... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O vazio da adolescência pela ausência Paterna...

"Na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa autoridade de qualquer espécie é tão imperativa que seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada" Freud


Estudos apontam que nas separações entre casais com filhos adolescentes, a ausência do Pai ou sua pseudo-presença não-participativa, na maioria das vezes provoca comportamento anti-social, angústia, baixo rendimento escolar e envolvimentos com álcool e com drogas. Principalmente, se antes da ruptura conjugal a função paterna desempenhava seu papel psicopedagógica, com cuidados e proteção na criação da criança que se tornou adolescente. 

O vazio emocional deixado pelo abandono paterno, em que não há mais a participação presente na vida do adolescente, cujas transformações vão desde a esfera hormonal como psicológica, traz uma angústia no sentido da perda da autoridade, pela noção de não serem mais amados pelo genitor causando uma grande desvalorização de si mesmos.

Não obstante, a essa auto-desvalorização, ocorrem os sentimentos de culpa por haver provocado a separação dos pais ou por não ter conseguido impedir o abandono paterno do lar conjugal. O adolescente acredita não ser amado por ter sido deixado. Piorando ainda mais a situação, quando o genitor se relaciona afetivamente com outra pessoa excluindo do seu convívio o adolescente. 

Tal abandono, é causador de diversas reações, que vão desde tristeza e angústia, dor e melancolia até agressividade e violência. Consequentemente, os adolescentes mais tímidos se fecham em si mesmos, dificultando maior interação com o mundo externo; enquanto que os mais extrovertidos se tornam vingativos com condutas anti-sociais.

A Dra. MARIAGRAZIA MARINI, aponta em seu texto Divórcio e Vivência dos Filhos, algumas considerações, a seguir: 

"O adolescente embora mais consciente do que se passa, pode sentir falta dos pais na formação da identidade, apresentar dificuldade em aceitar a situação imposta, questionar a autoridade e como consequência apresentar uma rebeldia excessiva, dificuldade em aceitar regras e limites, dificuldade de aprendizagem e baixo rendimento escolar.

O adolescente obrigado a amadurecer mais rapidamente, poderá apresentar problemas de desajuste psicológico e social. Poderá sentir-se diferente do grupo e por consequência ter tendência a isolar-se e adotar uma atitude reservada e distante e com o controlo excessivo de si mesmo. A sua intenção é ocultar sentimentos de vergonha, neutralizar a ansiedade e sondar os limites da nova situação familiar.

O adolescente reage ao divórcio muitas vezes com depressão, raiva intensa ou com comportamentos rebeldes e desorganizados. Poderá questionar a autoridade e ser levado a experimentar as drogas e o álcool. Estudos revelam que entre os adolescentes de pais separados pode haver uma certa precocidade no comportamento sexual, como meio de encontrarem uma companhia.

Há também adolescentes que conseguem viver a experiência de uma forma mais tranquila e embora tristes passam pela separação dos pais de uma forma equilibrada."

Uma das formas para amenizar todo o sofrimento dos adolescentes que passam pela separação dos pais, é ficar atento as mudanças de comportamento e optar pela terapia psicanalítica para valorização do ego. E, obviamente, maior presença efetiva paterna.  

Por conseguinte, a tendência deste vazio afetivo que se abre com a ausência do pai pode gerar perda de autoridade, com consequências de sequelas na formação de psicopatologias até de delinquência. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Antes só...

A doce e delicada Sílvia, na expectativa de viajar com o namorado, reservou hotel, comprou as passagens e passou a semana na expectativa das férias inventadas com seu amor. Mas, não conseguiu mais uma vez a tão esperada viagem. 

E ela lhe disse: Não se preocupe meu amor, sei das suas limitações e as compreendo. Vou viajar triste pela sua ausência, mas sentirei muitas saudades... Te amo.


