... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 29 de setembro de 2013

Em pleno abandono...


"A vivência do abandono e da rejeição é uma das experiências mais deletérias na vida de um ser humano. Não existe nada pior e mais triste do que não sentir-se merecedor do amor, do carinho e da atenção daqueles que nos trazem a esse mundo. Tanto o abandono físico, como o abandono emocional traduzido pela rejeição do que e de quem somos, marca o ser humano pelo resto de sua vida. Os que "sobrevivem" ao vazio emocional que instalou-se no seu coração, seguem através da vida tentando "compensar" e lidar com sua dor das mais diversas maneiras. Os mais resilientes são melhor sucedidos, ao passo que os psicológicamente mais frágeis, tornam o seu viver uma eterna procura de alguém ou algo que preencha o seu vazio existencial. Imaginem o que é a vida de um ser humano que é rejeitado e "abandonado" não só por sua família, mas por toda uma sociedade, privado dos seus mais elementares direitos de ser humano e de cidadão? Você, que é "privilegiado/a" por usufruir de todas as benesses sociais, tente fazer um exercicio: coloque-se no lugar imaginário daqueles e daquelas que não tem nada ou muito pouco desse minimo necessário para simplesmente existir e viver. Espero que sinta-se extremamente mal, abandonado, rejeitado, motivo de piada, solitário e desrespeitado nos seus direitos mais básicos pelos que se consideram "normais". Você poderá, talvez, vislumbrar de muito longe como se sentem as vitimas do preconceito e do estigma que fustiga a nossa sociedade."

Maria Cristina Martins
Psicologia

"Pessoas do Bem" acreditam mais nos outros...


"Há exceções, mas a regra é que as pessoas 'do bem' tendem a ser menos desconfiadas; e, por isso, são objeto de sucessivos abusos e decepções.

Muitas pessoas do bem acreditam que a maior parte das pessoas são legais: são idealistas, ou seja, gostam mais das ideias do que dos fatos.

As pessoas legais não acreditam que uma boa metade da população não é como elas: insistem em avaliar os outros tomando a si como referência !"

Flavio Gikovate

Não é somente ingenuidade, eis que as pessoas "do bem" são movidas por um senso moral e valor ético em saber lidar com a limitação do Outro. Ser tolerante e compassiva, não é sinônimo de idiota. Tanto que quando decepcionadas ou injustiçadas as pessoas "do bem" são capazes de se estourar em cólera e reagir contra uma pessoa "do mal".

Entretanto, as pessoas "do bem" por saber se colocar no lugar dos outros, vêem as outras pessoas com os mesmo princípios morais e éticos, dos quais espera que os outros tenham. E, mesmo, quando se desiludem com atitudes imorais e anti-éticas das pessoas "do mal", não mudam porque têm consciência de que ser bom é estar inserida na sociedade, em busca de melhorias para todos. 

Acreditar nos outros, não é um defeito, mesmo que possa trazer desilusões. Mas, mudar seria se igualar as pessoas desconfiadas e egoístas. 

Não minta para mim...


"A mentira rompe o vínculo afetivo entre as pessoas, mesmo que de modo inconsciente. Esse é o principal motivo pelo qual nunca se deve mentir para uma criança. A confiabilidade é extremamente importante para que sua base emocional seja construída de forma sólida."

 Sylvia Labrunetti

A morte em vida... A vida em morte.




Mataste-me, mas a vida não findou.
O sofrimento me come, em vida.
A dor me dilacera, a vida.

Do chão frio que me jogaste, tu ainda pisa-me ao ir embora.
Dentre as lágrimas correntes do meu pranto, tu não estais mais aqui para enxugá-las. 
De todos os obstáculos quase intransponíveis que me paralisa, tu não me deste a mão. 
Dos meus pulsos que jorra sangue, tu não estais aqui para estancá-lo.

Deste-me a morte viva para viveres morto !

Claudine Garcy

A morte acalma a alma...


"Já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma
morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma."

Paulo Leminski

Abril despedaçado...

