... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Apenas e tão somente uma noite...


Somente aqueles olhos ternos vagando nos meus poderia ir no fundo da minha alma furtada de um passado sombrio. O semblante daquele homem doce e cortês esbanjava a sensualidade feminina dos poetas. 

Havia uma tristeza misteriosa e solitária dos eruditos intelectuais. A minha ansiedade dominava meus impulsos da fala compulsiva e repetitiva. Nada do que foi dito no meu afã tagarela ficou. 

Um beijo furtivo em público me arrepiou a espinha. Depois, na intimidade clandestina os beijos tórridos queimaram meu âmago. Mas, a timidez me paralisou os instintos.

Eu não estava preparada. De repente, sem a menor parcimônia estávamos contemplando o horizonte se colorindo com o  raiar da alvorada. 

Então, a brisa fresca marinha e o canto das gaivotas me despertou do devaneio. Tudo ficou para trás. Restou, apenas meu cheiro de lavanda que evaporou em poucas horas.
                                                                        C. Garcy

A Carta não enviada...

"A conservação da carta não enviada é sua característica impressionante. Nem a escrita nem o envio são notáveis (com frequência fazemos rascunhos de cartas e os jogamos fora), mas sim o gesto de guardar a mensagem quando não temos nenhuma intenção de enviá-la. Ao guardar a carta, nós a estamos enviando de algum modo, afinal. Não estamos abandonando nossa ideia ou rejeitando-a como tola ou desprezível (como fazemos ao rasgar uma carta); ao contrário, estamos lhe dando um voto de confiança extra." (Janet Malcolm in A Mulher Calada)



Meu querido amigo:

Tenho pensado muito em você. Sabe aquela angústia que tanto nos solidarizamos ? Pois é, estou angustiada. Não há remédio que a cure. Nem mesmo os meus recentes amigos de viagem têm a fórmula mágica para amenizar aquela dor apertada no fundo do âmago.

Então, espero que você tenha continuado na luta pela vida. Não vai "chutar o balde", enquanto estou longe geograficamente, porque continuo perto emocionalmente...

Aguenta firme que estou chegando em breve, cheia de novidades e esperanças da sua melhora. Vê se fica bom logo, para podermos programar uma viagem juntos...

Já tentei saber notícias suas, mas não tive qualquer resposta. Como dizia Freud, me abateu uma melancolia, como se fosse luto por sua falta. Algo me diz que você está se entregando e, me sinto muito angustiada por não poder estar aí com você. 

Tenho me emocionado muito pelas nossas lembranças, dos papos filosóficos em que tínhamos várias discussões sobre os problemas da humanidade.

Parece até que estou me despedindo, enquanto que tenho esperança de retornar e saber que você ganhou mais essa batalha. Espero que você não esteja sofrendo e nem com medo de não resistir. Mas, confesso que meu inconsciente sabe que está cansado...

Você sabe como sou fraca emocionalmente para lidar com as perdas. Principalmente, com a finitude. Então, seja forte e escolha viver. Sei que pode ! Por favor, não me deixe agora, não suportarei sua falta.

Ademais, o amor sempre vence e está acima de qualquer enfermidade. Pense, em nós seus amigos, e todos aqueles que lhe admiram e lhe amam. Viva ! Por você ! Por todos nós !

Beijos; da sua neurótica Marie 

(Esta carta nunca chegou ao seu destino. Ivan havia falecido na data em que a mesma foi escrita.)

Amigos para não enlouquecer...


"Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos... 

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre... 

Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados... 

Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo... 

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas ? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto !!! Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida ! 

A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente... Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos... 

Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado... E nos perderemos no tempo... 

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... 

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !!!"  Vinícius de Moraes


Infantilidade ou maturidade ?

"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever ? Acho que assim: vem-me uma ideia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.


Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los... Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados ? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta ? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante, ainda, ou nunca serei."