Desiludida e insatisfeita por não conseguir convencê-lo, desabafa: No início achei que era mesquinharia, mas agora vejo que ele não gosta de aventuras, nem de desfrutar as maravilhas das viagens. Não quer ir, paciência. Vou só, mas não evitarei companhias que queiram dividir meu leito. Não sou mulher de ser rejeitada, dou-me a quem quiser. 



Assim, ela se foi saltitante e feliz. Sílvia detestava a solidão e estava sempre precisando de pessoas para preencher seu espaço vazio. Talvez, se ela tivesse se familiarizado com a filosofia existencialista, teria entendido o pensamento de Sartre. 

"Se você sente solidão quando a sós, está em má companhia."


Apenas... Anita !

Não me julgue pelo que não sou. 
Não vou fingir quem não sou.
Não me julgarás, jamais.




Julgue-me pelo que sou.
Ser-te-ei fiel e leal.
Se irás me condenar ao abandono.
Adeus !

Liberte-se da pessoa tóxica que manipula...

“A pessoa manipuladora é, antes de tudo, invisível. Com algumas exceções, o(a) manipulador(a) não tem consciência de suas atitudes devastadoras. O egocentrismo dele(a) é tão forte que é incapaz de perceber o que os outros sentem. Aqueles que são conscientes e não querem mudar, beiram a perversidade.” Isabelle Nazare-Aga



Ao darmos conta que alguém irá sofrer diante de algum ato ou objetivo, recuamos...

Assim, são as pessoas que valorizam os afetos e respeitam a dor do outro.

Até mesmo, na ação inconsciente do improviso...

Quando nos deparamos com o sofrimento alheio, por remorso, recuamos. 


Assim é, mesmo, num ímpeto de uma paixão...

Não podemos causar a dor ao outro, e, recuamos. 


Seguir adiante, beira não somente o egoísmo...

Como a perversidade. 

Se não gostas de sofrer...

Não provoque sofrimento ao outro. 

Caso permaneça...

Mesmo, consciente das consequências do sofrimento causado, 

És um monstro.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Entre a Cruz e a Espada...

"Meu marido me deixou (...).
Então, doutor, esse tormento foi constante até eu não suportar mais, não aguentei essa mesquinharia e aceitei o convite de trabalho (...). Lógico que meu marido foi contra, mas me impus e fui a contragosto dele. (...), porém, optei por não depender mais do dinheiro do meu marido" (Mulheres em Aflição - Paulo Miguel Velasco)




Era difícil depender financeiramente dele para tudo. Sempre obrigada a dar satisfações sobre as necessidades que precisava, o olhar recriminador sobre as compras, as viagens nunca realizadas e a ladainha de que não havia dinheiro. 

Logo que me casei, tinha um cargo no serviço público com um salário bem defasado. Então, diante das argumentações dele, optamos em conjunto pela minha exoneração. Assim, eu podia exercer meu trabalho como profissional liberal, eis que havia a flexibilidade de horários entre as obrigações da casa e do trabalho. Mas, o início da carreira era muito difícil até formar uma boa clientela. Depois, veio os filhos e a dificuldade era ainda maior.

As mulheres casadas, com filhos que mantêm uma atividade profissional precisam se desdobrar em função da dupla jornada, quiçá tripla contando com a atenção conjugal. E, inevitavelmente, se culpam duplamente pela ausência na atenção à família e, pela atenção à família na ausência ao trabalho. Comigo, não foi diferente.

Além, dos compromissos profissionais, existiam as doenças, as cobranças de atenção e, a indagação perversa do marido: "O que você tanto faz naquele escritório que não possa fazer em casa ?"

Nos arrumamos para estar apresentável ao trabalho como uma profissional, desde roupas adequadas com sapatos de salto, unhas e cabelos feitos e maquiagem de acordo. Na folga optamos pelas roupas despojadas e a falta de vaidade é inevitável.

O cansaço físico do dia de trabalho acrescido da preocupação daquele trabalho por entregar ou os horários inevitáveis dos compromissos do dia seguinte, muitas vezes nos levam a cumprir a atenção sexual por obrigação. 