“Ao lado da psicose, definida como a reconstrução de uma realidade alucinatória, e da neurose, resultante de um conflito interno seguido de recalque, a perversão aparece como uma renegação ou um desmentido da castração, com uma fixação na sexualidade infantil”... “a neurose é o negativo da perversão” Freud in "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" Obras Completas



Era abril, início de outono, a estação que amenizava a temperatura do verão. Um ar morno, já adentrava pelas janelas, na praça as folhas mortas caiam num bailar suave a espera do frescor antecipando da nova estação. 

Ela sempre rejuvenescia nos abris de outono. Mas, àquele outono trazia um abril despedaçado, em que lhe arrancara não somente as folhas mortas, como todas as vivas reluzentes. 

Como parasita, uma praga impiedosa havia sugado todas as suas energias, num golpe certeiro. E, assim se foram todas as estações, sangrando a seiva pelas entranhas de seu caule e galhos nus. 

Seca e doente, ela necessitava de trato para florescer novamente. Mas, a praga indestrutível que lhe furtara tudo, continuava cada vez mais forte, perdurando imune aos remédios incapazes de acabar com a parasita.

Nossa frondosa e exuberante árvore de outrora, na verdade era a imagem vista por Lara de si mesma. Sendo agora, mirrada e envergada no espelho, por não suportar a impiedosa Sara que lhe arruinara a vida.

dor profunda mergulhada nas profundezas da existência, levara Lara, dias após dias, em suas reflexões e seus pensamentos incapazes de responder aos questionamentos que a torturavam. Jazia solitária, percorrendo todos os acontecimentos pretéritos, mais que imperfeitos, diante das respostas nunca alcançadas. Inconformada com o fulgurante golpe, ela definhava pela tristeza corrosiva que lhe ardia o peito.

Sem forças sólidas para continuar na dúvida do acaso, Lara paralisava-se em quase todos os meios de seguir adiante, extenuada pela incompreensão dos males acometidos, se alimentava da dualidade angustiante em querer-se sucumbir e a culpa pelo sofrimento alheio de quem fica.


Era escrava de seus próprios princípios, que deliravam em pensamentos pelo temor em causar dor a outrem, sem ser imune a dor desfilada daquela que pouco se importava com o sofrimento dela. Certamente, pensa Sara, ela enlouquecera. Ou até mesmo, na perversidade que lhe é peculiar, pensa: Sempre fora louca, por isso não tem jeito, sofra o quanto puder.  


Não há vida possível, diante da melancolia que a perda brutal e inexplicável a causou. O julgamento sumário, leva-a ao calvário da incerteza e a culpa adquirida, de nem sequer saber o porquê fora condenada.


Assim, são os sentimentos das vítimas dos sociopatas que cruzam seus caminhos e, podem devastar o emocional, a tal ponto de arruinar suas vidas. Como jamais, conseguem se colocar no lugar dos outros, eis que desconhecem completamente o afeto. Não sentem, furtam e roubam sem qualquer parcimônia membros da vítima. E, o mais grave ainda, manipulam os outros afins da vítima destruindo toda e qualquer referência emocional construída. 

Não é à toa, que a própria Lara se vê louca e os outros acreditam na loucura plantada por Sara.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Em memória afetiva...



''Sempre que eu dizia 'adeus', você invadia meus livros, meus filmes de domingo, meus seriados prediletos, meus vestidos, meu pulmão e todo lugar aonde eu pudesse sentir a tua presença. Era como tentar ir à frente e algo absurdamente forte me puxar parar trás. Era como tentar sair de um mar revolto com tuas ondas cada vez mais me levando para o fundo do oceano. E, você sabe, eu não sei nadar.'' Hugo Rodrigues

sábado, 14 de setembro de 2013

Que sufoco é esse que dói a alma ?

“Tenho medo de uma tragédia… não sei dizer qual… Quando me dá esse medo parece que tem algo apertando a minha garganta.”

“Sinto uma coisa aqui dentro de mim… não sei explicar. Algo me sufoca, tenho suores e dificuldade de respirar.”

“Antes de vir aqui, fui parar na Emergência… achei que estava tendo um infarto !”

“De vez em quando tenho uma apreensão no peito, uma expectativa de que pode acontecer uma catástrofe.”

“Sinto muita pressão na cabeça, fico desesperada. Em casa dizem que estou ficando maluca.”

