"Há sempre algo de ausente que me atormenta". Camille Claudel
São quinze minutos para às duas horas da tarde, mal chega a hora da consulta e Roberto está a minha espera ansioso, com um olhar angustiado de olhos vermelhos e inchados, provavelmente de chorar. Cumprimento-o e sento-me à poltrona, nem há tempo de abrir o bloco para anotações vem a enxurrada de reclamações e acusações contra a mulher que o abandonara depois de quinze anos de casamento.
Roberto era um empresário bem sucedido que não somente amargava uma falência econômica, mas também a conjugal. Aos cinquenta anos de idade, com dois filhos, se encontrava falido e abandonado por quem menos esperava, Carla, a mulher que amava e quem construíra uma família. Nestes moldes, eu era consultada para preparar sua defesa no divórcio.
Uma empatia me abateu e me senti no lugar de Roberto, apesar ter passado por momento semelhante num passado quase que distante, mas ainda presente em sentimentos. Pois, quando estava casada vivi a mesma situação da falência do meu marido e amargamos momentos difíceis, mas jamais o abandonei. No entanto, Carla não suportou as dificuldades prementes e seu afeto esvaiu.
Mesmo assim, Roberto ainda a amava e estava disposto a aceitá-la de volta. Muito embora, ela estava decidida quanto ao divórcio e provavelmente, não retornaria por conta de um possível envolvimento extraconjugal.
Mesmo assim, Roberto ainda a amava e estava disposto a aceitá-la de volta. Muito embora, ela estava decidida quanto ao divórcio e provavelmente, não retornaria por conta de um possível envolvimento extraconjugal.
Imaginei o fracasso que se abatera à Roberto, com a perda de sua dignidade e da família repartida pela limitação de Carla em não suportar àquela situação. Logo, me lembrei de outro caso semelhante, em que a mulher havia abandonado o marido por conta do alcoolismo. Neste caso, a mulher mantinha casos extraconjugais, inclusive com homens casados e não hesitou em terminar seu casamento de anos, com três filhos, para se livrar dos problemas e da enfermidade do marido que se desencadeou durante a descoberta da sua infidelidade.
Encerrada a consulta, me abateu uma tristeza por conta das minhas lembranças, dos anos que compartilhei todas as crises do meu relacionamento, do meu atraso profissional por me dedicar ao casamento e principalmente, da minha lealdade não reconhecida. Já que, quando nos estabilizamos dos problemas financeiros fui abandonada por uma amante bem estabelecida economicamente.
Aturdida peguei um táxi e não consegui me conter das lágrimas jorradas sem controle, quando o taxista aparentando uns trinta anos indagou se eu estava bem ou precisava de ajuda. Com a voz embargada respondi com dificuldade que estava tudo bem sim, e era apenas 'dor de cotovelo'. Mais que depressa veio o comentário empírico: - Que loucura... !
Desci perto de casa e caminhei com a minha dor que segue sem passar, como um fantasma a me assombrar quando me deparo com situações em que a ingratidão e a deslealdade se tornaram lugar comum, destruindo o afeto.
Aturdida peguei um táxi e não consegui me conter das lágrimas jorradas sem controle, quando o taxista aparentando uns trinta anos indagou se eu estava bem ou precisava de ajuda. Com a voz embargada respondi com dificuldade que estava tudo bem sim, e era apenas 'dor de cotovelo'. Mais que depressa veio o comentário empírico: - Que loucura... !
Desci perto de casa e caminhei com a minha dor que segue sem passar, como um fantasma a me assombrar quando me deparo com situações em que a ingratidão e a deslealdade se tornaram lugar comum, destruindo o afeto.
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