Quantas vezes, ouvi cobranças e vivenciei o mal-humor do meu marido pela necessidade da satisfação sexual, quando não culminava em brigas nas madrugadas em pleno ato. Com o relógio ali, na cabeceira da cama, a me sentenciar das responsabilidades seguintes em poucas horas depois. 

Com os anos atingi minha independência financeira, obviamente dentro de um padrão de vida mais elevado por conta da nossa participação econômica em conjunto. Portanto, aos 40 anos, com filhos já crescidos, tinha estabilidade financeira e um casamento durável que resistiu as dificuldades e agregava realizações. 

Entretanto, a falta de atenção por conta da rotina profissional e a ausência daquelas viagens almejadas levou-nos a monotonia. E, apesar de não depender mais financeiramente do marido, estava sendo deixada por ele. Agora, dependia dele emocionalmente, caindo em profunda insatisfação e percebendo que autonomia não converge com homens machistas.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Ciúme...


"Muitos dizem que se não existe ciúme, não existe amor. Este argumento é útil e conveniente para os ciumentos, mas não é verdadeiro. O ciúme não é proveniente dos sentimentos de amor e proteção, mas dos sentimentos de posse e insegurança.

O sentimento de posse revela que estamos tratando o outro mais como objeto que como ser humano. A insegurança e o medo de perder o outro revelam que, de alguma forma, acreditamos que o outro esteja iludido conosco e que alguém mais especial pode libertá-lo desta ilusão.

Em muitos casos isto ocorre inconscientemente, a pessoa reage de maneira ciumenta e sequer compreende as causas que a levam a agir assim. É desagradável saber destas verdades. O ciúme é muito frequente na vida de muitas pessoas, mas é necessário enfrentar esta realidade para que possamos crescer e deixar que o outro também cresça.

O antídoto para este comportamento é o próprio amor. O amor que trata o outro como alguém que livremente quer estar conosco e que, longe de tratá-lo como posse, trata-o como um maravilhoso presente vivo da vida, cuja existência só se mantém se for alimentada pelo convívio com outras pessoas e se puder respirar o ar puro da liberdade.

O amor não permite algemas ! A conexão do amor é feita de respeito e confiança !"

Carlos Hilsdorf.

Não é que sejamos insensíveis diante da iminência de um perigo da perda do interesse do Outro. Mas, se o escolhemos e assim, somos escolhidos para uma parceria amorosa temos que creditar confiança e segurança na relação. 

Muitos possuidores do sentimento de ciúme, além de ser desconfiados demasiadamente sem motivos, apenas pela insegurança, consegue com isso afastar o verdadeiro amor. Eis que, ao julgarmos preteridos magoamos e injuriamos a quem amamos. Aqui temos alguns episódio esporádicos, mas que podem minar nossa cumplicidade e companheirismo, levando muitas vezes ao Outro, omitir fatos e mentir situações sem importância.

Entretanto, há os ciumentos disfarçados ou narcisistas, cuja idéia fixa nos surpreende com todas as argumentações, levando-nos à indução errônea de prova de amor. Mas, que na verdade apenas demonstra que o tal ciumento é o desleal, sabendo exatamente todos os subterfúgios de uma desconfiança porque ele mesmo pratica a traição. 

Muitas mulheres, causam constrangimento por seu ciúme e levam a crer seu profundo amor pelo parceiro. Mas, são as mesmas que investigam e se convencem de uma possível traição. Desta forma, por rancor e vingança costumam trair seus parceiros com a desculpa de serem traídas também. Quando na verdade, por uma baixa estima criam desculpas para o que elas mesmas têm vontade de fazer e tampouco, conseguem se manter únicas naquela relação. Com isso, precisam se sentir desejadas. 

Pessoas seguras, não traem !

Intensa transparência...


Sou intensa mesmo, transparente em minhas emoções, amo hoje e desgosto amanhã, depois amo novamente. Mas, depende de você que se souber me valorizar me terá apaixonada e plena em seus braços. 

