu dispor.

Esperar mais um dia para poder falar e vomitar tudo que tenho a dizer, parece não ter fim. É um sofrimento infinito. Pois, provavelmente quando eu começar tentar o desabafo, em seguida você vai zombar e me tripudiar mais uma vez.

Essas foram as palavras que escrevi para não enlouquecer, antes de você chegar e podermos conversar. Agora, já é sábado, ou melhor domingo de madrugada, vejo da janela a aurora do dia raiando...

Quem sabe essa carta chegue ao seu destino ?!


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Neurose - Psicose - Perversão



 
"Na visão de Lacan, formações patológicas como neuroses, psicoses e perversões têm a dignidade de atitudes filosóficas fundamentais em face da realidade." (Slavoj Zizek, in Como Ler Lacan)

A visão do Outro como objeto...


                                         

"A perversão, portanto, é um fenômeno sexual, político, social, psíquico, trans-histórico, estrutural, presente em todas as sociedades humanas. E se todas as culturas partilham atitudes coerentes — proibição do incesto, delimitação da loucura, designação do monstruoso ou do anormal —, a perversão naturalmente tem seu lugar nessa combinatória." (Elisabeth Roudinesco in A parte obscura de nós mesmos) 

A difícil convivência com o Perverso...


"o perverso é aquele que se consagra a tapar o buraco no Outro" (Lacan)


 "... o desejo perverso não é uma pergunta, mas uma resposta, pois o perverso sabe o que quer e isso deve ser a base da arrogância perversa, que o faz convencido de saber a verdade escondida." (Miller)


Arrogante, vaidoso, narcisista, sempre dono de si, não media as palavras ao magoar as pessoas. Principalmente o gênero feminino, como um autêntico misógino, eram críticas sobre a aparência, os cabelos se estavam secos, sobre o peso, a idade e etc. Por vezes, me sentia em uma saia justa diante de uma situação deselegante em algum evento social. Ele sempre tinha razão, sabia tudo e discutia de todos os assuntos abordados no meio. Mas, também, sabia ser simpático e sedutor, o que fazia com que as pessoas não guardassem suas mágoas.

Não somente, suas críticas ácidas eram dirigidas à terceiros, por muitas vezes fui escolhida perante os amigos para ser a vítima de tais críticas. O ciúme era proferido com atitudes grosseiras. Suas vontades estavam sempre em primeiro lugar, a não ser quando existia um interesse velado que o fazia tornar-se gentil.

Não existia a menor possibilidade de discutir a relação, quando me sentia insatisfeita, eis que ele sempre tinha argumentos respaldados em subterfúgios imediatos. Levando a cair por terra qualquer manifestação de opinião. Com o passar do tempo passei a evitar qualquer tipo de conversa séria que fosse relativa à nossa relação, me calando e evitando conflitos.

Estava diante de um marido perverso e, como tal, estava ciente da sua personalidade, mas jogava todo o peso de seus defeitos nas minhas costas. Ele sempre tinha razão, e quando era pego numa mentira invertia o jogo e muitas vezes me manipulava se fazendo de vítima.

Na verdade, me anulando e me calando para evitar conflito permaneci numa zona de conforto e, acabei exercendo o lugar masoquista patológico dessa relação sado-masoquista. Mas, no momento em que passei a me impor e rebater as acusações infundadas, me tornando autora da minha vontade, passei a não ser mais útil ao desejo do sádico.  

Assim, um dia porém, do nada, ele decidiu ir embora. Mas, saiu exercendo toda a bagagem de crueldade perversa  me acusando de todos os erros, defeitos, acusações de infidelidade e egoísmo. (Claudine Garcy)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A força do Amor...

Quem não acredita que o amor é o mais eficaz dos remédios ou terapia está correndo riscos.

Clara nem tinha completado seus quarenta anos de vida e estava diante de uma maratona de consultórios, percorria mastologistas e oncologistas na busca da salvação. Além, do sofrimento dos exames, os mesmos revelavam péssimos diagnósticos e as opiniões não se divergiam. Logo, era preciso extirpar urgentemente o tumor.

Em sua mente de mulher vaidosa, Clara, já vislumbrava a perda dos longos cabelos que compunham sua beleza e o pior de tudo, a amputação do seio que alimentava sua sensualidade e despertava desejo em seu amado. Por enquanto, não pensava na morte. Apenas, na falta que seria a mutilação para André.

De repente, talvez pelo estágio normativo da negação, ainda não lhe havia sucedido a visão fatídica de seu velório. Entretanto, como não podia se fazer de avestruz por muito tempo, necessitava levantar a cabeça e não se esconder do sério problema maior que era a possibilidade de finitude.

