... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O delírio da presença...

"Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade" Simone de Beauvoir


A casa ficou grande demais, depois que Paulo se foi. Então, chega a hora de mudanças. Desapegar dos móveis que compramos juntos na nossa melhor fase, dos eletrodomésticos que já não funcionam, das roupas que não me cabem mais e lembrá-lo dos objetos pessoais que foram deixados para trás no seu afã de partir. Talvez, ele nem os queira mais, eis que nunca sentiu falta ou os pleiteou. 


Tudo foi deixado para trás, para evitar qualquer lembrança do passado, tanto quanto qualquer aproximação. É como se nada do que construímos não existisse mais. A sensação de um passado apagado, sem qualquer história de nós dois, cria uma lacuna e um esvaziamento profundo.

Tantos planos de futuro não realizados, tantos sonhos interrompidos, mas a sua presença ausente permanece em cada cômodo e canto da casa. Por inúmeras vezes, o imagino preenchendo seu lugar no leito. Ora, deitado no sofá, sentado à mesa... Seu cheiro permanece e tudo me faz lembrá-lo. 

Todos os dias no cair da tarde, a melancolia me esgota as forças porque ele não chega. O ninho ficou vazio e transformou-se numa prisão, assim me prende e me paralisa, me obrigando a esperança do do falso retorno. 

O tempo de espera se esgotou e Paulo não voltará mais. Restando somente, o delírio de sua presença. 

Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você...


"Querido,
Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que é a você que eu devo toda minha felicidade. Você foi bom para mim, como ninguém poderia ter sido. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade, sem igual. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V." (carta de suicídio de Virginia Woolf)

domingo, 19 de maio de 2013

A finitude dos sonhos...

"Quarenta anos. Quarenta e um. Minha velhice germinava. Espreitava-me no fundo do espelho. O que me deixava estupefata era que viesse a mim num passo tão decidido, enquanto nada em mim estava de acordo com ela." (Simone de Beauvoir in A Força das Coisas)



O tempo parecia não haver passado, ainda permanecia um leve frescor na pele alva do meu rosto. Meus cabelos continuaram longos, o que me causava um ar jovial. Apesar de alguns quilos a mais, minha silhueta se mantinha na agravável estética que provocava suspiros masculinos. Eram homens da minha faixa etária, os de meia-idade e, até os jovens que por incrível que pareça se encantavam com a minha beleza ignorada. 

Minha idade sentimental não ultrapassava o tempo debutante, donde as inseguranças e as incertezas ansiavam por uma paixão. Na mendicância de sentimentos; eu clamava por mãos dadas ao caminhar,  pelas pipocas dividas na sessão cinematográfica, pelos afagos à minha pele, pelo carinho dos cuidados e principalmente pelo aconchego dos abraços. 

No entanto, a desilusão adentrou na minha vida e me fazia sentir uma idosa de oitenta anos. O divórcio me trouxe uma viuvez emocional, em que meu companheiro permanecia vivo e negava preencher todo meu vazio que açodava minha velhice. 

Por mais, que não aparentasse os meus mais de quarenta anos, a finitude do amor me furtara os sonhos.

sábado, 18 de maio de 2013

Filhos são inseparáveis...


"Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo." 
Martha Medeiros




Em pleno dia das mães no café da manhã ouço: "Mamãe, esse domingo vamos passar juntos. Não irei para casa do meu pai. Pena, que a família não existe mais. Sinto falta da família reunida, mais ainda dos chamegos nas manhãs dos domingos com o papai junto de nós. Do café da manhã preparado por ele para nós e dos almoços juntos. Até da casa cheia com todos da família reunidos... Hoje somos sozinhos e nunca mais seremos uma família." 

Com essas palavras embargadas na voz e com os olhos úmidos, Yuri num breve desabafo me abraçou e completou: - Mas, eu tenho uma Mãe !

Um misto de compaixão e de rancor apontou em meu peito. Como amenizar essa dor da perda do núcleo familiar que traz essa falta à Yuri ? Apesar de estar em plena fase universitária, cuja tendência natural é viver uma vida social dentre amigos, filhos precisam da família. 

Na tentativa de amenizar esse vazio que angustia Yuri, complementei que por mais que tenha havido o divórcio continuamos uma família. Tendo em vista, que o Pai nunca deixaria de ser seu pai. Sendo que, por enquanto é normal um afastamento, depois tudo ficaria bem e poderíamos voltar a nos aproximar, não como marido e mulher. Mas, como amigos e pais de um filho em comum.

