... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A Mulher Despejada...

"Se vivermos durante muito tempo, descobrimos que todas as vitórias, um dia, se transformam em derrotas." Simone de Beauvoir



Fazia um ano que havia perdido meu lar e poucas foram as vezes que retornava àquele bairro em que vivi os muitos anos felizes. Agora, estou caminhando pelas ruas que tanto andei ao destino do meu lar. É primavera e as flores estão a colorir os caminhos quentes pelos raios que transpassam as árvores que tanto me sentei aos bancos da praça, enquanto meu filho corria crescendo rapidamente a cada ano. Por tantas vezes o esperei no retorno da escola com aquele sorriso estampado no rosto ao avistar-me. Os abraços apertados, a vigília a pouca distancia das suas brincadeiras com as outras crianças, os sorvetes negociados e a hora de voltarmos para o almoço ou o jantar. A minha volta do trabalho, quando era ele que me avistava de longe e corria ao meu encontro, o pai que estacionava o carro e vinha ao nosso encontro... Todos esses momentos ficaram num passado longínquo que jamais voltará, a não ser na saudade.

Sinto um nó na garganta que dá vontade de chorar, mas respiro fundo e sigo adiante deixando para trás tudo já vivido. Aperto o passo e vou em outra direção com todas as lembranças a me perseguir, numa angústia misturada a raiva de ter perdido meu chão, minhas histórias e aquele tempo que agora, pertence somente à mim na nostalgia. É impossível não ressentir-me por ter sido obrigada a não poder compartilhar mais daquela morada.

Vislumbro alguns conhecidos de longe e mudo de calçada fingindo que não os vejo para evitar o encontro e cumprimentos. Na verdade estou tão derrotada que não há nada de bom para conversar. Assim, como não quero invejá-los por não conseguir lidar com meu despejo. A esta altura o pranto é inevitável e foge ao controle. Não consigo chegar a agência bancária e resolver as pendências que estava disposta a solucionar. Sento-me em outro banco da rua pelo esgotamento emocional e fico absorta pela melancolia que me devora os pensamentos.

Penso em ir logo embora dali, mas não tenho forças para me levantar e sair. Não sei quanto tempo fiquei neste estado. Quando de repente, vejo do outro lado da rua alguém do meu passado parado me olhando e vindo em minha direção, mais uma vez finjo não ver e salto rapidamente em busca de algum abrigo que me tire dali. Porém, mal sucedida sou alcançada e não consigo enxugar minha lágrimas a tempo de disfarçar minha tristeza. Entretanto, sou abraçada e acalentada soluçando de vergonha, num desabafo silencioso. 

Sou levada sem resistência, mas completamente muda pelo braço, sem me importar com o pranto jorrado. Sento-me com ele num café que pacientemente me observa com um olhar fixo e terno. Bebo um copo d'água que vai lavando aos poucos minha angústia.

Continuo silente e penso numa maneira de sair sem ser vista ou impedida. Detesto esta minha fragilidade e principalmente perante alguém que testemunha meu descontrole. 

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