“Tenho um aperto no peito ! Às vezes parece que meu peito vai se abrir.” 

“A cabeça dói. Sinto tonturas.”  

“Isso surge de repente, não consigo entender o porquê.” 



As frases transcritas acima, ouvidas na clínica particular e em atendimentos em uma Emergência Psiquiátrica, indicam a presença inexorável de um sofrimento que invade o corpo do sujeito. A angústia é real. Ela conduz muitas pessoas em momentos de crise a procurar ajuda médica em clínicas e hospitais públicos e particulares quando nada parece poder apaziguá-las. Existe, de fato, uma urgência na angústia e por isso a interrogação da paciente – incrédula – que busca uma cura imediata para algo que invade seu corpo.

Nas situações mais extremas – as crises de angústia –, a impressão que se tem é de que somente a intervenção médica, ou seja, a prescrição de remédios, poderá oferecer um alívio para o sofrimento que urge e desespera o sujeito.

Mas, afinal, o que é a angústia?

Sonia Leite in Angústia 

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Narcisistas patológicos, verdadeiros vampiros de sentimentos...

"Por favor, eu realmente o amo. Se ficarmos juntos nesta, serei totalmente dedicado a você ! Mas cuidado ! Se você me rejeitar, posso perder o controle e desgraçar a sua vida !" 
Zizek in Como Ler Lacan



Assim, se caracterizam os narcistas patológicos. Encantadores, conquistam seus parceiros adquirindo uma personagem que se encaixe aos anseios, muitas vezes se mostram gentis, mas o objetivo não é o desejo do Outro e, sim o seu prazer. 

De contrapartida, exigem amor incondicional dentro das suas "regras" e expectativas. No menor sinal, de que essas regras exigidas são quebradas perdem o afeto e usam táticas de assédio moral para minar a autoestima do Outro. 

Mentirosos e ardilosos, não respeitam os padrões morais e pouco se importam com o sofrimento do Outro.

Ciumentos, exigem a todo instante provas de amor e desconfiam exageradamente de seus parceiros. Além, de os manipularem geralmente sexualmente.

Quando se sentem ameaçados ou entediados, utilizam patologicamente práticas que podem ser desde esportes radicias, consumo desenfreado, drogas, viagens exageradas, promiscuidade e outros comportamentos que lhe deem auto-confiança. 

Normalmente, os seus alvos são parceiros ingênuos e inseguros que suportam seus abusos, mas não conseguem deixá-los. Levando-os a adoecer psiquicamente e se tornarem reféns sentimental.

A exemplo num caso concreto, Paulo se envolveu com Ilana, resultando num relacionamento doentio, sem que ele desse conta das armadilhas da parceira.

Casado, Paulo não resistiu as investidas de Ilana, através das redes sociais, acabando por abandonar sua família. De início a amante, usou de todas as artimanhas para envolvê-lo, principalmente quanto a sexualidade. Apesar, de aparentar conter princípios morais, pouco se importou com o sofrimento causado a família de Paulo.

Ardilosa, o convenceu de que ele era o grande e único amor de sua vida. Se aproveitando das inseguranças e reclamações de Paulo quanto à mulher, traçou a personagem perfeita satisfazendo todos os desejos do amante, o manipulando a sair de casa.

Assim, a vitima tornou-se dependente emocional da amante, mudando completamente seus valores, inclusive se afastando do filho. Paulo não consegue mais pensar por si próprio e é teleguiado totalmente  por Ilana. 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Não cause sofrimento ao Outro...

"A felicidade é um termo muito amplo e genérico e pode ter correlação com muitas ideias.

Por conta disso, as pessoas confundem felicidade com um estado de exaltação, de alegria permanente, de aquisições, festas, passeios, viagem.

Talvez a felicidade tenha mais a ver com serenidade, harmonia, com consciência moral realmente tranquila e certa estabilidade." Flávio Gikovate


Àquele que detém princípios, seja de valor moral em relação aos outros, como ético perante a coletividade, consegue se colocar no lugar do Outro. Sendo assim, por saber que dependendo de sua conduta poderá gerar sofrimento ao Outro, não fará nada que possa prejudicá-lo. 