                                                                           Clarice Lispector


É na infantilidade que recuso-me a enfrentar as dores sofridas; dores de uma sociedade individualista, dores da desesperança, dores do sofrimento da deslealdade, dores dos que foram sem despedida, dores das perdas, dores do sofrimento alheio, dores do desamor e todas as dores do mundo... 

O tempo passa rápido demais deixando na lembrança os bons momentos efêmeros e, também é o mesmo tempo que passa lento demais quando há feridas abertas. 

Essa impulsividade de se entregar sem questionar o amanhã, é a criança latente que não quer perder mais tempo. Vai do riso ao choro e vice-versa, mas não cansa de amar. 

Viver o jogo infantil de esconde-esconde, nada mais é do que vivenciar a latente alegria de sorver ao máximo a felicidade líquida que depois escorrerá pelos pés, que estão descalços para aproveitar ao máximo o frescor desses momentos. 

Pobre de quem já deixou sua infância simbólica e amadureceu suas emoções previsíveis se adequando ao duro realismo. Jamais, entenderá a vivacidade das boas gargalhadas que causa estranheza pelas regras da etiqueta e dos prantos temendo as críticas da fraqueza.

Tenho a idade emocional de uma adolescente que sonha com príncipes encantados, tenho a idade mental de uma idosa que sabe dos disfarces dos sapos. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Do amor ao ódio...


"Se uma pessoa encontra obstáculos intransponíveis nos seus esforços para experimentar o amor ou a satisfação das exigências sexuais, começa a odiar. Mas o ódio não pode ser expresso. Deve ser refreado para evitar a angústia que causa. Em suma, o amor contrariado causa angústia. Igualmente, a agressão inibida causa angústia; e a angústia inibe as exigências do ódio e do amor."  (Wilhelm Reich  in  A Função do Orgasmo)



Aonde ela estava quando você mais precisou... ?



"Vestia-se, pintava-se com cuidado, mas seu rosto endurecido, já gasto, não podia suscitar um novo amor; poderia ela própria amar outro depois de vinte anos à sombra de um homem ? Restam ainda muitos anos de vida quando se tem 40 anos. 


Revejo outra mulher que conservava olhos belos, traços nobres, apesar de um rosto inchado pelo sofrimento e que deixava, sem o perceber sequer, as lágrimas escorrerem-lhe pelas faces, em público, cega e surda. Agora, o deus diz a outra as palavras inventadas para ela; rainha destronada, não sabe mais se jamais reinou sobre um verdadeiro reino." (Simone de Beauvoir in Segundo Sexo)

Mesmo vivendo num exílio sentimental, disfarçado pela felicidade de fachada, não havia como evitar as notícias vindas de lá. Aonde, meu par saciava-se na hipocrisia de um romance fadado ao fracasso. 

Ciente de seu luto pela dor, eu era impedida de dar-lhe colo e o consolo de que precisava. Ninguém, sabia lidar com sua angústia da perda como eu, que pelo timbre de voz e o seu semblante pesado suplicava aconchego. A substituta não tinha  tempo para se sensibilizar àquela dor que era só dele. Afinal, o tempo destinado a fantasia era efêmero e qualquer mudança de expectativa seria rejeitada. Somente, desejo e prazer estavam escritos na crônica do romance clandestino, o luto não era bem-vindo e em busca do sol deu-se a ausência hedonista, numa fuga impiedosa para o mar explicitando sua felicidade para quem quer que saiba. 

Não havia, como fazê-la sentir-se na pele do outro, o narcismo em comum de ambos, agora se vingara do próprio ingrato que me abandonara a própria sorte. Talvez, seu arrependimento nunca o faça voltar, mas certamente seu rancor pelo abandono emocional da atual será alimentado por inúmeras desconfianças e traições iminentes. Pois, sua natureza cruel e fria não hesitará na vingança. Pois, quando não há amor legítimo, a deslealdade vive a espreita, apenas esperando a oportunidade certa para se fazer presente.