... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A dor do abandono...

"Já não é mágico o mundo. Você foi deixado."    Jorge Luis Borges


Além da dor do abandono, mulheres se preocupam com o sofrimento dos filhos pela quebra familiar na separação. É como se não pudessem ter o direito de sentir essa dor porque há uma fragilidade muito maior na situação dos filhos. Assim, mesmo vítimas da falência conjugal com a dor da perda do outro desejado, não podem sentir tal dor sem a culpa de ter outros mais sensíveis à separação. O desamparo emocional do fracasso em manter o relacionamento traz ainda, uma carga de manter-se inteira para segurar a estrutura psico-emocional dos filhos.


Sentir desamparada emocionalmente e, ainda ter que representar uma força da qual não tem no atual momento do abandono, a fim de segurar toda dor dos filhos a faz sentir com baixa da auto-estima e culpada. 

Muitas vezes, a saída do pai do lar é traumática por conta da troca de afeto da mãe por outra mulher e, mais ainda quando o pai estabelece um distanciamento dos filhos para evitar que atrapalhe seu novo relacionamento. Até mesmo, porque seu envolvimento apaixonado não dá espaço para o convívio dos filhos. Esse egoísmo natural dos homens por conta do encantamento da nova paixão, não lhes permite conciliar as responsabilidades afetivas com família abandonada. Pois, não somente a mulher sente-se desamparada pela perda e isso se estende aos filhos, sobrecarregando a mulher fragilizada pela separação numa forma subterrânea de vingança. Como se o recado fosse, "você não foi capaz de me segurar no casamento, me obrigando ir procurar outra. Agora, aguenta. Fique com os filhos já que não tenho mais amor por você. Eles vão preencher o vazio deixado pela sua incompetência em me manter na família. Então, tampouco terei a obrigação de estar com seus filhos interferindo em minha nova vida amorosa"Contudo, parece que os filhos não têm mais lugar na vida daquele pai que suas presenças o remetem a lembranças daquele relacionamento odiado e frustrado. Transferindo assim, todo o desamor pela mulher para os filhos também que representam o casamento.

Para o homem que abandona a mulher e os filhos, não há culpa, eis que a culpa é lançada à mulher numa espécie de incapacidade emocional de permanecer o afeto. O sofrimento também, vivido pelos filhos diante da perda dos laços paterno é uma crueldade. Por isso, os pais que se separam não devem obrigá-los a tomar partido. Pois, o importante é ambos conversarem com os filhos sobre a separação, assumindo seus erros e jamais, mentindo, porque os filhos não podem suportar toda a carga da separação dos pais, se houver segredos não revelados.

O Outro sem rosto...

"O tempo passou e a mágoa, também. Agora, não vejo mais seu rosto. Não há nada que me faça enxergar a sua face. A imagem de antes não existe mais. Toda imagem daquele belo rosto sumiu. E, está representada como uma obra de Magritte...


Desconstruí sua imagem mesmo depois de muito tempo juntos dividindo uma vida, por não suportar a angústia de tanta dor, diante da impotência de lidar com todo o sofrimento causado. Assim, como um ato de defesa, apaguei a imagem que um dia me encantou. "

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O limite entre a insegurança e a auto-estima...

Carlos era um sujeito elegante, bonito, alto, com inteligência e humor destacados, sedutor e muito ousado, o que o tornava bastante desejável entre mulheres e homens. Tanto que em reuniões sociais, logo tornava-se o centro das atenções. Debatia qualquer assunto, com uma propriedade peculiar que o destacava dos demais. 

Entretanto, para esconder sua insegurança era arrogante e pernóstico para disfarçar seu problema maníaco com a auto-estima, o que ocasionava uma desconfiança exagerada e um ciúme patológico capaz de desequilibrar qualquer relacionamento genuíno. 

Desta forma, para se defender da angústia paranóica da rejeição, seduzia e colecionava relacionamentos sexuais clandestinos para satisfazer sua compulsão. Enquanto, mantinha um casamento  com uma mulher jovem, bonita, atraente e apaixonada, cujo objetivo era na verdade acrescentar a posse diante de um falso triunfo exibicionista para os outros. 

Com a crise da meia idade, a mania se refletiu em sintomas de irritação, desconfiança, delírios, auto-depreciação, se intensificando à necessidade do desejo reprimido de se sentir amado e correspondido. Assim, veio a elação, através de Mônica que satisfazia àquele desejo reprimido e não gerava perigo, ainda. 