Sensíveis aos sentimentos alheios evitam práticas imorais, desde traição, deslealdade e desonestidade. Quanto a conduta ética, não furtam e não trapaceiam, prezando desta forma a justiça e respeitado os direitos dos outros.

Causar dor e sofrimento a alguém está fora de cogitação. E, quando não intencionalmente os causam sofrem demasiadamente por remorso, não conseguindo lidar com a culpa.

Entretanto, por outro lado há pessoas que não conseguem se colocar no lugar dos outros. Egoístas e narcisistas se preocupam apenas e tão somente com suas vontades, custe o que custar, até mesmo prejuízos a outrem. 

Mentirosos e exibicionistas não têm limites para investir numa conquista. E, utilizam de toda forma de sedução para atrair o objeto do desejo, sejam comprometidos ou casados. 

Como ignoram a culpa e jamais sentem remorso, não hesitam em destruir famílias. Criar intrigas e competir são apenas mecanismos para tirar vantagens e atingir o objetivo. Mentir é uma característica tão comum que criam subterfúgios para desconstruir a imagem da vitima afetada, assim descaracterizam qualquer possibilidade de culpa que possa existir no Outro desejado.

Ainda, como bem afirma Gikovate, gostam de ostentar felicidade, viagens e seu sucesso profissional sem a menor preocupação em gerar inveja de quem não tem o mesmo padrão de vida. Assim, as pessoas de princípios são alvos fáceis destas insensíveis à dor e ao sofrimento do Outro.

Portanto, nem sempre ser feliz depende de só de você !

O Homem absurdo...

É, esse absurdo em não saber lidar com a perda de si, como bem coloca a autora do texto adiante em seu blog "reflexões e impressões", que o suicídio é pauta tantos estudos e preocupação dos especialistas. Afinal, que circunstâncias podemos prever tal iminência e salvar o suicida ?

Muitos especialistas e comportamento humano, psiquiatras e psicanalistas, pouco conseguem atentar precisamente para o perigo eminente de um paciente a beira do suicídio. Pois, há vários casos sem qualquer sinal evidente, como em alguns é explícito a vontade de morrer e assim, a intervenção é possível em tratamento. 

A depressão é a causa mais comum na maioria dos casos, entretanto a patologia do maníaco-depressivo (Bipolaridade) é extremamente propícia. Surtos psicóticos também, apontam como um fator desencadeante para o suicídio. Mas, a questão central como bem define Camus em "O Mito de Sísifo" é esse Homem Absurdo, em que o sofrimento torna-se tão insuportável diante da vida que a angústia o condena. Pontual, a definição do Mito pela Blogueira mencionada a seguir, na falta de sentido da vida. 

Muitas vezes, o suicídio é apenas uma defesa contra toda dor latente de um futuro incerto e solitário. Sentir-se um nada é perder o sentido. 

Então, como dar sentido à vida, se a vida torna insuportável ? Como lidar com as perdas e sonhos desfeitos ? Por que essa fragilidade em não saber lidar com as intempéries da vida ? Que dor é essa que nos faz desistir de viver ?

São muitas e muitas indagações sem respostas para o cerne do problema, em que a psicanálise e a farmacologia vem tentando impedir esse impulso de que chamo de morte voluntária. Mas, de uma coisa tenho certeza é a compaixão que poderá adiar um potencial suicida ao desfecho final da supressão de todo o sofrimento. 


"Perder-se em Si

“O homem não é nada em si mesmo. Não passa de uma probabilidade infinita. Mas ele é o responsável infinito dessa probabilidade.” Albert Camus

Suicídios me incomodam. Muito. Não apenas pela morte trágica, fora de hora, ou pelo rastro de desgraça e culpa que voa para todos os lados, mas por colar na nossa cara a seguinte realidade: dentro das finitas possibilidades, ceder ao insuportável da vida é, sim, uma opção. Não é natural, mas é humano.

