... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Não te amo mais ! Mas, tenho ciúme e projeto minha insegurança em você...

“O ciumento sempre acha estar-lhe sendo roubada a pessoa amada” M. Klein

Após, mais de um ano sofrendo intensamente a separação de uma relação duradoura, Carolina se permite uma nova relação. Mas, espantosamente, o ex-marido que havia lhe abandonado para viver uma paixão clandestina, agora comporta-se possessivo e viscoso diante do relacionamento da ex-mulher.

Em discussão acalorada, por cobranças absurdas e impertinentes, Clóvis, demonstra através de sentimento contraditório, seu incômodo latente pelo ciúme.

- Esperei sua volta por mais de um ano. Esqueceu que foi você que me abandonou ? Agora, está com ciúme. Ressaltou Carolina.

- Esperou nada, você nunca quis a minha volta ! Rebateu Clóvis. 

Com a falência conjugal, Carolina viveu seu luto na mais completa solidão. Amargou na depressão a baixa-estima oriunda do abandono e sofreu a dor da perda do homem amado. Já Clóvis, emendou uma nova união sem intervalo de luto. Até porque, não amava a ex-mulher há tempos.

Acontece que, é notória a ausência de identidade afetiva de Clóvis, cuja imagem é refletida de forma invertida no espelho. E, assim, transfere para Carolina os seus sentimentos ocultos da insegurança, da desconfiança e da deslealdade.

Contudo, restou demonstrado a impossibilidade de Clóvis em amar e, obviamente se sentir correspondido. Mas, por que almeja esse amor de Carolina, se não foi capaz de dar garantias de seus sentimentos ?

O ciúme desse ex-marido está ligado à posse, num delírio psicótico, como se a ex-mulher fosse seu objeto de desejo. Revelando sua intenção de féri-la e puni-la.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

"Só uma pessoa sem afeto recua diante da dificuldade do amor"

"Certamente as dificuldades das condições de vida e as adversidades da luta pela existência nos oprimem, mas situações externas graves não impedem o amor, muito pelo contrário, no caso elas poderão até nos estimular a realizar grandes esforços." Jung

Muitos casamentos tendem às crises perante as dificuldades financeiras, principalmente do marido, cuja interferência sócio-econômica no padrão da família é o bastante para que o homem sinta-se diminuído e inferiorizado. Enquanto, na mulher as questões ligadas aos problemas de saúde ou perdas significativas dos entes queridos são o suficiente para  abatê-la, diante dessas contingências.

Contudo, Matilde e Jonas passaram por esses momentos conturbados. Sendo que a primeira crise de ordem financeira enfrentada por Jonas fora facilmente contornada por Matilde, inclusive serviu até para uni-los ainda mais. Depois, veio a doença dos sogros em que também, Matilde em sua lealdade conjugal enfrentou a ausência do marido, mantendo-se solidária e compreensiva. 

Todavia, Jonas não fora suficientemente grato aos esforços e as privações da mulher, decorrentes  de tais dificuldades. Muito pelo contrário, seu egoísmo e ausência de afeto o cegaram quando Matilde vivenciou uma drástica perda familiar. E, por derradeiro um sério problema de saúde capaz de fragilizá-la.

Por coseguinte, quando Matilde conseguira resolver seus problemas e, estava em completa harmonia com total ausência de conflito, por conta ainda, do restabelecimento financeiro de Jonas, a decepção rasgou todos os seus planos futuros.

Não somente, Jonas estava fortalecido economicamente, sem dívidas e estabilizado emocionalmente, como também, estava seguro do amor eterno da mulher, cujas dificuldades foram enfrentadas lado a lado do marido. Tanto, na tristeza, na pobreza e na doença. O que não fora o bastante, para que Jonas valorizasse o relacionamento. Abandonando assim, impiedosamente e sem remorsos a família pela amante.

Na verdade, "fazer tudo por amor a uma pessoa é uma característica da mulher". Tanto que, "uma mulher que ama pode segurar uma situação contra qualquer poder superior, contra a morte e o demônio, e com total convicção criar estabilidade no caos". (C. G. Jung in Sobre o Amor)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

"O inconsciente ao céu aberto"

“Na psicose vemos se revelar, e da maneira mais articulada, essa frase, esse monólogo, esse discurso interior.
(…) No discurso alucinatório, o discurso do inconsciente está literalmente presente” Lacan


Quando Aníbal deixou Clara, o fez de maneira tão surreal que ela mesma não podia acreditar no acontecido. Perpléxia, diante daquele abandono infundado, das injúrias e acusações sofridas, pôs-se a questionar o por quê.

