... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Nas sombras dos ipês...




- Cuidado com o degrau! 


Ele me alerta e retorna ao portão segurando forte minha mão a me guiar até o terraço ensolarado. Pois, percebe além da minha cegueira diurna pela fotossensibilidade, o descompasso vagaroso ainda sonolenta em acompanhá-lo na sua ansiedade do horizonte matutino descoberto.   


- Para te alegrar o astro sol veio nos visitar. Olha que lindo dia!

             
Ainda inebriada e melancólica tenho dificuldade momentânea em perceber a magnitude daquele amanhecer depois de dois dias tempestuosos entocados na pequena casa da serra. Enfim, a luz nos desperta dos tediosos dias chuvosos e ficamos por longos minutos quedados contemplando a bela paisagem colorida ao infinito pelo distante arco-íris. Ele por detrás de mim cruzando seus braços em torno do meu colo podia sentir as batidas do seu coração ritmadas nas minhas costas e a fumada expirada dissipada no ar gelado matinal como se pudesse sugar toda a minha tristeza me aquecendo novamente à juventude.

            
- Venha! Vamos nos preparar para tomar o bom café com aqueles pães fresquinhos e o bolo de fubá que você tanto gosta, lá na birosca do Seu Edgar. Depois, andaremos pelas alamedas dos Ipês até você querer parar.

             
Assim, ele me conduziu ao quarto me segurando pela cintura. Temperou a água do banho, prendeu meus cabelos e me ajudou a tirar a roupa e entrar na banheira. Pacientemente esperou que eu fizesse minha higiene sem interferir no meu pranto lavado escorrido pelo ralo.

            
 Fecho as torneiras e ele me envolve na branca toalha felpuda enxugando meu último soluço. Depois, de me vestir vejo meu envelhecimento estampado no espelho pelo sofrimento desses dias cinzentos, com sua imagem compassiva ao fundo. Viro-me e digo:

            
 - Não quero bolo de fubá. Hoje quero bolo de chocolate.

           
 - Bom sinal. Você já demonstra adaptação às mudanças.


Então, descemos de mãos dadas a ladeira da alameda perseguindo nossas sombras pelos raios de sol perfurados das copas dos ipês num cadenciado assovio alegre.

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