Às favas com quem diz que há na natureza casos de suicídio. Pobre de você que acha graça no mito de que o escorpião, ao ser encurralado em uma roda de fogo, comete suicídio para não morrer agonizando. Estudos de comportamento animal já explicaram que o ferrão que vai por cima da cabeça é uma tentativa de se defender do perigo, não há auto ferroada. Não há "saída honrosa". O animal morre desidratado em poucos minutos em decorrência do calor. Cachorros que param de comer, quando perdem o dono, tampouco procuram o suicídio. Há a depressão, em que se perde a vontade de viver o cotidiano, mas não há a busca da morte com consciência. 

Não há nada de natural em se matar.

Durkhein tratou o suicídio em categorias diferentes e concluiu que suas causas, basicamente, decorrem sempre de contextos sociais. Fez correlações do ato suicida, que é extremamente individual, com a sociedade que o cerca. “Anomia” é o termo que explica o descompasso entre o significado da realidade e a falta de identificação do indivíduo com o mundo. O “eu” à deriva. Mas não há ninguém, em minha opinião, que tenha chegado mais próximo à explicação dessa angustia que Camus, em o Mito de Sísifo.

Quando despertou a ira de Zeus, Sísifo foi condenado, à eternidade, à tarefa de empurrar montanha acima uma grande pedra. Seus esforços são inúteis, pois quando a pedra alcança o topo ela rola pra baixo, fazendo com que se inicie a peleja novamente. Não há sentido algum na tarefa. E por sua vez, nessa alegoria, não há sentido algum na vida.

Para Camus, o homem vive fazendo planos para o amanhã, como se não fosse morrer. Mas a morte chega e o sentido de racionalidade, que pautou a vida, derrete. Ainda segundo ele, em poucos momentos de nossa vida tomamos consciência desse absurdo, e ele é invariavelmente angustiante. Então, como lidar com toda essa falta de sentido?

Para Camus o suicídio não é alternativa. Ele cita a revolta, a liberdade e até a paixão como respostas. Nunca o suicídio. Mas, na prática, é cada vez mais difícil se revoltar, se libertar ou apaixonar quando o “absurdo” deixa de ser intermitente pra se tornar algo permanente. Posso imaginar essa sensação de solidão e de desligamento num mundo onde é cada vez mais evidente a falta de sentido.

Digo que posso imaginar esse sentimento num exercício de compaixão, no sentido etimológico de co-sentimento, descrito por Kundera em A Insustentável Leveza do Ser [1]. Por compaixão, por ser humana, por ter consciência intermitente desse absurdo que é descrito, eu acredito que todos somos capazes de chegar a essa profundidade de angústia, onde há um abismo entre as contradições citadas por Durkheim, por exemplo.

Suicídios me incomodam. Muito. Porque me revolta a ponto de saber que somos capazes de cometê-lo, que a linha para o ato é tênue e, na maioria das vezes, invisível tanto para o suicida como para aqueles que o cercam. E porque, no fundo, bem no fundo, me lembra que tenho um medo maior nessa vida, do que a morte em si: é de me perder em mim mesma, e, por absurdo, não conseguir nunca mais voltar.


[1] “Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra “compaixão” com o prefixo com — e a raiz passio, que originalmente significa “sofrimento”“. Em outras línguas, por exemplo, em tcheco, em polonês, em alemão, em sueco, essa palavra se traduz por um substantivo formado com um prefixo equivalente seguido da palavra “sentimento” (em tcheco: soucit; em polonês: wspol-czucie; em alemão: Mitgefühl; em sueco: med-känsla).

Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio, em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre. Uma outra palavra que tem mais ou menos o mesmo significado: piedade (em inglês pity, em italiano pietà, etc.), sugere mesmo uma espécie de indulgência em relação ao ser que sofre. Ter piedade de uma mulher significa sentir-se mais favorecido do que ela, é inclinar-se, abaixar-se até ela.

É por isso que a palavra compaixão inspira, em geral, desconfiança; designa um sentimento considerado de segunda ordem que não tem muito a ver com o amor. Amar alguém por compaixão não é amar de verdade.

Nas línguas que formam a palavra compaixão não com a raiz “passio: sofrimento”, mas com o substantivo “sentimento”, a palavra é empregada mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que ela designa um sentimento mau ou medíocre. A força secreta de sua etimologia banha a palavra com uma outra luz e lhe dá um sentido mais amplo: ter compaixão (co-sentimento) é poder viver com alguém sua infelicidade, mas é também sentir com esse alguém qualquer outra emoção: alegria, angústia, felicidade, dor. Essa compaixão (no sentido de soucit, wspol-czucie,  Mitgefühl,  med-känsla) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afetiva — a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo.…” Milan Kundera"

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Violência, uma mão de via dupla...