Aníbal em pleno regojizo de vindança, disse-a: "Eu avisei".

Mas, que aviso foi esse ? Que durante tanto tempo, apenas Clara foi vítima contumaz das ameças de seu companheiro, cujas mesmas éram sempre de um monólogo imperativo: "Se algum dia me deixa, juro que acabo contigo".

Naquela carência absurda de não se sentir amado, ou mesmo, capaz de amá-la, Aníbal torturava Clara com suas cobranças sexuais quase que diárias. Bastava que a companheira estivesse em seus períodos menstruais para que começasse o mau humor até as grosserias.

Nada era o suficiente para satisfazê-lo, existia sempre as desconfianças de infidelidade por parte de Clara, que jamais dava motivos para tal. Aquela paranóia permanente e as alucinações constantes enfraqueciam qualquer forma de diálogo aberto. Levando então, a companheira a ser prisioneira daquele homem inseguro, a fim de evitar descontentamento culminando em discussões intermináveis pela madrugada.

Muita e muitas vezes, sem clima romântico Clara permitia que Aníbal despejasse suas frustrações de macho na alcova fria, apenas para agradar seu instinto primitivo. Sendo, constantemente inócuo, dado as cobranças de orgasmos impossíveis diante daquele verdadeiro estupro consentido.

Aníbal acusava-a de frigidez por conta de uma imaginária traição, exigia explicações pela falta de desejo e a punia com as palavras mais cruéis ao imputá-la a falta de amor. Mas, como auferir qualquer defesa, ou diálogo ? Se ele mesmo utilizava das palavras numa tentativa de linguagem delirante. Não havia nada a ser dito, eis que ele próprio colocava palavras como verdade absoluta na boca da companheira.

Não obstante, todas às vezes em que Clara expressava seu desejo, entregando-se de corpo e alma ao companheiro, que desfrutava daquela paixão genuína na completude do êxtase dual, na manhã seguinte era motivo para mais um monólogo delirante de Aníbal. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

E, se ela o traisse ?...

"Albertine tomou-lhe as mãos, acariciou-as, ergueu os olhos tristonhos em sua direção, e neles ele pôde ler o que ia pela mente da esposa. Naquele momento, ela estava pensando nas outras experiências dele, naquelas mais reais de sua juventude, muitas das quais eram do conhecimento dela, uma vez que, nos primeiros anos do casamento, cedendo com demasiada solicitude à enciumada curiosidade de Albertine, Fridolin contara ou - como freqüentemente lhe parecia - confessara a ela muita coisa que teria sido melhor guardar para si. Naquele instante, ele sabia, muitas recordações invadiam-na, de modo que ele não se admirou ao ouvi-la pronunciar, como em sonho, o nome semi-esquecido de uma de suas namoradas da juventude. E, no entanto, aquele nome soou-lhe como uma censura, ou mesmo como uma velada ameaça.

Fridolin aproximou as mãos dela de seus lábios.

'Em cada criatura - creia-me, ainda que possa parecer banal -, em cada criatura que julguei amar, estava apenas e sempre procurando por você. Sei disso melhor do que você é capaz de compreender, Albertine.'

Ela sorriu melancólica. 'E se também eu tivesse querido partir nessa busca?', perguntou. Seu olhar alterou-se, fazendo-se frio e impenetrável. Fridolin deixou que as mãos dela deslizassem para fora das suas, como se a tivesse flagrado numa inverdade, numa traição."

(Arthur Schnitzler in Breve Romance de Sonho)



Marcos e Vanessa viviam um casamento sólido e duradouro, pelo menos nas expectativas da mulher. Ela manteve-se leal e fiel durante os longos anos daquela união. Enquanto ele, na sua qualidade de macho, permanecera ao falso moralismo instituído unilateralmente, numa hipocrisia perversa que cobrava de Vanessa a verdade.

Não raras, as vezes, em que diante de verdadeiros inquéritos e acareações, Marcos questionava os romances da mulher no passado, bem antes de conhecê-lo. Sempre, confrontando datas, já esquecidas pelo tempo distante.