Pensou na dor de André. Ainda, foi mais longe, pois não era justo que seu companheiro certo de ter optado por uma mulher jovem, fosse condenado a compartilhar do doloroso tratamento de câncer, como nomeado enfermeiro do definhamento de Clara até enterrá-la.

Era uma previsão muito dura para o amado André, cujo sofrimento lhe fosse imposto sem ao menos ter chance de escolha. E, se ele não tivesse forças para suportar ? Provavelmente seria julgado e apedrejado por todos.

Cirurgia marcada, Clara convida André às vésperas, num ato de amor e despedida, para um bar em que lhe daria a oportunidade de deixá-la o quanto antes do final. Assim, evitaria o sofrimento duplo. Mas, a recusa foi categórica, demonstrando André de pronto todo amor, carinho e afeto daquela relação perfeita.

Diante de tanto amor e dedicação do companheiro, a cirurgia de Clara foi um sucesso milagroso, assim como outras que estavam por vir, não a deixando perder seu seio, muito menos as madeixas e a revigorando para vida.

Assim, a força do amor salvou aquela mulher !




“Em última análise, precisamos amar para não adoecer.” Freud

A dor do sujeito abandonado...





"... a dor exprime o encontro brutal e imediato entre o sujeito e o seu próprio desejo enlouquecido."












"(...) A perda é uma causa desencadeante, o desmoronamento é a única causa efetiva. Se perdemos a pessoa do eleito, a fantasia se desfaz e o sujeito fica então abandonado, sem recurso, a uma tensão extrema do desejo, um desejo sem fantasia sobre o qual se apoiar, um desejo errante e sem eixo. (...)
A dor é aqui uma desgraça que se impõe inexoravelmente a mim, quando descubro que o meu desejo é um desejo nu, louco e sem objeto... a dor é o afeto que exprime a autopercepção pelo eu da comoção que o devasta, quando é privado do ser amado.(...)

É nesse instante de intensa movimentação pulsional que, em desespero de causa, nosso eu tenta salvar a unidade de uma fantasia que desmorona, concentrando toda energia de que dispõe sobre uma pequena parcela da imagem do outro desaparecido; imagem parcelar, fragmento de imagem que se tornará supersaturada de afeto. É então que a dor, logo nascida de um desejo tumultuado, ao invés de reduzir-se, se intensifica." (J.-D. Nasio, in A Dor de Amar).

Sem olhar para trás...


 
"... Entretanto, não se deve acreditar que todas as dificuldades se atenuem nas mulheres de temperamento ardente.
Ao contrário, podem exasperar-se. A pertubação feminina pode atingir uma intensidade que o homem não conhece."
Simone de Beauvoir
 
Sofrendo muito pela separação, Letícia passava dias e noites chorando e relembrando dos momentos do passado, dos erros que supunha ter cometido para que Marcos a abandonasse daquele jeito. Foram inúmeras tentativas para que seu marido voltasse atrás com idéia de partir, súplicas e humilhações esgotaram o resto de dignidade que pouco existia.

Marcos por sua vez, irascível e determinado, deixara a mulher sem qualquer remorso ou culpa de toda a dor causada. Estava altivo, empertigado e irritado pelo desconforto de ter que socorrer Letícia em suas crises de pânico. Talvez, até temesse que a mulher diante daquele desespero chegasse ao suicídio. Mas, certamente pelas explicações sociais e não pela compaixão.

Ao telefone, Letícia chorava copiosamente o lamento de uma pessoa desesperada pelo abandono. Então, ao chamado, ele foi ao seu encontro. Ao entrar no apartamento que fora o lar conjugal deparou-se com aquela mulher acabada, recolhida em sua catatonia, em pleno desamparo. E, não satisfeito, ainda lançou mais justificativas pelo seu desamor:
- Durante anos fui seu esteio, segurando seus desequilíbrios...
- Eu não agüento mais, estou morrendo.
- Essa dor não é física, é psíquica, você não vai morrer.
- Eu quero morrer !
- Vai dar uma de louquinha agora ? Para todos dizerem o que sempre pensaram de você...

 
Marcos, assim mesmo se foi...
Não olhando para trás.


domingo, 15 de maio de 2011

Depressão... A dor da Alma...

A depressão é tão profunda que não suporto mais tanto sofrimento. É uma dor lancinante na alma que não pára. Contraditória em todos os momentos, pois da mesma forma que a somatização de sintomas como náuseas e vômitos, dor no peito e o mal estar súbito causa um temor terrível da morte, o cansaço é infinito que desejamos morrer logo, é a perda de vontade da vida. Mas, vem a culpa dos compromissos afetivos e logo, penso nos demais, principalmente na família, me abatendo naquele remorso que faz doer ainda mais a alma.

A dor da alma !


