Eu ali parada no tempo e no
lugar olhava para trás e o avistava reverso a mim. Sua imagem se distanciava
cada vez mais às minhas súplicas. Olhava para frente e via a multidão de costas
seguindo em frente.
Minha visão estava turva pelo borrão da maquiagem que se derretia
no jorrar do pranto. Estava tão absorta com a sua partida sem explicação que
me senti completamente abandonada.
Mirava novamente a retaguarda e já não havia
mais sinal algum seu, que se esvaiu como a fumaça do meu cigarro dissipada
ao ar. Na minha dianteira já não havia mais ninguém.
Então, sentei no banco da
praça e chorei mais ainda secando todo o sofrimento daquela perda até o cair da
noite.
A raiva por sua partida me
impulsionou continuar solitária até o trajeto de casa. Passei pelo portão
rapidamente sem cumprimentar os vizinhos desocupados que esperavam seus
familiares e adentrei pela porta dos fundos com vontade de quebrar tudo.
Fui ao
quarto e abri o seu armário tirando todas as suas roupas num rompante desesperado
de ódio. Pensei em atear fogo, rasgar tudo, mas percebi que deixara somente
as peças que o presenteei nas datas especiais.
Sentei na beirada da nossa cama e percebi a
aliança deixada sem cerimônia sobre a colcha. Nem se despediu, mas se
desfez de todas as lembranças.
Era covarde demais para
enfrentar meus questionamentos sobre o rompimento. Mas, também não há
explicação para o desamor. De repente, o sentimento se tornou pueril e sem
motivos.