... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Feridas...


"Um coração partido não é algo que vai curar rápido. É muito mais complicado. Não existem remédios para corações partidos, o receitável é deixar essa ferida aberta, até ela cicatrizar."
 


"Dói, um pouco. Não mais uma ferida recente, apenas um pequeno espinho de rosa, coisa assim, que você tenta arrancar da palma da mão com a ponta de uma agulha. Mas, se você não consegue extirpá-lo, o pequeno espinho pode deixar de ser uma pequena dor para transformar-se numa grande chaga."

Caio Fernando Abreu

Colar de Espinhos...



"Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como o gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria." Frida Kahlo

domingo, 8 de outubro de 2017

O esquecimento da felicidade...

“A minha dor não cabe nos cem milhões de versos que eu fizera" Florbela Espanca



Era tão insuportável lidar com aquela dor advinda do fracasso que fiquei dura demais. Já não podia mais amar ou viver como antes. O mundo se tornara cinza, sem as cores do pôr-do-sol ao mar ou as flores dos jardins. Eu estava tão triste por não conseguir mais sorrir ou me alegrar, que então me recolhia em minhas trevas do peito oco. Nada mais fazia sentido mergulhada nas profundas mágoas. Restou-me somente a amargura pela impossibilidade de retornar a mim mesma. 

Eram dias e noites num vazio paralisante. Não havia mais sequer qualquer sentido aquela vida.

Assim, os anos se passaram como num piscar de olhos. Já se foi tanto tempo que até mesmo as boas lembranças do passado foram sendo esquecidas. Eu não conseguia mais lembrar do último beijo e nem de quando estava feliz. Tudo era muito vago como se eu perdesse a razão. Agora, me resta somente esperar ansiosamente a morte para que não me torturasse mais nas tentativas frustrantes de não viver mais um passado impossível. 

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os bouganvilles florescem...

"Chorei três horas, depois dormi dois dias. Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além deste amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia."  
Caio Fernando Abreu, em Ovelhas Negras




Hoje tive que procurar meus exames na bagunça da última gaveta do móvel no quarto do novo apartamento. Nem faz um ano que mudei e ainda não arrumei direito a sala e o quarto, com quadros separados no canto esquerdo da sala, papeis e documentos amontoados na desordem das gavetas do quarto. Mas, tenho que ir ao médico e levar meu arquivo de exames. Agora, vou sozinha aos consultórios e atravesso a monotonia das salas de espera sem uma mão dada à minha. 

Morrer novamente não é fácil. Reviver os sufocos do passado na solidão do presente é mais difícil ainda. A ansiedade da dúvida me angustia muito. Mas, não tem jeito. Sou obrigada a enfrentar a possível iminência da morte, ou talvez, a esperança sofrida do tratamento doloroso da doença. Sem coragem para contar ao namorado de ocasião. Pois, quando o relacionamento é pueril não se pode contar problemas. 

Jorge ocupa um pequeno espaço de fim de semana alternados, dos quais não são suficientes para aquecer minha cama neste inverno. O curto tempo juntos não nos aproxima tanto para compartilharmos outros assuntos prementes. Apenas, a ludicidade de encontros perenes. No domingo ele se vai e na próxima chegada muita coisa já mudou, vez que nem sempre estou disponível e o vazio permanece.

Ontem, acordei surpresa com a bela sinfonia do canto de um pássaro altivo que não se intimidou com a minha chegada na varanda. Pude perceber que o bouganville fúcsia florescera e por conta da minha cegueira neurótica nem consegui enxergar durante esta semana tumultuada pelo medo. Sentei-me próxima e aproveitei a estética de seu pouso nas flores vibrantes com o canto alegre sentindo uma leve brisa tépida aquecida pelos raios de sol que me invadia a alma. Chorei e me lembrei que nesses quase oito meses de moradia nova não tinha visto nenhum dos pássaros que me visitavam todas as manhãs na antiga residência.