Todavia, Vanessa em sua mais profunda sinceridade se deixava dominar pela arrogância do marido, respondendo aos questionamentos e acreditando estar diante da cumplicidade de uma relação honesta. Muito embora, Marcos sempre fora arredio e crivado de segredos.

Não somente, as aventuras e casos extraconjugais do marido fosse o suficiente para que ele não fosse capaz de amar Vanessa, como também, a lealdade e a fidelidade da mulher geraram um ódio supremo.

Na verdade, Marcos, por ser desprovido de afeto e não conseguir jogar Vanessa em outros braços, para justificar suas traições, tornou-se o seu pior algoz. Travando assim, um sofrimento absurdo, até chegar a vingança da separação. Em que, ela jamais saberá o porquê de tanto rancor.

Talvez, se o houvesse traído, seu casamento seria indissolúvel.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O vazio preenchido...

"Como fica forte uma pessoa
quando está segura de ser amada !"
Freud



Cansada, acabo adormecendo e caindo num sono pesado como há tempos não desfrutava. 

Ao despertar lentamente, deparo-me com o semblante apaixonado de Inácio que permanecera velando-me silente em deslumbramento.

Num leve sorriso entremeado com a voz mansa, revigoro-me ao ouvir:
"Como você é linda !" 

Na verdade, a exaustão era devido ao vazio da solidão, agora preenchido com a presença de Inácio, cujas gentilezas e o carinho me trazem a vida novamente.

Não há mais noites frias, dias cinzentos. Apenas, o calor das mãos firmes em total segurança.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Viver o "Aqui e Agora" !

"A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas."

Clarice Lispector

A noite transcorria calma e serena numa sensação de completude. Carlos dorme tranquilo o sono dos justos, depois de me proporcionar bons momentos, dos quais nem imaginava mais que existia.

Assustada com a possível felicidade que chegou repentinamente apertando meu peito, dirijo-me a janela do sétimo andar e posso sentir a brisa fresca que me invade a alma. O mar agitado com ondas frenéticas, até me traz a lembrança de tempos difíceis que marcaram meu íntimo, mas apenas como uma recordação longínqua sem importância agora.

Não há mais pranto, apenas contentamento perdido no riso divertido. Afinal, Carlos é vibrante, bem humorado, inteligente e muito gentil. Se vai durar, não sei. Prefiro viver meu momento Kleiniano do "Aqui e Agora". Portanto, temos pressa !

Ah ! Meu sonho de caminhar à beira-mar ao crepúsculo náutico de mãos dadas, tão almejado no passado negado está em vias de se realizar por completo. Talvez, com entrada do tempo ameno da primavera.

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."  Clarice Lispector

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"O Amor sempre vence !"


"Todo amor é recíproco, mesmo quando não é correspondido...

Eu te amo, mesmo se tu não quiseres” Lacan



Na madrugada, o telefone toca e meu coração dispara, ao outro lado da linha num pranto tão doloroso e compulsivo está Laís que sofre a separação de mais um casamento. Sua dor é tão intensa que posso senti-la em mim, num profundo aperto em meu peito.

Entre soluços desesperados daquele âmago embotado, inutilmente, lanço-me de palavras na tentativa de confortar Laís, apesar de desconsideradas pelo seu estado lancinante de dor diante da perda do seu amado. Mesmo indefesa, consigo ao menos ganhar tempo e mantê-la na linha telefônica, a fim de evitar uma possível tragédia.

Tão sensível e digna de compaixão, àquela mulher vivia um caos psíquico sem forças para enfrentar mais uma dura perda. Em que totalmente entregue, fora capaz de se despir de todos os seus sonhos e planos íntimos para doar-se despretensiosamente ao amor inconsequente de uma paixão fulminante.

E, no dia seguinte, depois do seu adormecer com ajuda dos barbitúricos, cá está Laís maltratada pela ausência de Cesar. Posta na solidão, são nítidas as marcas do abandono. Reicindindo assim, em outra grave depressão capaz de perdurar até sua internação em uma clínica psiquiátrica.

Apesar da frustração, Laís não se deixa amargurar e com pulsos cicatrizados volta à tona, num otimismo utópico de uma sobrevivente do caos lançando a máxima: "O amor sempre vence !".