... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Filhos descartáveis...


"Foi concebido um varão, converta-se esse dia em trevas, que deus lá do alto não lhe dê atenção nem a luz sobre ele resplandeça, que dele se apoderem as trevas e obscuridade, que as nuvens o envolvam e os eclipses o apavorem." 
José Saramago in Caim



Ao adentrar na sala pela manhã trazendo as xícaras para o café da cozinha, pude ouvir um despertar esfuziante. - Bom dia, Mãezinha ! 

Animado para um encontro familiar, pude sentir o quanto ele ainda, clamava pela convivência com os irmãos. Na qual, era evidente a minha ausência e, mesmo assim, me comprazia com a sua felicidade e irmandade perante os seus.

No breve contato telefônico, de repente, vi na sua face um descontentamento tamanho, com seus lábios cerrando e num despenco convexo, seus olhos umedeceram opacificando o brilho do olhar de antes, desiludido e surpreendido por alguma negatória à expectativa, seu semblante se fez pesado. 

Bradando ofensas grosseiras, explodiu em ira pela imposição paterna da presença da atual companheira, antiga amante que retirara o genitor de casa. Agora, a predileção dos afins pela algoz, o tornara forasteiro dentro do outro lado familiar. A cada ato de abandono emocional do pai, após nossa separação e, pela notória preferência explícita aos demais os distanciavam mais ainda, tornando meu filho rejeitado. 

A presença ausente paterna, como apenas referência simbólica, roubou-o a leveza. Sua maturidade abrochou instantaneamente diante da impotência de lidar com a dor da perda, seu luto contínuo trouxera as mazelas do vazio existencial deixando-o rijo e amargo. 

Assim, meu rebento estava condenado a vagar na escuridão do deserto da alma. Esquecido e preterido, me sentia culpada pela má escolha genética. Sabia que sua presença atormentava o pai com a lembrança personificada de nossa união de outrora. Bem como, gerava perigo a nova escolha de vida.

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