... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pulsões escondidas...

"O inconsciente não é terreno exclusivo de pulsões violentas que devem ser domadas pelo eu, mas o lugar onde uma verdade traumática fala abertamente."

(Slavoj Zizek, in Como Ler Lacan)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As trevas da paixão...

"Não gosto de trabalhar com pacientes que estejam apaixonados. Talvez por inveja — eu também almejo o encantamento. Talvez porque o amor e a psicoterapia sejam fundamentalmente incompatíveis. O bom terapeuta luta contra as trevas e busca a iluminação, enquanto o amor romântico é sustentado pelo mistério e se desintegra sob um exame mais detido. Detesto ser o carrasco do amor." (Irvin Yalom in O Carrasco do Amor)

"... A inesgotável capacidade de tornar suas mulheres infelizes."

INFIDELIDADE CRÔNICA

"Existe ainda outro tipo de infidelidade: a constante ou crônica. Isso significa pular de uma cama para outra. Na sociedade, essa é uma atividade considerada tipicamente masculina. Homens cronicamente infiéis estão interessados basicamente em afirmar sua masculinidade e, para isso, praticam sexo compulsivamente. Sentem-se no direito de se apaixonar ao sabor do acaso ("Afinal, isso é tudo o que vale a pena na vida").

Mulheres também podem ser continuamente infiéis. Quando isso acontece, ambos caem na agenda dos neuróticos: obter tanto prazer sexual quanto possível, no menor espaço possível. Como a obsessão pelo sexo é sua única razão de viver, praticamente não existem limites para o que fazem em busca desse prazer.

A infidelidade crônica é característica do homem normalmente definido como conquistador. O fato de ser casado não o impede de "partir para o ataque" sem nenhuma inibição sempre que tem uma chance. Para ele, o que interessa é "comer todas e beber todas", sem praticamente se importar com as conseqüências.

Conquistadores inveterados, sentem-se desconfortáveis em qualquer situação na qual não estejam exibindo ou exercitando sua masculinidade. Dessa perspectiva, um homem que não está conquistando nenhuma mulher está perdendo. Colecionar parceiras é para eles uma forma de provar que são homens.

No fundo, essa necessidade constante de um enorme elenco sexual de apoio os impede de se comprometer, pois os conquistadores não amam de fato. Eles gostam das mulheres como as "raposas gostam das galinhas"; ligam-se no corpo, no de fora, mas ignoram o que está por dentro.

Homens com tais características podem ser envolventes, encantadores, mas nunca estabelecem um relacionamento muito pessoal. Sempre mantêm uma cautelosa distância quando se trata de sentimentos.

Podem até ter raiva das mulheres, tratando-as com crueldade e usando a sedução como arma para controlá-las. Com freqüência, procuram despersonalizá-las, lidando com elas como se fossem trocáveis, descartáveis. Estão convencidos de que as adoram, mas, em vez de amá-las, na verdade apenas se consomem com regularidade.

O conquistador insaciável (...) é invejado por todos os outros homens nos lugares que freqüenta. Para ele, só há um erro imperdoável, um pecado mortal em sua carreira de conquista: ser apanhado em flagrante.


Por outro lado, há mulheres que tentam a carreira de conquistadoras só para descobrir que fracassam quando se apaixonam (...). Outras são conquistadoras de fato, caçadoras, e usam sua sexualidade, sua capacidade de sedução, para exercer poder sobre os homens. (...) Algumas acabam tornando-se tão cínicas quanto os homens e deixam de acreditar no amor, enquanto as demais continuam buscando a vara de condão - o amor através do sexo.


Homens e mulheres caçadores (...). Imaginam ainda que todos agem como eles (ou, pelo menos, gostariam de agir). No fundo, são pessoas que ficaram presas nessa armadilha da adolescência.

(...) Os conquistadores, em geral, se consideram absolutamente irresistível. Existe, porém, algo em comum entre os homens desse tipo: a inesgotável capacidade de tornar suas mulheres infelizes."

(Maria Helena Matarazzo in Encontros, Desencontros & Reencontros)

sexta-feira, 10 de junho de 2011

No fundo do poço...