Depressão é uma doença ingrata que aponta julgamentos e condenações alheias, das quais não queremos saber e tampouco suportamos ouvir. Assim, me aprisiono cada vez mais fundo em uma concha fechada caindo no profundo ostracismo. Talvez, seja a necessidade de retorno ao útero materno diante das frustrações e fracassos não trabalhados ou insuperáveis no momento.

O desequilíbrio é constante, não há mais qualquer pensamento tênue e muito menos concentração aos afazeres comuns, sem vontade de até se alimentar ou dos cuidados com a higiene. O pranto parece nunca secar e cada situação externa das obrigações e responsabilidades é realizada num esforço além das forças vitais. É uma doença, mas da alma e, por isso tão incompreensível aos outros. Só quem passa por depressão tem uma mera idéia, já que cada dor é única a cada ser humano.

A solidão é tão profunda que a carência e auto-piedade transborda às pessoas próximas e  é capaz de afastá-las. Assim, me torno enfadonha, negativa e repulsiva aos outros. Como se a minha doença fosse altamente contagiosa, mas é, e também nociva aos sãos, pois os rouba energia. Sou uma verdadeira vampira de energia.

E, aquela mulher alegre, bem disposta, caridosa, solidárias às dores do mundo se apaga, restando uma mulher mal-amada e amarga. Há quanto não dou uma boa gargalhada lá do fundo da alma que esbanja felicidade e irradia energia da mais positiva luz. Já não me pertence o ânimo e o positivismo de dar certo, o brilho dos meus olhos que ofuscava qualquer escuridão tornou-se opaco, não tenho mais o perfume da sensualidade que me destacava da multidão. É como se a chama da minha luz estivesse bem no fim, precisando de oxigênio urgentemente para voltar a brilhar. Só que não tenho mais forças e meu pranto quanto mais se esvazia, mais aumenta o vazio insuportável capaz de me arruinar sem dó nem piedade a minha existência. Mas, que existência ? Se nem mesmo sei quem sou, apenas vivendo uma ilusão inventada das lembranças pretéritas que perdi.

Não quero ouvir conselhos ou receitas, reaja ! Reagir o quê ? É a torturante ausência que não tem fim, somente a presença trar-me-á lampejos de fôlego, àquele sopro básico para acalmar minha dor. Mas, como trazer de volta a presença se provoco mal estar e repulsa com minhas lamúrias ?

Portanto, é incompreensível a dor única e pessoal, a alma despedaçada e o sofrimento amordaçado de coração amputado.

Um olhar adiante...


"A vida só pode ser compreendida
olhando-se para trás;
mas só pode ser vivida
olhando-se para a frente."
(Soren Kierkegaard)


A Exilada...

Vivendo no meu refúgio como exilada de uma vida fracassada me torno anônima de mim mesma.

A desilusão ainda marca meus pensamentos que desembocam num mar de tristeza.

Não há amanhecer, somente as noites perdidas em pensamentos angustiantes.

Outrora toda dedicação que anulava meus planos para um longo futuro, já não faz mais sentido.

A ingratidão que aniquilou meus sonhos me trouxe a solidão. E, assim estou no ostracismo defensivo das marcas do sofrimento.

sábado, 14 de maio de 2011

"As Flores do Mal"

    O VAMPIRO



Tu que, como uma punhalada,
Em meu coração penetraste
Tu que, qual furiosa manada
De demônios, ardente, ousaste,


 

De meu espírito humilhado,
Fazer teu leito e possessão
- Infame à qual estou atado
Como o galé ao seu grilhão,



Como ao baralho ao jogador,
Como à carniça o parasita,
Como à garrafa o bebedor
- Maldita sejas tu, maldita!



Supliquei ao gládio veloz
Que a liberdade me alcançasse,
E ao vento, pérfido algoz,
Que a covardia me amparasse.



Ai de mim! Com mofa e desdém,
Ambos me disseram então:
"Digno não és de que ninguém
Jamais te arranque à escravidão,



Imbecil! - se de teu retiro
Te libertássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!"



Certa noite bem junto a uma horrenda judia,
Como ao longo de um morto outro morto estendido,
Pus-me a pensar ao pé deste corpo vendido
Na beleza infeliz que aos olhos me fugia.



Eu lhe evocava a esplêndida altivez nativa,
O olhar de intensa luz e de graças armado,
O cabelo a servir-lhe de elmo perfumado
E cuja súbita lembrança o amor se aviva.



Pois com fervor teu nobre corpo eu beijaria
E dos réus frescos pés às tuas negras tranças
Abriria o tesouro das carícias mansas,



Se uma noite, ao rolar de uma lágrima esguia,
Pudesses, tu, que apenas esse fel destilas,
Ofuscar o esplendor de tuas frias pupilas.
 


(Charles Baudelaire in As Flores do Mal)