“A minha dor não cabe nos cem milhões de versos que eu fizera" Florbela Espanca
Era tão insuportável lidar com aquela dor advinda do fracasso que fiquei dura demais. Já não podia mais amar ou viver como antes. O mundo se tornara cinza, sem as cores do pôr-do-sol ao mar ou as flores dos jardins. Eu estava tão triste por não conseguir mais sorrir ou me alegrar, que então me recolhia em minhas trevas do peito oco. Nada mais fazia sentido mergulhada nas profundas mágoas. Restou-me somente a amargura pela impossibilidade de retornar a mim mesma.
Eram dias e noites num vazio paralisante. Não havia mais sequer qualquer sentido aquela vida.
Assim, os anos se passaram como num piscar de olhos. Já se foi tanto tempo que até mesmo as boas lembranças do passado foram sendo esquecidas. Eu não conseguia mais lembrar do último beijo e nem de quando estava feliz. Tudo era muito vago como se eu perdesse a razão. Agora, me resta somente esperar ansiosamente a morte para que não me torturasse mais nas tentativas frustrantes de não viver mais um passado impossível.
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