"O assédio se instala quando o diálogo é impossível e a palavra daquele que é agredido não consegue fazer-se ouvir. Prevenir é, portanto, reintroduzir o diálogo e uma comunicação verdadeira"

“Sua vida consiste em procurar seu reflexo no olhar dos outros. O outro não existe enquanto indivíduo, apenas enquanto espelho”. (Marie-France Hirigoyen)



A dor me apertava o peito, em decorrência da ansiedade, em tentar por vezes falar com Diogo que sistematicamente não atendia minhas ligações ou sequer respondia minhas mensagens.

Aquilo estava acabando comigo, ou melhor, com pouco de mim que ainda restara, depois de tanta crueldade e humilhações sofridas. A cólera tomava conta da minha mente me sufocando pela tentativa de conversa negada. Insisti mais uma vez e ele atendeu disfarçando que não estava ouvindo.

- Alô !
- Alô, Diogo sou eu.
- Alô, alôoo... Alôoooo...

Desligou, mesmo sabendo quem era, em mais uma tentativa de me evitar. Liguei novamente e ele atendeu já pronto com uma desculpa esfarrapada para não falar comigo.

- Oi, está me ouvindo agora ?
- Olha estou em São Paulo à trabalho e não posso perder tempo conversando com você agora, Olga, quando chegar em casa lhe retorno.
- Toda vez é isso, Diogo, você nunca pode falar... 
- Depois eu ligo, tchau, beijo.

E, desligou. Aguardei seu retorno o dia todo e nada. Na manhã seguinte, amargurada e profundamente magoada, insisti novamente e por duas vezes não atendeu. Enviei-o uma mensagem: "Por que você faz isso comigo ?"

Em seguida, ele me retornou, mas com uma nova mentira na ponta da língua.

- Olga, estou ocupado agora, no Teatro Municipal tratando de negócios e não posso falar com você agora.
- Já está no Rio ? 
- Estou, beijo, tchau.

Movida pelo desespero em falar com Diogo, afinal tivemos uma vida em comum, com responsabilidades e um filho, cujos problemas têm que ser divididos, apesar de guardiã. Visto-me rapidamente e tomo um ônibus em direção ao Centro da cidade na expectativa de encontrá-lo. Pois, já estava quase na hora do almoço e provavelmente ele estaria por algum restaurante por perto.

Recebo sua ligação no trajeto a caminho.

- Alô, Olga, o que você quer ?
- Preciso conversar com você, ainda está no Centro ?
- Você está aonde ?
- Estou no ônibus a caminho do Centro. Podemos nos encontrar ?
- Não, estou já em Copacabana.
- Então, posso encontrar com você aí ?
- Não, estou de saída e dirigindo.

Numa pequena pausa, me sentindo humilhada, começo a chorar pelo desprezo, pela mentira deslavada de Diogo. É um choro sofrido, em que todos os presentes me olham com curiosidade, mas ao mesmo tempo com piedade.

- Escuta, Olga, conversamos amanhã, ok ?
- Você nunca pode falar comigo, esperei ontem o dia todo sua ligação e nada.
- Cheguei tarde por isso não liguei.

Entre lágrimas e voz trêmula, disse:
- Mas, você sabe que durmo tarde...
- Olha só, depois quando chegar em casa ligo, beijos.

Aturdida, me sentindo extremamente desamparada, com choro compulsivo sigo o trajeto de ônibus sem ter noção de onde estou ou para onde ir. Até parar no consultório da minha psicanalista... Depois, de um longo tempo, ainda muito perturbada, de rosto inchado evidenciando meu estado decadente, não posso voltar para casa. Pois, não posso deixar que meu filho me veja nesse estado. Até porque está sofrendo muito pela ausência paterna com sua visitação interrompida.

E, então vou para meu escritório e me escondo do mundo. Permaneço por horas esvaziando meu pranto, lembrando das privações, das dificuldades financeiras, dos momentos difíceis, das faltas, da ausência e de todos os momentos vividos dos quais passei ao lado de Diogo, sempre o apoiando, para que depois me abandonasse sem qualquer gratidão. 