"A violência faz-se passar sempre por uma contra-violência, quer dizer, por uma resposta à violência alheia"  Sartre



Diante da agressão segue a reação. 
Tratas-me mal e dou-te o mesmo tratamento. 
Nesse círculo vicioso a violência se apodera numa queda de braço.
Tua insegurança, mediante o delírio te faz cruel. 
Então, faço-me rancorosa de tuas injustiças em legítima defesa. 

Sofro a dor imperiosa de teus maus-tratos.
Sangro meu coração despedaçado.
Mergulho nas profundezas da solidão.

Mas, tu eis de carregar o peso da culpa.
Que te envergarás a alma penando em remorso.
Pela vida que me roubaste. 


Ingratidão, mecanismo de defesa de quem não sabe lidar com o afeto...

A ingratidão é um sentimento que demonstra a limitação afetiva de quem julga estar em dívida com o Outro. É por isso, que muitas vezes, quando ajudamos alguém em momentos difíceis abrimos um precedente de afastamento de algumas pessoas. 

Por um sentimento defesa, os ingratos não sabem lidar com a solidariedade de quem lhe estendeu a mão. Sentindo-se inferiorizados simbolicamente em relação ao Outro.

Obviamente, não devemos fazer algo por alguém esperando recompensas. Até porque não devemos criar expectativas quanto aos sentimentos alheios. Embora, a ausência de reconhecimento nos traga decepção.  

Talvez, a ingratidão seja a culpa de quem não consegue retribuir a doação de afeto do Outro, ou até mesmo inveja.


"Quero me encontrar, mas não sei onde estou 
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo 
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita 
Tenho quase certeza que eu não sou daqui... 

Estou cansado de bater e ninguém abrir 
Você me deixou sentindo tanto frio 
Não sei mais o que dizer 
Te fiz comida, velei teu sono 
Fui teu amigo, te levei comigo 
E me diz: pra mim o que é que ficou ? 
Me deixa ver como viver é bom 
Não é a vida como está, e sim as coisas como são 
Você não quis tentar me ajudar 
Então, a culpa é de quem ? A culpa é de quem ?... 

Acho que te amava, agora acho que te odeio"

Legião Urbana - Meninos e Meninas
(Renato Russo, Dado Villa-lobos e Marcelo Bonfá)


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Cada dor tem seu tempo...

"Sinto que quem acaba de sofrer uma perda cruel tem o direito de ser deixado em paz. Deveríamos mesmo permitir que se prolongasse esse período de tréguas, ... Aliás, para quem chora, tudo o que possamos dizer não passará de ruídos vãos. O seu 'trabalho de luto' é um processo íntimo que não admite ingerências" Freud in "Correspondências"


Deixe-me em paz...


Era insuportável aquela obrigação de superação... 
Das satisfações e cobranças de felicidade. O simples tocar do telefone, já me angustiava. Fugir era a única forma de me libertar, assim me fiz em exílio. Somente eu, me bastava com a minha solidão.

Da obsessão a insatisfação...

"A necessidade de controlar outras pessoas pode até certo ponto ser explicada por um impulso defletido de controlar partes do self. Quando essas partes foram excessivamente projetadas para dentro de uma outra pessoa, elas só podem ser controladas através do controlar a outra pessoa. Uma raiz dos mecanismos obsessivos pode, então, ser encontrada no tipo particular de identificação que advém dos processos projetivos infantis. Essa conexão pode também lançar alguma luz sobre o elemento obsessivo que tantas vezes entra na tendência à reparação. Pois o sujeito é levado a reparar ou restaurar não apenas um objeto em relação ao qual ele vivencia a culpa, mas também a reparar ou restaurar partes do self." Melanie Klein in Obras Completas

Dr. Alexandre Simões
Naquele comportamento obsessivo em desconfiar dos meus sentimentos, ele me empurrava cada vez mais ao vazio e distanciamento de nós mesmos. Noites sem fim, sua compulsão sexual me atormentava a alma, esfriando meu desejo. A cobrança intermitente com as obrigações impostas em troca de amor levava-me à angústia. Em seus delírios, sua desconfiança fantasiosa sufocava-me os sentimentos. E, quando nada mais o satisfez... Ele se foi. 

