Foi tão difícil acordar naquela
manhã do dia seguinte completamente sozinha com o meu lado esquerdo vazio que
por segundos voltei a adormecer para escapar do mundo. Depois de mais duas
horas abri os olhos na esperança de vê-lo ao meu lado, mas percebi que ele não
estaria ao meu lado nunca mais. Fechei novamente meus olhos e permaneci ali
solitária pela manhã inteira até meu corpo não suportar mais ficar estagnada
relembrando toda a nossa vida juntos. Separada agora, em que me fora dado o
castigo de sobreviver pela metade. Então, levantei pesada com toda a minha
raiva e banhei meu corpo deixando a água lavar minha alma na tentativa de me
livrar daquele pesadelo. Não suportava mais aquela dor penetrante que cortava
meu âmago e saí molhando o assoalho até me vestir com um longo vestido preto e
bater a porta para fugir das lembranças.
Autorretratos - Noell Oszvald |
Eu queria caminhar sem rumo e me
esquecer quem fui rasgado minha identidade para jamais lembrar de mim. Caminhei
por horas pelas ruas, vagando como uma mendiga de afeto, pois precisava mudar
de lugar ou de cidade, talvez de país, por não conseguir lidar com a pérfida
realidade daquela falta. Logo, entendi que não cabia mais naquele mundo.
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