Doente e criando sozinha meu filho, não podia contar nem com a ajuda do pai que se recusava em lhe dar atenção. Já tarde da noite tenho que voltar para casa, depois de caminhar debaixo de uma tempestade torcendo para que um raio me parta ao meio.

Diogo havia me roubado a juventude e minha auto-estima, assim como abandonado a família. Deixando nas minhas costas todas as responsabilidades e obrigações. 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Perversos são demoníacos...

"No caminho para o hotel, Mônica tomou a decisão de escrever o primeiro artigo da sua vida(...) Ia falar da perversidade. Seu objetivo era chamar a atenção das mulheres para o perigo de se apaixonarem por um perverso narcisista. O artigo mostraria quais são os sinais que uma mulher pode perceber num homem, assim que o relacionamento se inicia, e antes que ela fique à mercê do perverso. "No mínimo", pensava Mônica, "poderei evitar outras mortes." Esta idéia a fez respirar fundo e sentir-se melhor consigo mesma.


Técnicas para identificação de um perverso

Identificando o perverso

Toda mulher sonha em ser esposa e mãe. Esses desejos são naturais, intuitivos, existem no inconsciente coletivo e passam para a mente feminina enquanto ainda está em formação no útero materno. Entretanto, a mulher não se torna esposa e mãe sozinha. Por isso, desde o início da humanidade, como assim nós a conhecemos, a mulher busca encontrar seu parceiro, seu companheiro, a pessoa com quem irá passar o resto da sua vida.

Entretanto, com freqüência maior do que se pode supor, esse provável parceiro não tem os mesmos objetivos da mulher. Na realidade, ao entrar no relacionamento, seus objetivos são apenas sua satisfação pessoal e sexual, é apenas o desejo de dominar a mulher, de mantê-la como refém, como escrava. Ao perceber a diferença de metas, a mulher sofre e acaba tornando-se vítima num relacionamento em que esperava encontrar a felicidade. Sendo assim, é importante que, antes de se deixar enredar na teia do amor, a mulher tome certos cuidados que poderão, no mínimo, evitar sofrimento pelo resto da vida.

Como reconhecer um homem perverso? Vamos dar a seguir alguns alertas da perversidade.

DURANTE O ENREDAMENTO

· Ele a deixa escolher tudo, desde o lugar aonde irão até o que vão comer. Nesse momento ele está traçando o seu perfil ao mesmo tempo em que esconde o dele.

· Apresenta-se como injustiçado, uma pessoa que sofreu por falta de amor, de apoio, e teve que construir tudo sozinho; na maioria das vezes isso é verdade, embora ele esteja estimulando seu instinto maternal.


· Apesar do conhecimento recente, ele apressa as coisas, falando prematuramente em morar juntos, e até em casar.

· Quase não fala. Limita-se a concordar com o que a outra pessoa diz, prestando atenção em tudo. Quando, eventualmente alguma pergunta lhe é dirigida, a resposta não é clara. "Não sei", "talvez", "às vezes", "de vez em quando", "pode ser".

· Aceita ir a reuniões sociais, sair com amigos, visitá-los ou convidá-los para sua casa.

· Usa frases do tipo "não vivo sem você", "vamos ficar juntos para sempre, não importa o que acontecer", para envolvê-la.

NA FASE INICIAL DE PERVERSIDADE

· Diz que a vida longe de você não faz sentido; e ele está falando sério, entretanto isso não é amor, é obsessão.

· Começa a evitar reuniões sociais, sair com amigos, visitá-los ou convidá-los para sua casa.

· Fica aborrecido com freqüência e você se vê desfazendo mal-entendidos.

· Não admite recusas, sua vontade tem que ser satisfeita a qualquer custo.

· Chama por você e exige que você pare o que está fazendo para atendê-lo.

· Tem humor instável, e deixa você aflita por nunca saber o que vai detonar uma crise.

· Suas mentiras começam a aparecer. Mente tanto que se esquece do que falou e, quando você o questiona sobre a veracidade do que está falando, age como se você fosse uma criminosa.

· Tem ciúme de suas amigas, do telefone, ou de qualquer coisa ou pessoa que tome seu tempo. Quer você sempre disponível só para ele.