A rua é bastante movimentada com barulho do trânsito contínuo, a sujeira entra todos os dias pelas janelas e não há mais pássaros, nem o aroma verde das árvores. Mas, hoje o bendito pássaro voltou trazendo esperança diante do caos urbano como quem vem me trazer alegria. De agora em diante, ofertar-lhe-ei  água e laranjas doces para que volte sempre.  Até que um dia se canse de mim como você e procure novos sabores.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O medo de amar...


"Minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto."



Talvez, eu tenha ficado acostumada com a solidão e viva na zona de conforto que cicatrizou minhas feridas e ao me jogar no abismo de um possível novo amor seja arriscado demais. 

Passar a vida na fantasia e retroceder ao crescimento tem me bastado por medo de sofrer. Os tombos do caminho me tornaram assim, infantil e insegura pelos fracassos acumulados. 

Então, na ludicidade vou seguindo a vida...

domingo, 14 de maio de 2017

O outono...

Um dia
Levaram meu outono
Eram muitos e muitos 
Outonos felizes 
Então
Meus outonos viraram invernos
Um dia
Meu outono renasceu
Das trevas do outono furtado
Brotou-se a luz... 




sábado, 6 de maio de 2017

Unidade...


E, de mãos dadas
Experimentamos em silêncio 
A unidade daquele momento 
Somente nosso.

O tempo passou 
Em segundos 
E, de repente
Éramos um.
 


domingo, 30 de abril de 2017

O encontro... Com final de desencontro.

"Entre os gritos de dor física e os cantos do sofrimento metafísico, como traçar seu estreito caminho estoico, que consiste em ser digno do que acontece, em extrair alguma coisa alegre e apaixonante no que acontece, um clarão, um encontro, um acontecimento, uma velocidade, um dever ?" Gilles Deleuze




É outono, estação melancólica que guardo tristezas não superadas. O frio vem no vento gelado que invade a casa pela grande janela da varanda que mantenho aberta por minha incessante mania de arejar o ambiente. Estou na minha eterna solidão no silêncio completo de um dia inteiro sem dar uma palavra lendo um livro de filosofia.

Ele me chama e eu disfarço com preguiça do encontro. Estou a vontade de pijama e sem motivos para me arrumar. Acho que prefiro a fantasia da troca de provocações e os flertes lúdicos pelas mensagens. Ele insiste e eu dou desculpas com falta de tempo. Quando na verdade o que mais tenho neste dia é tempo. Então, ele suplica e eu cedo requerendo um espaço de duas horas para dar conta de tomar banho e me preparar. 

Ele vem e chega com cerimônia, tem um olhar cansado. Mas, ainda guarda o frescor da juventude pela falta do envelhecimento, embora falsificada pelos anos. Abraça-me forte quase num pedido de amor. Já que a paixão não a tenho mais para dar. Eu disfarço e me disperso para que o contato não tire minhas energias.

Sentamos de frente, mas ele desvia o olhar quando o fixo. Não quer se olhar no espelho. Estamos iguais com camisa preta e jeans,  idênticos no sentimento do vazio da existência. E, entre os goles do álcool, e as tragadas da nicotina relembramos momentos, filosofamos os encontros e despedidas, teorizamos a liberdade e a intimidade que não conseguimos ter. Somos tão convergentes, mas amarmos nos é impossível. 

Na minha ansiedade de falar atropelo sua fala e o interrompo por várias vezes. As horas parecem ter passado em minutos. Enquanto isso, ele absorve minha alegria e até consegue se sintonizar às gargalhadas. Alega o quanto sente falta do meu riso, durante esses quase sete anos sem escutá-lo. Depois, ele parte me deixando esgotada. Mas, leva um pouco da felicidade que consegue me tirar.  

Sua angústia fica comigo e amanheço insólita. Ao tentar acender um cigarro após o café da manhã percebo que ele levou meu isqueiro.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Quem é essa mulher ?

A Mulher Cativante




"* A mulher cativante não recebe o homem com uma longa lista de problemas que ela teve naquele dia.