O inconsciente está além da compreensão...


















Mães Más ?

"O amor materno é apenas um sentimento humano. E, como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito."  Elizabeth Badinter.



Muitas da mulheres que procriaram escondem a rejeição à maternidade por temer o julgamento social. Assim, encarnam a personagem da mãe inventada, cujos conflitos familiares se dão evidentes.

Algumas causas dessa rejeição, talvez sejam por essas mulheres carregarem no inconsciente o relacionamento fracassado em que os frutos estão presentes em seus filhos. 

Desta forma, a contemporaneidade trouxe à mulher a opção em se desfazer do relacionamento, pelo divórcio e, recomeçar tantos novos relacionamentos, mesmo que não gerem filhos. Assim, algumas vêem seus filhos de relacionamentos passados como entraves para total liberdade. Mais ou menos como os homens viam os filhos quando abandonavam a família e criavam nova união. 

Na maioria dos casos de divórcio, os homens pouco se importam com a anuência dos filhos em relação à nova parceira, enquanto que as mulheres preferem evitar tal tipo de atrito. Optando pelo amor dos filhos. 

Porém, a regra tem sido quebrada por algumas mulheres em decorrência da independência financeira, na qual lhes permite a liberdade de fazer tudo que quiserem, desde avançar na carreira profissional, cultivar novos romances sem a preocupação da aceitação dos filhos. 

Essas mulheres não se apegam à maternidade como o modelo da mãe incondicional que opta pelos filhos. Geralmente são mulheres que colocam o prazer acima dos sentimentos maternos, priorizam galgar postos de promoção profissional; viagens; esportes; vida social e namoros. 

De contrapartida, substituem o afeto inexistente pelos filhos, tanto por mercadorias como presentes, quanto por liberdade sem limites, incentivando-os à estudar no exterior, a praticar esportes radicais e toda forma de se desvincular dos mesmos. 

Portanto, não há porque ceder a imposição da sociedade quanto à maternidade. Já que existe várias maneiras compensatórias da solidão, então por que ser mães ? Conforme, aponta Catherine Serrurier in Elogio às Mães Más.

“A capacidade de amar das mães está longe de ter desaparecido. Mas sem dúvida está escondida ou sufocada por problemas individuais devidos à confusão de valores e à perda de sentido da vida.”

Optar em não ser mãe ou ser livre da maternidade imposta, não há problema algum.  

A dependência do afeto em Mitos ...


"Comumente, as neuroses juvenis são produzidas por um choque entre as forças da realidade e uma atitude infantil insuficiente, caracterizada, em sua causa, por uma dependência anormal de pais reais ou imaginários e, em sua meta, por uma criatividade deficiente, isto é, por propósitos e ambições adequados... Mas existem muitas neuroses que só aparecem na idade madura ou que se agravam de tal forma que os pacientes se tornam incapacitados para o trabalho." Jung

E, o amor aonde fica ?

"O que importa quantos amores você tem se nenhum deles te dá o universo ?" Lacan



Há sempre um vazio a ser preenchido que nunca se preenche. Nada nos basta e jamais nos bastará. Mas, há quem perceba que o amor nada mais é do que se doar, sentir o vazio do Outro e tentar preenchê-lo.

Quando tomamos conhecimento que não precisamos acorrentar o Outro, pois libertá-lo é uma forma de aprisioná-lo. Estaremos livres do medo da solidão.

Relacionamentos são descartáveis pelo afã do prazer da paixão, no mínimo sinal de vazio que vem do âmago procuramos Outro alguém na esperança de completude que não virá. 

Pessoas são expostas como mercadoria como se pudessem atender nossas ansiedades de prazer e, nesse balé do acasalamento que por ora, nos ilude ao fetiche da paixão somos impulsionados a descartar e trocar de parceiros. Sem ao menos perceber o quão é impossível nos bastar com àquela nova mercadoria que também se desgastará, vivenciamos cada vez mais o vácuo da existência. 

