... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mãe ! Chama meu Pai...



"Assistimos hoje a um acontecimento que talvez não tenha precedente na história, que é a dissolução do grupo familiar. Pela primeira vez a instituição familiar está desaparecendo, e as conseqüências são imprevisíveis. Impressiona-me que os sociólogos e antropólogos não se interessem muito por esse fenômeno. Nesse processo, podemos constatar que o papel de autoridade do pai foi definitivamente demolido. Antes, o menino tinha na figura do pai um rival e um modelo. Um rival que despertava nele o gosto pela competição e um modelo na busca do prazer sexual. Já para a menina, tratava-se de um homem em quem ela procurava se completar. Hoje, com o declínio da figura paterna, nossos jovens podem estar menos propensos a batalhar pelo sucesso, a estabelecer um ideal de vida e até a descobrir o gosto pelo sexo." (Charles Melman, Revista Veja 2008)


Desde que seus pais se separaram, Bruno, vem manifestando comportamento diverso do seu normal. De tranqüilo passou a ser agressivo, de generoso a egoísta, de emotivo a frio e por aí, vão, todas as suas qualidades e virtudes se transformando em defeitos visíveis.

Não somente, a separação dos pais foi o suficiente para modificar Bruno, mas a ausência paterna que retirou seus limites e provocou revolta ao jovem. Um dos maiores termômetros da dor afetiva desse filho está na somatização. Pois, de saudável, agora Bruno, encontra-se doente, já não consegue lidar com as frustrações e os problemas sem adoecer fisicamente.

Quanto mais sente a falta do Pai, vêm uma alergia e, depois uma gripe, enjôos, mal-estar, febre, até chegar a uma pneumonia. Cujas idas ao pronto socorro restaram comuns, numa maneira de demonstrar a dor de sua alma em vão. Eis que, nenhuma das vezes recebeu a visita paterna. Num sinal de descaso e falta de carinho pelo filho.

Vivendo sob a guarda da mãe e tendo o pai como referência mínima, esse jovem começa a desenvolver além, das enfermidades a mais danosa em sua idade, a depressão.

Nada mais o atrai ou satisfaz, não se entusiasma pelo futebol, pelo cinema, saídas com os amigos, ida ao clube e nem mesmo interesses pelas jovens é capaz de atraí-lo à beira de completar sua maioridade. Já não tem preocupação com a aparência, higiene e passa longas horas dormindo. Suas responsabilidades são realizadas com muita dificuldade e, nem mesmo o tocar vespertino de três despertadores é o suficiente para tirá-lo da cama para o colégio.

Os cuidados maternos não foram o suficiente para preencher o abandono paterno de Bruno, cuja angústia o atormenta o peito pela falta. Talvez, se a ausência do genitor fosse pelo luto do falecimento não teria causado tanto dano psíquico. Porém, estar ciente da presença ausente de um pai que ignora as deficiências afetivas do filho, foi o maior dos sofrimentos vivenciado.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Em tudo há prazo de validade...

"Lembrei o Eclesiastes. Que me dirá esse tesouro de sabedoria?
— Todas as coisas têm seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o termo que a cada uma foi prescrito.



Há tempo de nascer e de morrer.
Há tempo de plantar e tempo de colher.
Há tempo de enfermar e tempo de sarar.
Há tempo de chorar e tempo de rir.
Há tempo de destruir e tempo de edificar.
Há tempo de afligir e tempo de se alegrar.
Há tempo de espalhar pedras e tempo de as ajuntar.
Há tempo de guerra e tempo de paz.




Assim fala o Eclesiastes. A cada coisa um tempo: eis tudo. Qual será o tempo desta coisa? Qual será o tempo daquela? Tal é a dúvida, tal é a incerteza.
Destruo agora; quando edificarei? Aflijo-me; quando me hei de alegrar? Semeio; quando hei de colher? Virá o tempo para isso... Quando? Não sei! A certeza é uma: a certeza do presente; a da destruição, a da aflição, a da plantação. O resto — mistério e abismo."

(Machado de Assis, in Felicidade pelo Casamento)

No fundo do baú emocional...


"Não era do homem de cinqüenta anos que eu tinha saudade; não era daquele justo sem justiça, de arrogância desconfiada e rigorosamente mascarada, que rasgara meu coração ao consentir nos crimes (...).



Tudo me dilacerava: aquela miséria, aquela infelicidade, aquela cidade, o mundo, e a vida, e a morte."
(Simone de Beauvoir in A Força das Coisas)

  

Ressuscitada do luto, vagava a leve lembrança de poucos momentos harmoniosos que foram insuficientes ao fiel da balança, aonde a força das coisas pesaram mais intensamente.

Aquele relacionamento não me servia, mas as compensações da casa cheia pela troca de sentimentos da família me bastavam. Foram datas felizes que ficarão sempre no fundo do baú emocional. Em que na bagunça do meu coração resguarda gavetas, a cada membro amado, daquele núcleo conturbado de relacionamento.