· Convence-a de que é um bom administrador e, caso você trabalhe, faz com que lhe entregue seu próprio dinheiro para ele administrar. Inicialmente, dá-lhe provas de que é realmente bom administrador financeiro.

· É capaz de mentir, distorcer fatos, palavras, e inventar situações que nunca existiram, ou mesmo, criar provas falsas de que está com a razão, e só vocês dois sabem que ele está mentindo.

COM A PERVERSIDADE INSTALADA

As da fase anterior e mais:


· Agride-a verbalmente, faz ameaças para magoar, embaraçar ou restringir sua liberdade; e, quando discutem, baixa o nível.

· Faz inúmeras perguntas encadeadas apenas para intimidar, sem o objetivo real de saber as respostas.

· Usa o dinheiro para controlar todos os aspectos da sua vida.

· Quebra coisas, dá socos na parede, e usa violência simbólica, como rasgar fotos ou destruir seus objetos pessoais.

· Não admite rejeição. O relacionamento vai durar, enquanto ele quiser. Você só se libertará, quando ele assim o quiser.

· Minimiza os acessos de raiva, como se cada um fosse uma exceção.

· Faz você acreditar que não é violento, e que você é a responsável pelas perdas de controle dele.

· Culpa os outros pelos próprios ataques. É você que o leva à loucura.

· É capaz de se mostrar frágil fisicamente. Apenas você conhece a verdadeira força de um louco.

Você que é jovem, e sonha encontrar um homem para dividir a sua vida e ser pai dos seus filhos, não desista dos seus sonhos. Esse homem existe, se você procurar, acabará encontrando-o. Mas seja esperta. Não aceite o primeiro buquê de flores que lhe for oferecido. Ao menor sinal de perversidade, caia fora! Fuja como se tivesse visto o próprio demônio (sob muitos aspectos, você viu mesmo).

Demore bastante na fase de namoro, de preparação do casamento. Mesmo os mais espertos perversos às vezes se traem. E quando isso acontecer, não encare como exceção. Comportamentos perversos não são exceção!

Observe pequenas coisas, detalhes. Veja como seu namorado trata as pessoas mais humildes. Não se conhece um homem antes de pelo menos um ano de convivência. Sua felicidade depende da sua vigilância. Vigilância permanente deve ser o seu lema!"

(Leila Sodero Rezende e Vania Crespo in Assédio Moral - Entre o Amor e a Perversidade)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Tortura psicológica...

"(...) Me dei conta da capacidade de meu marido de se livrar das pessoas quando não lhe convinham mais - a começar pela ex-mulher, que ele dizia ser louca, porque tentara suicídio após o rompimento. Ele também sugeria: "Poderíamos viver só nós, não preciso de mais ninguém, você tem mania de ter amigos demais". (...) Tentou me fazer desistir de comemorar meu aniversário. Logo eu que sou tão festeira." Ruth de Aquino in matéria publicada na Revista CLAUDIA.




Eu era solteira e bem mais jovem do que Fernando, o qual já passara por um casamento desfeito há uns três anos, com filhos oriundos dessa união. Envolvente, sedutor, generoso, cordial, apresentava todas as qualidades possíveis que me deixaram apaixonada.

Sempre gentil realizava todas as minhas vontades, com passeios, viagens, jantares, presentes em lindas manifestações de amor. As afinidades eram tantas que mesmo diante de alguma divergência evidente não bastava para que logo, Fernando concordasse comigo. Evitando assim, qualquer forma de me contrariar.

Nosso período de namoro durou pouco e não tardou para que começassem as investidas de morarmos juntos. Relutei de início porque achava muito cedo, mas todos os dias vinham as insistências, até a ameaça de rompimento. Enfrentei minha família que discorda do meu relacionamento e fui viver com o homem da minha vida.

Gradativamente, sem que eu percebesse Fernando começou a me dominar, cerceando minhas amizades sutilmente e então, começaram as críticas, as contestações, as chantagens emocionais, a necessidade de provas de amor, desconfianças e ciúmes.

As reclamações começaram a me incomodar, seu gênio difícil com cobranças sexuais e atenção contínua me sufocava e as grosserias me afastavam cada vez mais. Entretanto, suportei todas as crises, constrangimentos e torturas psicológicas em consideração a nossa formação familiar.