A melhor maneira de preservar segurança e evitar sofrimento aos filhos são as separações amigáveis, em que a estrutura emocional familiar continue com a amizade, cooperação e solidariedade. Assim, estaria preservado esse vínculo tão importante para Yuri.

Importante também, salientar que na idade infantil é necessário um afastamento, para que a criança entenda que houve a ruptura marital entre os pais. Entretanto, nada que impeça a presença do pai nos períodos de visitação e da participação na formação da criança. 

Quanto a idade juvenil e adulta dos filhos esse afastamento torna-se desnecessário, uma vez que já há compreensão do divórcio. Então, nada mais saudável que a continuação do núcleo familiar, permanecendo nas festividades e na vida social entre o ex-casal e os filhos. Pois, pais amigos geram mais segurança e acolhimento aos filhos.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Medo da realidade...

"Só uma vida com sentido e realizações pode evitar os fantasmas das neuroses, depressão e estresse."
Maria Luiza Silveira Teles



"Bom, vamos ver. Após concluir que eu estou deprimida, sei lá, vai me dar remédios, não vai ? É eu sei que centenas de pessoas tomam e estão todas muito bem. Sério.
Vou sair daqui e voltar ao trabalho com meus novos anti-depressivos. Vou jantar com meus pais e convencê-los que voltei a ser a pessoa normal que nunca dá trabalho. 

E, um dia um cara vai me pedir em casamento. Ele vai ser gentil e meus pais vão ficar muito felizes. No primeiro ano vamos fazer amor o tempo inteiro. No segundo e no terceiro cada vez menos. Mas, quando começarmos a enjoar um do outro eu vou ficar grávida. Criar filhos, manter o emprego, pagar a hipoteca, vai manter nossa estabilidade por uns tempos. 

E aí, uns dez anos depois, ele terá um caso porque eu estarei ocupada demais e cansada demais. E, eu vou descobrir. Vou ameaçar matá-lo, matar a sua amante e me matar. Nós vamos superar isso. 

E, alguns anos depois ele vai ter outro. Dessa vez eu vou fingir que não sei, porque dessa vez eu vou achar que não vale a pena armar um barraco. E, eu sei que vou viver os restos dos meus dias as vezes desejando que os meus filhos tivessem a vida que eu não tive. Outras vezes satisfeita por suas vidas se tornarem reprises da minha. 
Eu estou bem. É sério.

Queridos Papai e Mamãe nada disso é culpa de vocês... 

Verde é novo preto.
Verde não é novo preto. 
Ninguém percebeu que todo mundo ficou completamente louco ?
Por que temos tanto medo de ver as coisas como realmente são ?
Slogan como este conseguiram desviar a nossa atenção das coisas que realmente importam.
Eu quero que as pessoas saibam que preferir me matar a participar da loucura coletiva desse mundo em que vivemos.
Esse não é o mundo real, não há outra saída. Adeus." 

(Introdução do Filme: Veronika Decide Morrer, baseado no livro de Paulo Coelho)

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O cinza dos meus dias...


"Somos uma sociedade de pessoas com notória infelicidade: solidão, ansiedade, depressão, destruição, dependência; pessoas que ficam felizes quando matam o tempo que foi tão difícil conquistar." 
Erich Fromm



O tempo era cada vez mais longo, os dias passavam vagarosamente abrindo o distanciamento, apesar de já ter se passado três anos como se fossem apenas três dias.

Todas as manhãs, no decorrer daqueles anos tão solitários, havia sempre aquela impressão pendente de que seria o dia da espera de quem nunca mais chegaria. 

No creprúsculo do entardecer, esperava pelo tilintar das chaves que abririam a porta. Mas, que se emudeceu no decorrer desses vagarosos anos. Nem mesmo a ansiedade da espera preenchia o meu vazio, como noutros tempos. 

O mundo se descoloria gradativamente, deixando as lembranças amareladas e embotadas pela ausência. Até a presença onírica era delirante e, jazia cinzenta. 

Apenas, aquela dor sofrida pela falta era pulsante e escarlate. Nada conseguia desbotá-la, nem mesmo o tempo era capaz de apagar tal perda que me fazia vagar sem rumo no âmago da desilusão. 

Meus gritos soavam surdos e inaudíveis pela quebra de um amor que não se basta nunca. Pois, jamais cicatrizei tamanha ferida aberta na hemorragia que se esvai toda emoção da vida.