Na verdade a ausência daquela união, só se fazia presente nos encontros festivos. Os quais foram capazes de me segurar durante anos a fio, num falso desejo alimentado pelos delírios intermitentes de um dia chegar à Meca da felicidade plena e segura. E, agora, evaporava com a morte do Outro. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Amor... Simples assim...


"Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro." 
C. Jung

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Além, da traição...


“A infidelidade é uma quebra de confiança,    a traição de um relacionamento, o rompimento de um acordo” 

(PITTIMAN, in Mentiras Privadas)


 
De um assunto sobre relacionamentos passados, vem à baila a estória de um dos casamentos desfeitos de João. Atenta ao semblante do desabafo, em que me é exposta a sua dolorosa experiência vivenciada no passado marcante. Escuto estarrecida, não somente por se tratar de um mero deslize extraconjugal, mas sim, da sórdida tríplice combinação Infidelidade - Traição - Deslealdade. Ocorrida entre sua ex-mulher e seu amigo mais íntimo debaixo do próprio teto conjugal, sobre os lençóis cúmplices da cama dividida.

Em plena efervescência do Regime Militar, João e Juliana, membros da Resistência à Ditadura que assolava as liberdades individuais, entram para luta armada e, consequentemente para clandestinidade. Acolheram então, Anselmo, que além de membro da organização em comum era um grande amigo, em seu humilde apartamento de quarto e sala, mais conhecido na linguagem da época por “aparelho”.

Eram tempos difíceis, em que o medo e pânico assombravam aqueles militantes. Mas, a compaixão, o humanismo e o amor sublime pelo semelhante superavam qualquer impedimento. Assim, Anselmo permaneceu no esconderijo ofertado pelo amigo João, aos cuidados da companheira Juliana.

Nas manhãs ensolaradas, Anselmo desfrutava dos banhos de sol na estreita sacada do sétimo andar, obviamente na companhia da mulher do amigo. Enquanto, João em suas atividades e ações, se ausentava na maior parte das horas do dia ou da noite, somente ocupando seu leito conjugal às altas horas.

Exausto, abatido e pálido ignorava que em seu afastamento sua cama era preenchida pelo suposto amigo Anselmo. Até se surpreender com os entre olhares dos amantes.

Não obstante, à decepção dolorosa pela traição da mulher e do amigo, ainda caiu nos porões do Doi-Codi. Eis que, os amantes se abstiveram de qualquer esforço em proteger o companheiro. Bastou o primeiro tapa, no interrogatório da polícia repressiva, para que Anselmo entregasse Juliana e esta, sucessivamente entregasse João.

Na prisão, João amargou a mais profunda solidão sofrida da traição e da deslealdade. Apesar de compreensivo e, até benevolente demais, tenta ainda hoje, justificar a falta de caráter de ambos amantes com a culpa indevida pela sua ausência no leito conjugal.

Indignada, o interrompo e afirmo que não se trata de falta de atenção. Muito pelo contrário, a questão em voga é a ausência de afeto que além, de Imoral é também, Antiética.

Contudo, ele continua: - Talvez, Juliana tenha tido seus motivos. Eu estava tão magro, sem atrativos e estressado que falhei na questão sexual. Daí, ela se viu carente.

Como neurótica que sou, percebo que João não se sente capaz de ser merecedor da felicidade, toda a culpa do mundo é carregada nas costas. Talvez, a teoria Jungiana tenha razão. Pois, João não é o responsável pela traição de Juliana. E, "se apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, deve refletir então, sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente à sua ex-mulher."

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

De repente, a culpa se manifesta por atos irrelevantes...

"É uma ideia tola, que os homens têm. Eles acreditam que eros seja sexo, mas está errado. Eros é relacionamento." Jung


Felipe agora, se recusa a dormir na cama que dormira por anos ao lado de Karina, por quê ?


Nesse leito, Karina encontrou seus orgasmos e no mesmo, foi idealizado o ninho do casal entre murmúrios ofegantes e entrelace das pernas cansadas, gerando o fruto desse amor imaginário, das conversas ao pé do ouvido nas noites insones, das gargalhadas compartilhadas e, ainda das lágrimas após as brigas, das febres enfermas, da espera do outro e do descanso protegido.

Essa alcova tão sublime de um amor perdido, ainda mantém o seu aconchego pela pureza, a segurança da limpeza e o encantamento do perfume adocicado.

Em outras... Felipe, jaz sem garantia pelas fantasias efêmeras voláteis. Logo, se encontra sujo e, por isso não se sente mais digno desse repouso.

Pois, "sua esposa é uma mulher especial, com a qual ele deveria ter uma relação especial" (Jung in Sobre o Amor).