Por anos, fui leal e cúmplice de Fernando enquanto necessária a sua satisfação narcisista. Já não existiam mais manifestações de cordialidade, viagens, passeios e qualquer forma de me agradar.

No momento em que comecei a me impor e não compactuar com suas grosserias e caprichos, os atritos começaram chegando a decepção com a descoberta de um caso extraconjugal, dentre tantos outros até o rompimento do nosso relacionamento. Mas, havia restado somente as dores e o sofrimento.

Aquele homem gentil e amável se transformara num estranho, me vampirizando e acabando com a minha auto-estima, a ponto de me deixar doente e desamparada.

Em matéria publicada na revista CLAUDIA, a especialista em assédio moral, Marie-France Hirigoyen, aponta como ocorre a violência psicológica capaz de causar danos emocionais sérios. Conforme o depoimento mencionado.



"Veja, agora, algumas frases que são ditas no casamento e que, se repetidas com freqüência, denunciam o desejo de dominar, humilhar, denegrir, intimidar. São expressões que ilustram casos reais contados pelas pacientes de Marie-France. É o começo da violência sutil, que aumenta progressivamente... até que a vítima acaba sem saber o que é normal ou não, o que dizer, o que pensar. São mensagens de sedução no início, seguidas de ameaças veladas ou de clara hostilidade e fria indiferença.



"Eu digo isso porque te amo."

"Não adianta eu te explicar, você não vai entender mesmo."

"Seu comportamento não me surpreende."

"Com a família que você tem..."

"Você acha que sou um imbecil?"

"Você não vai conseguir."

"Prefiro que você não faça isso sozinha."

“Não tenho nada a ver com isso, não é problema meu."

"Sei melhor do que você o que é bom para você."

"Pára de falar besteira."

"Afinal, você tem medo do quê?"

"Você vive reclamando."

"Por que você não consegue fazer nada direito?"

"Todo mundo sabe que você é louca, eu deveria internar você."

"Se você passar daquela porta...""

sábado, 4 de junho de 2011

Paixão de conveniência...

"Eu, bem de vida, morando bem, vestindo bem, tudo muito bem, velha bonitona, gostosa e devassa, não querendo mais amantes fixos que me encham o saco - e é muito difícil achar um que acabe não enchendo - e vivendo na grande cidade do Rio de Janeiro (...) E, de súbito, ao abrir os meus arquivos executáveis um belo dia, lá está Paulo Henrique, Deus seja louvado. Ele também leva a sério seu dom, me adora porque eu o ajudei a compreender como esse tipo de coisa funciona. Assumiu, virou meu executivo sexual, de uma forma antes insuspeitável. É realmente fantástico o que aconteceu, chega a parecer invenção, mas não é, é verdade, a vida é que parece invenção, a invenção é que tem que parecer verdadeira." (João Ubaldo Ribeiro in A Casa dos Budas Ditosos)



Separada do marido, por motivos de falta de afeto, pois não tinha aptidão com  cuidados e carinho por alguém que agora, vivia dilemas existenciais. Até porque Sonia havia se casado sem amor e mantinha casos extraconjugais, não foi difícil abandonar o marido. Contudo, seu último amante era também casado, mas não teve a ousadia de trocar a esposa por ela.

Atrelada aos sites de relacionamento, eis que de repente encontra sua próxima paixão. Um antigo conhecido do passado, embora estivesse casado não era nenhum empecilho porque também mantinha tendências às transgressões sexuais.

O investimento ao novo caso, não somente envolveu perversões sexuais como também, ultrapassou a esfera sentimental adentrando até na área financeira. Motivada pela conquista daquele homem, Sonia foi vitoriosa. Pois, Ricardo separou-se da esposa e dos filhos em prol de uma mulher bem sucedida economicamente que o proporcionava viagens, empreendimentos em sua empresa deficitária e a satisfação integral de todos os seus sonhos.