E, o amor aonde fica ? O amor esse enigma nunca decifrável está em nossos sentimentos de entender o limite dos Outros em nós mesmos. Sentir o regojizo em um sorriso, a alegria compartilhada em um sonho acalçado, a satisfação num simples código de troca de olhares e de querer sentir em si a felicidade do Outro.  

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Quem somos ?


“Ser um indivíduo significa ser igual a todos no grupo - na verdade, idêntico aos demais. Sob tais circunstâncias, quando a individualidade é um “imperativo universal” e a condição de todos, o único ato que o faria diferente e portanto genuinamente individual seria tentar - de modo desconcertante e surpreendente - não ser um indivíduo.” Zygmunt Bauman in Vida Líquida

Um olhar ao além...

Da sacada ela via um horizonte longínquo, assim como seu inconsciente que vagava pelos labirintos sinuosos dos morros nas quebradas das esquinas. Horas a fio, ela se perdia na janela observando o mundo lá fora. Tudo era tão distante daquela realidade solitária, cujas lembranças estavam marcadas pelo inconsciente atormentado das perdas constantes... 


“Nada na vida psíquica pode se perder. Nada desaparece daquilo que se formou, tudo é conservado... e pode reaparecer...” Sigmund Freud

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Não se angustie por culpa...


"o remorso contém, de forma um pouco alterada, o material sensorial da angústia que opera por trás do sentimento de culpa" 



"o sentimento de culpa nada mais é do que uma variedade topográfica da angústia"  Freud in Mal-Estar na Cultura

Não adie sua felicidade...


Fonte: Recantos da Psiquiatria

Efeitos cerebrais da Depressão...

Estudos indicam como o excesso de conexões pode afetar o cérebro de depressivos


Imagens mostram como o córtex frontal (região em vermelho) de pessoas com depressão (à esquerda) é mais fortemente conectado ao resto do cérebro quando comparado com pessoas saudáveis (à direita). Imagem: Reprodução

É fato conhecido que pessoas com depressão costumam ter problemas de concentração, ansiedade e memória. Agora, como indicou uma matéria publicada na Scientific American, estudos têm ligado esses problemas ao excesso de sinais trocados entre as áreas relacionadas à concentração, humor e pensamento consciente. Em outras palavras, o cérebro de quem tem depressão é mais “conectado” do que o de pessoas saudáveis.

Em um desses estudos, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles usaram imagens de ressonância magnética funcional e eletroencefalografia para medir a atividade cerebral de pacientes deprimidos em repouso. Eles descobriram que, nessas pessoas, rolava uma enxurrada de mensagens neurais entre as áreas corticais límbicas (responsáveis por produzir e processar as emoções). Pessoas saudáveis também apresentam essa conexão, mas não de forma tão ativa (veja a imagem acima). Para os autores do estudo, esses sinais podem amplificar os pensamentos negativos dos deprimidos e agir como um ruído que os impede de prestar atenção às mensagens neurais positivas – aquelas que lhes dizem para seguir em frente.

Outro trabalho, feito pelo psiquiatra Shuqiao Yao da Central South University, na China, e publicado em abril na Biological Psychiatry, também revelou que pessoas propensas a ficarem repetindo continuamente pensamentos negativos apresentam conexões mais fortes entre certos circuitos córtico-límbicos. Por outro lado, menor conectividade em outros desses circuitos corresponde à perda de memória autobiográfica, que é outra coisa comum na depressão.

Por fim, um estudo publicado também este ano na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, trouxe outro achado importante nesse sentido: a terapia eletroconvulsiva, (antes conhecida como terapia de choque) realmente alivia os sintomas da depressão e diminui as conexões na região cerebral onde os sistemas cortical e límbico se cruzam. Mais uma prova dessa relação.

Ainda não se sabe com certeza se a hiperconectividade entre essas áreas cerebrais é causa ou efeito da depressão. Mas tudo indica que esse pode ser um bom alvo para o desenvolvimento de novas drogas e tratamentos.

Fonte: Ana Carolina Prado - Revista Super Interessante