Esfuziante e sensual arrebato desejos, minha alegria encanta multidões, mas sou a mais fiel das minhas escolhas, jamais traio meu par. Portanto, se acalme se estás comigo, eis-me leal e conservadora.

Não minto, falo tudo e não meço palavras quando estou irritada, jamais provoque-me injustiça e injúrias. Sou capaz de cóleras impulsivas que fogem a compreensão. Depois, passa e não guardo nada.

Meu coração é grande que sempre cabe todos os amigos, por mais que vislumbre ciúmes, não me digas, reflita. Sou popular e me doo a quem precisar. Mas, se estás comigo, és único. 

Se não acreditas, prefere as mansas e pacíficas, cuidado. Nunca terás a segurança que terias comigo. Padecerá em seu sossego inventado, assim como jamais terás a paz genuína de amor legítimo. 

Pois, sou o que sou e... 


"Minhas Paixões são Ardentes;

Minhas dores de cotovelo, de querer morrer;

Louca do tipo Desvairada;

Briguenta de tô de mal pra sempre;

Durmo treze horas seguidas;

Meus Amigos são Semi-irmãos;

Meus Amores são sempre Eternos e meus Dramas,

Mexicanos !"

Clarisse Lispector



Um jantar solitário...



"É assim que será preciso viver, talvez ainda com felicidade e momentos de alegria, mas com o peso da ameaça, a vida colocada entre parênteses. [...] De toda maneira, eu oscilava como ele entre o temor e a esperança. Meu silêncio não nos separou. Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é: já é belo que nossas vidas tenham podido harmonizar-se por tanto tempo." Simone de Beauvoir in A Cerimônia do Adeus

O apartamento era pequeno e mal conseguia abrigar todas as nossas lembranças que adquirimos anos e anos. Muitas coisas foram doadas à amigos, na minha esperança inútil de um dia reavê-las, tal qual nos pertencia. Cartas e documentos eram remexidos com a dor da perda, a cama que guardava nossas noites ficara grande demais atravancando o quarto, a sala agora minúscula não podia receber nosso mobiliário que anos reunimos a família em torno da mesa de jantar, nem os sofás que deitávamos para assistir nossos filmes podia entrar, o aparelho de som estava mudo e jamais tocaria as tantas canções que alegraram o antigo apartamento, ninguém do passado de outrora caberia agora na minha solitária moradia. 

Dei a sala cores berrantes em contraste com a antiga decorada em tom pastel que era bem alegre. Aproveitei a pequena varanda para fazer meu refúgio e coloquei duas cadeiras na esperança de um dia ele se sentar, embora seja mais do que improvável seu retorno. Ali, fiz um mini jardim com flores e ervas para tempero. Embora, esteja custando a pegar tais mudas, recusando-se inconscientemente renascer. Aproveito o espaço e faço minha pequenas refeições lembrando de um tempo em que fomos muito felizes, com jantares nos verões calorosos regados a bebida em harmonia com o menu. É nostálgico demais, lembrar das noites em que saíamos para furtar pequenas mudas para o nosso jardim de antes, em que todas as flores e plantas cresciam sem esforços. Talvez, fosse nosso estado de espírito que as alimentassem, o mesmo estado mágico inebriado de paixão que semeamos o meu ventre. 

O amor ora intenso, as vezes se castigava pela minha omissão em desvendar sua clandestinidade. A ameaça de findar-se me angustiava, por isso cedia tanto e remoía sua falta de compromisso. As estórias inventadas para escapar do laço afetivo se reduziu em nó. Mas, quando resolvi afrouxar o nó que por vezes me sufocava, ele arrebentou. Já não havia mais a elasticidade dos sentimentos amorosos. Reduziu-se em separação, deixando-me aturdida pela falta que enlaçara outra estória. 

Restou-me, o jantar sozinha, na mesinha unitária da varanda de lembranças, com uma taça cheia e outra vazia, no silêncio ensurdecedor do nada. Não há mais música e nem diálogo, o jardim murchou e existe somente lágrimas a temperar a comida insossa.