Entretanto, a paixão cegou Sonia que estava se sentindo poderosa diante da facilidade com que conquistara Ricardo, esquecendo-se que na verdade havia comprado um homem interesseiro e de natureza infiel. Assim, da mesma forma que traia a mulher com diversas amantes continuaria fazendo o mesmo com ela.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sem culpa e sem afeto...


"Fazer o mal é um erro de cálculo, não um ato culpável. (...) 'Por favor, eu realmente o amo. Se ficarmos juntos nesta, serei totalmente dedicado a você! Mas, cuidado! Se você me rejeitar, posso perder o controle e desgraçar a sua vida!' (...) alguém que está pronto para me prejudicar se eu o contrariar não pode realmente me amar e estar devotado à minha felicidade, como afirma."
(Slavoj Zizek in Como Ler Lacan)

Comprometida com meu tratamento psiquiátrico levantei-me da cama com extrema dificuldade, sentia-me o próprio personagem da mitologia grega, Athas, carregando o mundo nas costas.

Em passos lentos e claudicantes cheguei ao banheiro para entrar no chuveiro e tomar um banho, ultimamente nem mesmo tratar da minha higiene pessoal conseguia. A água morna correndo pelo meu corpo parecia levar pro ralo toda a minha alma embotada daquela dor insuportável. 

Vesti-me com a primeira peça de roupa vislumbrada dentre tantas outras jogadas pelo quarto e nem sei como consegui sair de casa para tomar um táxi rumo ao consultório da minha psiquiatra que já me aguardava para mais uma sessão.

Estava tão evidente o meu abatimento e sofrimento que fui recebida com um abraço afetivo capaz de me tranqüilizar do pânico vivenciado do trajeto de casa ao consultório, confortando assim todo o meu desamparo.

Iniciei a sessão comunicando que meu ex-marido queria conversar com ela e, eu mesma estava disposta a uma internação, dado aos pensamentos suicidas me desesperando incessantemente por acreditar que havia ficado louca. Para minha surpresa, de pronto obtive a resposta negatória de todas as premissas abordadas, como ainda, fui alertada da manipulação perversa engendrada por aquele que durante anos fui casada.

- Você se esqueceu que está doente por causa dele ?
- Mas, ele quer contar a versão dele sobre a separação. Pois, acha que não estou sendo sincera e fantasiei coisas. Talvez, seria uma forma de positiva no meu tratamento e saber que não inventei nada.
- Diga-o que somente atendo no consultório os neuróticos, pois os psicóticos atendo-os no hospital psiquiátrico. Veja bem, estou aqui para lhe ajudar e você não é psicótica. Da mesma forma que me disponho a acatar sua vontade, caso você queira retornar ao seu casamento.
- Meu casamento está acabado e, não há mais volta. Só preciso esquecer João porque mesmo deprimida, fragilizada ele ainda, me joga na cara a separação e me diz coisas horríveis, demonstrando tanto rancor e mágoas que me sinto culpada.
- Não o julgo por ele ter se envolvido com outra pessoa e se separado de você, apenas o acho mau-caráter pelo estado em que lhe deixou. Mesmo, ciente da sua doença, ele insiste de forma sádica em manipulações jogando a culpa dele encima de você.

Começo a chorar em lembrar de todas as maldades que João ainda continua a fazer comigo e permito de uma forma masoquista alimentando seu sadismo. E, digo entre fungadas:

- Será que essa dor nunca vai passar ? Não estou mais agüentando tanto sofrimento Dra. Rita, perdi a vontade de viver.
- Calma ! Isso vai passar e você vai conseguir se reerguer. Apenas, você tem que evitar contato com João, senão vai acabar virando uma psicótica mesmo. Pois, ele é mais doente do que você está agora, não sente culpa alguma por ter feito o que fez com você e pelo comportamento dele sempre teve amantes.
- É verdade, ele sempre teve desconfiança de mim sem motivos e por tantas vezes o peguei em mentiras.
-Vá para casa descansar e se olhe muitas vezes no espelho. Não foi você que perdeu, ele que saiu perdendo nessa estória, com o tempo ele perceberá isso.

Fui para casa e entendi que João nunca havia me amado, apenas fui útil quando necessário e no momento que passei a ter minhas próprias escolhas fui descartada como um objeto usado.