... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

O Amor que se nega...

"Apesar de tudo, o amor era menos simples do que ele julgava. Era mais forte do que o tempo. O amor, no fim das contas, era feito de inquietações, de renúncias, de pequenas tristezas que surgiam a todo instante." Simone de Beauvoir



Se para ele existia a dúvida do meu amor porque não fui afeita à servidão, para mim a certeza do amor vinha da liberdade. Pois, respeitar a individualidade sempre me foi o correto, mesmo que houvesse renúncia na convivência diária. Jamais, tentei amarrá-lo às obrigações de fidelidade impostas pelo modelo comum de relacionamento. O que me valia para o amor era a certeza do afeto e a cumplicidade da vida em comum. 

No entanto, em sua insegurança contumaz, ele me sufocava com suas incessantes desconfianças que culminavam em ciúmes desmedidos. As cobranças da alcova sem romance, para preencher sua ansiedade me remetiam ao papel de objeto, com se fosse obrigação de um serviço a ser prestado. Bastava que fosse carinhoso, terno e me afagasse a face, como antes. Mas, ele assumiu um posto tirânico, numa disputa de poder sem que eu estivesse disposta a ceder tal subordinação.

Em estado de opressão, sublimei meu desejo em represália ao descaso dos mimos e das gentilezas, a mim negados. Porém, me mantive leal ao vínculo que por vezes, até imaginei desistir. Sempre na esperança do resgate de afeto na completude futura. 

Imaginava um dia ter a segurança da estabilidade e o reconhecimento como indivíduo na proporção de igualdade. Em que, as todas as renúncias, dificuldades e crises se acalmariam para vivermos um grande amor. Um amor, que tantas vezes me foi subtraído pelas aventuras de casos contingentes.

Não foi esse o desfecho imaginado, pois na sua angústia em subjugar sentimentos e refratário ao afeto, conseguiu quem não lhe questionasse as deficiências. E assim, sem qualquer comprometimento com a dedicação dos meus anos doados se foi, sem cerimônia, deixando-me sem satisfação.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

A MulherTriste...

Sou uma Mulher triste
Que chora as perdas 
Em ausências 

Sou uma triste Mulher
Que chora as ausências
Em vazios

Sou a triste Mulher, triste.


Que vive o passado das lembranças
De uma Mulher alegre.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Estar só... Na companhia de si mesma.

“Que minha solidão me sirva de companhia. que eu tenha a coragem de me enfrentar. que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.” Clarice Lispector



Os filhos já estavam criados e formavam suas famílias e na minha situação de mulher sozinha, me cabia, além das obrigações rotineiras de sobrevivência, estar solitária com meus pensamentos. Os tempos eram difíceis, eis que não havia mais a divisão de tarefas e, tampouco a aliança de solidariedade como antes. 

Minha vida, embora limitada de prazeres por conta do orçamento apertado, ainda existia livros na estante a serem descobertos, filmes para assistir ou rever e também, havia a música que preenchia meus vazios e me fazia reviver momentos do passado. 

Por várias vezes, meu lazer se rendeu as exposições, palestras e seminários gratuitos. Em épocas festivas de feriados, me restava a solidão doméstica e hoje preparei uma sopa com os poucos ingredientes que sobraram da última compra, mas a apreciei com gratidão de poder me alimentar dignamente. 

Não são raras, as mulheres que como eu vivenciam a solidão, pois criaram seus filhos, dedicaram-se à um casamento na plenitude de seus melhores anos da juventude, enfrentando as vicissitudes de momentos em crise, abdicando da profissão com afinco, se separam e depois a família toma novos rumos. 

Viver é uma eterna descoberta e enfrentamento de crises, ora passageiras, ora permanentes... Mas, apesar de tudo, me admiro por minha autonomia emocional, de viver me adaptando a nova realidade. E, acima de tudo, me completar com a minha própria solidão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A Solidão...


Eu vou mal e irei pior ainda, mas aprendo pouco a pouco a ser só, e isso já é alguma coisa, uma vantagem, um pequeno triunfo.” Frida Kahlo


Sobreviver é o preço que se paga pelas perdas...

"Não mais me deitar no feno perfumado ou deslizar na neve deserta.
Onde eu exatamente me encontro?
O que me surpreende é a impressão de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou para mim.
Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro.
O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minha necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar unicamente da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida.
Acredito que eu consegui fazê-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha feminilidade.
Não desejei e nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos." Simone de Beauvoir 


Numa etapa de um tempo, que reserva experiências vividas e novas descobertas a serem vividas, adentro no período da velhice física. É a época da menopausa, em que meu corpo se transforma chegando à maturidade. Da mesma forma, que adentrei na adolescência no passado quando menstruei. 

São transformações inquietantes, se antes estava pronta para gerar vida, agora já não posso mais e meu útero se reserva a solidão perpétua, como se fosse um corpo estranho dentro do meu corpo.

Da mesma forma que minha fertilidade fica no passado, meus relacionamentos também ficam. Chego a nova era inteira e sem apêndices, talvez pronta para amar novamente, ou apenas livre como nunca estive.

Enfrentar a liberdade assim, tão presente quando jamais era esperada em tal etapa assusta. Eis que, esperava viver os tempos passivos na maturidade, mas os vivi antes e agora me resta a reconstrução para plenitude.

Tive muitas perdas consideráveis, como um longo casamento interrompido ao passo da maturidade por imaturidade, assim como o falecimento de pessoas queridas, umas nem chegaram a maturidade e outras se foram além da maturidade. 

Como sempre o alvorecer de mais um dia é a certeza do presente a ser vivido, então deixo ao passado somente as lembranças. Reservando-as para complementar meus arquivos emocionais, cujas experiências são reveladoras para me reinventar. Pois, sobreviver é o preço que se paga pelas perdas vividas.