"... o ciúmes se enquadram no âmbito de uma relação triangular. Que essa problemática há três elementos em jogo: ele, sua amada e "o outro", e que o medo que o ciumento tem é que a pessoa que ele ama dê a esse "outro" (que costuma ir mudando com o tempo) o que só deveria dar a ele. E por que vai dá-lo a outro ? Aí se impõe, inconscientemente, o seguinte raciocínio: se dá a outro, é porque o ama mais que a ele. E o ama mais porque, com certeza, o outro é melhor e mais valioso." (Gabriel Rolón in Histórias de Divã)

domingo, 11 de novembro de 2012

Transferência...



Em pleno tratamento de uma depressão que já vão há mais de dois anos, sempre existe um motivo para me impedir de ir ao consultório da Dra. Iná. Mesmo assim, nunca faltei sequer uma sessão, aos trancos e barrancos me arrasto literalmente todas as terças-feiras sem me atrasar. Mas, desta vez estava com uma virose que me debilitava o corpo, sem contar no contágio que poderia causar transtornos à saúde da minha terapeuta, como de seu filho acometido de um tratamento por quimioterapia. 

Adiei minha hora de consulta sobre os protestos da Dra. Iná e, não tive argumentos suficientes para retornar somente na semana seguinte. Então, a sessão estava marcada para o dia seguinte. 

Pela primeira vez, nesses dois anos de tratamento me atrasei muito, uns quarenta minutos, me restando a sobra de dez minutos suficientes para pegar a minha receita dos anti-depressivos. Obviamente, tudo dentro do campo do inconsciente. Mas, do que eu estaria fugindo desta vez que fosse tão combativo a ponto de me tornar irresponsável quanto ao meu tratamento ?

Assim, que cheguei logo ouvi a devida intervenção.

- Hoje você se atrasou e teremos apenas alguns minutos, mas vou estender a sessão. Sei que você necessita.

Ao sentar no divã desabei em prantos e soluços, envergonhada pela minha dor diante do imenso sofrimento vivido por àquela mulher, mãe, e sendo privada do convívio e cuidados do filho extremamente doente. A culpa me rasgava o peito, como eu poderia falar da minha dor tendo alguém tão mais sofrida na minha frente ? Eu não podia ser tão egoísta desta forma e consegui respirar fundo e dizer:

- Dra. me perdoe, mas acho que o fato de estar muito gripada me fez sentir culpada em transmiti-la à você por causa da situação do Tarik. 

- Não se preocupe, muitos pacientes estão gripados e eu também. Mas, me conte. O que houve ?

As lágrimas pulavam dos meus olhos sem que eu pudesse contê-las. Na verdade eu queria era retribuir todo carinho e dedicação recebidos, abraçando-a e deixando-a chorar toda a sua dor nos meus ombros. Me senti no lugar dela, com aquela dor toda sendo obrigada a trabalhar e manter a postura de cuidadora de sentimentos destroçados a procura de colo. 

- Não sei o que está acontecendo. Entrei na transferência e estou sofrendo muito pela sua dor, não sei como você está aguentando tudo isso ?

- Ora ! Você é mãe e está se colocando na minha situação. Quantas vezes aqui, expôs sua preocupação com o João ? É normal, que se sinta afetada com que estou passando. 

- Admiro a sua coragem e força para enfrentar um caos desses, sinceramente eu não suportaria tamanha dor. 

- Kátia, eu tenho aprendido muito com você. Até agora, só vejo você ter uma desilusão atrás da outra, quantas vezes trabalhamos o seu luto aqui ? E, olha que não foram poucos. Também, as várias porradas que a vida tem lhe dado nesse curto período de tempo ?

Assenti com a cabeça, numa maneira para deixá-la falar na tentativa de colocar para fora todo o sufoco vivido. E, deu certo. Assim, ela falou do quanto estava cansada e como sofria em ver a luta diária do filho em busca da vida, mas que o câncer era a "tristeza das células"...

Para nossa sorte, a paciente seguinte se atrasou e podemos conversar durante uma hora pontuando na questão emocional a doença do Tarik. Aquilo me aliviou e acalmou a minha alma tão amargurada. Olhei para ela e disse:

- Eu te amo.

- Eu também te amo. 

Vi nos seus olhos um brilho e pude entender o que é transferência.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A devastação feminina....

Os vícios de um homem podem destruir a mulher que ele ama e, submetê-la a devastação por conta dessa parceria.


Fonte: DRAINED -- Directed by Nick Peterson
          https://www.youtube.com