* A mulher cativante nunca deve rejeitar seu marido em favor dos filhos.

* A mulher cativante sempre avisa onde está e gosta de esperar o marido em casa com comida pronta.

* A mulher cativante sabe que o sexo representa um papel muito importante na vida do marido. Por isso ela sabe também que:
- não pode recusá-lo;
- tudo o que fizer na cama dirá que aprendeu com ele;

* A mulher cativante aceita que o homem se interesse por futebol e pela companhia dos amigos.

* A mulher cativante não desconfia quando o marido trabalha longas horas e chega tarde.

* A mulher cativante não pode exigir que o homem diga que a ama milhões de vezes.

* A mulher cativante tem a obrigação de passar batom e se maquiar e aparecer bonita e perfumada.

* A mulher cativante deve considerar o homem a pessoa mais importante de sua vida. Deve dar-lhe mais valor do que a todas as outras pessoas - inclusive a si mesma.

Você acredita nisso? Tem alguma coisa errada. Retirei todas as frases da revista Seleções, de outubro de 1969, há 43 anos. O nome do texto: "Que é que torna a Mulher Cativante?", do psiquiatra americano Theodore Rubin.

Quem concorda com essas afirmações não é machista, é escravagista.

Você não quer uma mulher, mas uma escrava. Trate de mudar, ou seu destino será o sebo, onde encontrei a revista, ou a delegacia."  Fabricio Carpinejar

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Mesmo que o amor evapore fica a essência...

“Existe um desejo porque existe algo de inconsciente, algo da linguagem que escapa ao sujeito em sua estrutura e seus efeitos; há sempre no nível da linguagem alguma coisa que está além da consciência. É aí que pode se situar a função do desejo.”  Jacques Lacan


Na maioria das datas especiais eu presenteava Davi com perfumes importados. Vaidoso e sedutor ele gostava das essências marcantes amadeiradas doces e muitas vezes usávamos o mesmo perfume. Com o passar dos anos vivemos numa simbiose tão intensa que perdemos nossa própria identidade e tínhamos desde o mesmo cheiro até os mesmos gostos. Daí o imenso sofrimento e a dificuldade de me libertar na separação quando tudo se esvaiu pela traição que me causara tanta dor. 

Segui em uma longa viagem ao exterior, onde dei por encerrado nossos vínculos emocionais. Refeita do golpe, antes de chegar à alfandega no retorno de casa entrei numa loja de presentes e comprei um frasco de perfume para nosso filho e outro presente qualquer sem importância afetiva para Davi. Recebida friamente na chegada entreguei os presentes à ele, inclusive o perfume endereçado ao nosso filho.

Tempos depois, numa festividade familiar em que somos obrigados a nos encontrar um mês antes de seu aniversário, Davi me solicita de presente um perfume e confessa que havia expropriado o perfume que eu endereçara à João. O símbolo de nosso rompimento se mantinha interrompido por Davi levar nosso cheiro para outra cama. Mas, eu não suportava fazer parte daquele fetiche. Pois, para que ele a desejasse era necessário estar comigo em suas fantasias patológicas.

terça-feira, 28 de março de 2017

A solidão na janela do tempo...

A maturidade chega com a casa vazia, a cama antes apertada agora é espaçosa, ao despertar abro as janelas na esperança de ver gente e deixar os sons entrar. Pois, o dejejum é solitário demais. E, eis que me pego a divagar num passado de lembranças tão presentes esquecendo o largo tempo de anos. Penso que ainda sou jovem e sem prazo para alcançar a solidão das noites escuras. Mas, longo vem realidade a batucar meu coração cansado demais para amar novamente, já que você se foi e não voltará mais. Então, choro meu futuro vazio.


O Tempo Parou para Mim...

"A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa pra minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida, unicamente o sabor da minha vida. Acho que eu consegui fazê-lo; vivi num mundo de homens guardando em mim o melhor da minha feminilidade. Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos." Simone de Beauvoir