... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 18 de janeiro de 2015

"A felicidade é só está em paz consigo mesmo, olharmos para nós e recordar que não fizemos muito mal aos outros." José Saramago



Eu estava feliz, mesmo solitária, desempregada, acima do peso, envelhecida, mas vivendo dignamente. Pois, a minha essência aos poucos era restabelecida. Algumas pessoas me amavam, outras eu as amava mesmo sem ser correspondida. Mas, aprendi a entender os limites de cada um e sabia que minhas virtudes eram acima dos meus defeitos.

Obviamente, minha auto-estima ainda estava em processo de recuperação, depois da separação. Principalmente, quando a ruptura é dada pela rejeição. Porém, não guardava mais mágoas e tinha apenas carinho pelas lembranças dos bons momentos felizes que desfrutei daquela união. 

Aproveitei e me dei alta da análise por não querer mais reviver meus fracassos nas sessões que me faziam lembrar das dores. Preenchi meus espaços com várias atividades na busca do esquecimento. Comecei a cuidar da casa e decorá-la do meu jeito, assim aproveitei para receber as pessoas queridas. 

De repente, surgiram novas amizades, convites de passeios, pequenas viagens aos finais de semana na casa de amigos e comecei a viver uma nova vida social, apesar da estreita condição econômica. Passei a frequentar eventos e reuniões culturais gratuitos.

A meditação, a arte e a literatura me ajudou também, na luta contra o medo da solidão. Assim, com o apoio dos amigos que muitas das vezes, fui socorrida nas crises de extrema tristeza, nos desabafos. 

No balanço, eu era muito mais amada do que tinha idéia e era bem recebida nos grupos sociais que firmei. Na verdade, poucos foram os desafetos que me deparei pela vida. E, no fundo tinha compaixão daqueles que não conseguiram me amar. 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
















É o braço que arde
O peito que queima
A cicatriz que dói.

É o temor que assusta
A solidão que se tem
O desamparo que vem.

É a tristeza que está
A mágoa que não passa
O filho que se compra.

Assim, foi o mais profundo vazio
Em que a morte liberta
Do sofrimento que não se aguenta.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

"Tem gente que machuca os outros. Tem gente que não sabe amar." Renato Russo



Ele egoísta, se foi sem ao menos ter remorso do que fez... Ela deslumbrada, publica os registros como um troféu para me humilhar e não cessa em mandar recados do quanto são felizes às custas da minha dor.

Ele que pouco se importa com a dor alheia que causou porque é individualista e somente se preocupa com seu desejo, mesmo que machuque os outros. Ignora totalmente os sentimentos alheios porque não sabe se colocar no lugar do outro. E, os relacionamentos não comportam individualismo, eis que há um contrato oculto de convivência com regras claras, das quais ele sempre viola.

Mas, ela que sabe que causa dor à alguém, mesmo assim, persiste porque sente prazer em maltratar os outros. É perversa e tripudia os sentimentos alheios de quem sofre. Pois, precisa explicitar por capricho sua maldade. Porém, esquece que ele não sabe amar e fará com ela o que é da sua natureza.

A Mulher sobrevivente...

"O maior obstáculo para eu ir adiante: eu mesma. Tenho sido a maior dificuldade no meu caminho. É com enorme esforço que consigo me sobrepor a mim mesma." Clarice Lispector





Eu precisava me reinventar e sobreviver à todos os meus fracassos. Não bastava mais seguir adiante, eu precisava reconstruir minha auto-estima e começar do zero de cabeça erguida. Pois, a minha dignidade ainda estava lá, bastava eu me conscientizar que somente eu poderia me reerguer sozinha.

Não importava mais, os anos perdidos dedicados à alguém me traíra e me abandonara sem a menor parcimônia. Tirando-me tudo que construí por anos a finco. Não tinha mais como voltar atrás e me defender das vicissitudes da vida. 

Agora, somente restava à mim mesma juntar os cacos, curar as feridas e estancar àquele sofrimento. Entretanto, o temor do desamparado era inevitável para quem tanto perdeu e adoeceu de tanta dor. 

Ainda, tinha que enfrentar as humilhações e as provocações de quem me tirou tudo e circulava livremente pelos meus espaços publicitando sua vitória, diante da minha derrota.

E, o que sinto é uma extrema admiração por mim mesma que apesar de tudo que sofri sempre mantive minha ética, diante da minha vida e da vida dos outros. Sem sequer magoar à ninguém pelos erros e acertos cometidos.


domingo, 4 de janeiro de 2015

A Família repartida...



Não há mais olho-no-olho, cumplicidade ou gratidão. Nem eu mesma posso detalhar a aparência de José, pois também o olhei e não o vi plenamente. Talvez, com a minha mania de receptividade, como não o senti me ver, não o vi. Assim como, Zezinho, também não o viu, comprovando a ausência de sentimentos válidos que abarca uma família divorciada com sentimentos a resolver. 

Mesmo com a prescrição das mágoas, num perdão de sobrevivência, sempre dou a chance de reconstruirmos a paz, afinal viver remoendo sentimentos dolorosos além de me exaurir a alma traz sofrimento à todos. Já que somos uma família, não há como escapar do amor incondicional. 

Então, me solidarizo com a união de todos no Natal e tento fazer as aproximações. Mas, por mais que eu me empenhe, nada faz com que nos tornemos unidos. Já não tenho o poder de impedir as interferências externas que deterioram nosso momento. 

Assim, nosso almoço mal começou e, vem a mensagem indesejada da atual mulher de José se fazendo presente, aonde não lhe cabe lugar. Pela simples representação bélica de tê-lo como propriedade privada.

A casa estava perfumada pelo aroma das flores e colorida pelos presentes ofertados, a mesa enfeitada e a ceia servida com esmero, embora sem a contribuição coletiva de todos. Desta vez, não houve críticas e mecanicamente nos alimentamos sem esboçar qualquer reação válida ao contexto de nosso encontro. 

Não há como nos sentirmos como antes, quando éramos um conjunto. Agora, somos cerimoniosos uns com os outros. E, ninguém mais participa nas simples tarefas de servir à mesa. Coube-me sozinha até trazer as travessas quentes do forno que antes era de José. Zezinho até tentou expressar seu agradecimento com um gracejo, mas em diferentes proporções. Senti em seu abraço um pulsar suplicante de um coração doloroso e ressentido. Já no semi-abraço do Pai foi protocolar por compaixão.


Fidelidade ou Lealdade ?... Por Ivan Martins.

A gente se preocupa demais com uma e esquece da outra, que talvez seja mais importante.



Nos últimos dias, ando apaixonado pela palavra “lealdade”. Deve ser por causa de um livro que estou terminando, um romance sobre antigos amigos e amantes que voltam a se encontrar e precisavam acertar suas diferenças. Eles já não se gostam, mas confiam um no outro. Eles deixaram de se amar, mas ainda se protegem mutuamente. Isso é lealdade, em uma de suas formas mais bonitas. Lealdade ao que fomos e sentimos.

Ao ler o romance, me ocorreu que amar é fácil. Tão fácil que pode ser inevitável. A gente ama quem não merece, ama quem não quer nosso amor, ama a despeito de nós mesmos. Tem a ver com hormônios, aparência e sensações que não somos capazes de controlar. A lealdade não. Ela não é espontânea e nem barata. Resulta de uma decisão consciente e pode custar caro. Ela é uma forma de nobreza e tem a ver com sacrifício. Não é uma obrigação, é uma escolha que mistura, necessariamente, ideias e sentimentos. Na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós.

Antes que se crie a confusão, diferenciemos: lealdade não é o mesmo que fidelidade, embora às vezes elas se confundam. Ser fiel significa, basicamente não enganar sexual ou emocionalmente o seu parceiro. É um preceito, uma regra que se cumpre ou não se cumpre, uma espécie de obrigação. O custo da fidelidade é relativamente baixo: você perde oportunidades românticas e sexuais. Não tem a ver, necessariamente, com sentimentos. Você pode desprezar uma pessoa e ser fiel a ela por medo, coerência, falta de jeito ou de oportunidade. Assim como pode amar alguém perdidamente e ser infiel. Acontece todos os dias.

Lealdade é outra coisa. Ela vai mais fundo que a mera fidelidade. Supõe compromisso, conexão, cuidado. Implica entender o outro e respeitá-lo no que é essencial para ele - e pode não ser o sexo. Às vezes o outro precisa de cumplicidade intelectual, apoio prático, simples carinho. Outras vezes, a lealdade requer sacrifícios maiores.

A primeira vez que deparei com a lealdade no cinema foi num filme popular de 1974, Terremoto. No final do drama-catástrofe, o personagem principal – um cinquentão rico, heroico e boa pinta – tem de escolher entre tentar salvar a mulher com quem vivia desde a juventude, com risco da sua própria vida, ou safar-se do desastre com a jovem amante. Ele escolhe salvar a velha companheira e morre com ela. Parece apenas um dramalhão exagerado, mas desde Shakespeare o drama ocidental está repleto de escolhas desse tipo. É assim que nos metem conceitos elevados na cabeça. Vi esse filme com 16 e 17 anos e nunca mais deixei de pensar na lealdade em termos drásticos.
        
A lealdade está amparada em valores, não apenas em sentimentos. É fácil cuidar de alguém quando se está apaixonado. Mais fácil que respirar, na verdade. Mas o que se faz quando os sentimentos desaparecem – somem com eles todas as responsabilidades em relação ao outro? Sim, ao menos que as pessoas sejam movidas por algo mais que a mera atração. Se não partilham nada além do desejo, nada resta depois do romance. Mas, se houver cumplicidades maiores, então se manifesta a lealdade. Ela dura mais do que os sentimentos eróticos porque se estende além deles.

O romantismo, embora a gente não o veja sempre assim, é uma forma exacerbada de egoísmo. Meu amor, minha paixão, minha vida. Minha família, inclusive. Tem a ver com desejo, posse e exclusividade, que tornam a infidelidade insuportável, a perda intolerável. As pessoas matam por isso todos os dias. Porque amam. É um sentimento que não exige elevação moral e pode colocar à mostra o pior de nós mesmos, embora pareça apenas lindo.
Minha impressão é que o mundo anda precisado de lealdade. Estamos obcecados pela ideia da fidelidade porque a infidelidade nos machuca. Sofremos exacerbadamente porque o mundo, o nosso mundo, não contém nada além de nós mesmos, com nossos sentimentos e necessidades. Quando algo falha em nossa intimidade, desabamos.

Talvez devêssemos pensar de forma mais generosa. Talvez precisemos nos apaixonar por ideias, nos ligar por compromissos, cultivar sonhos e aspirações que estejam além dos nossos interesses pessoais. Correr riscos maiores que o de ser traído ou demitido. O idealismo, que tem sido uma força de mudança na conduta humana, precisa ser resgatado. Não apenas para salvar o planeta e a sociedade, mas para nos dar, pessoalmente, alguma forma de esperança. A fidelidade nos leva até a esquina. A lealdade talvez nos conduza mais longe, bem mais longe.


Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/07/fidelidade-ou-blealdadeb.html