"Se não tem um bom pai, é preciso arranjar um"
Nietzsche
Aquele que antes foi bebê se aninhando em meus braços, me
agarrando no pescoço em meu colo, nas gracinhas cúmplices e depois, criança
passou a andar sozinho, falar querendo colo ou cantando no banho.
É a fase além dos arroubos de encantamento, dos carinhos
inesperados, da sede de viver brincando e cujas imitações do pai se estendem em
todos os sentidos. Desde a correria ao receber o pai pelo simples barulho da
chave rodando a fechadura e acabando com o suspense da volta.
As manhãs perfumadas pelo seu cheiro fronteiriço na cama
ocupando espaço entre mim e o pai. Numa demarcação sutil de um espaço
preenchido a me despertar pelos beijos babados querendo chamego.
Vem a adolescência, com o pudor momentâneo de vestir-se
sozinho evitando minha presença. Os ombros se alargam, no rosto brotam a acne e
começam os tiques, os segredos, os
complexos, as inseguranças e a busca pela liberdade. Desajeitado pelo
crescimento rápido e involuntário, seus ombros arqueiam para frente, talvez
pelo peso das novas conquistas, desastrado derruba, quebra e não consegue medir
as distâncias, a bagunça do quarto que o sempre faz presente nas horas fora de
casa, as noites em claro pela sua espera, as reivindicações caprichosas e
estapafúrdias, o jeito tímido e calado por temer a crítica e, então as
desilusões.
A dor do término do meu casamento pela ausência
constante do pai. O herói que não está mais perto e evapora feito poeira num
ciclone, indo pra bem longe até se tornar um estranho. Donde as afinidades se
esvanecem, o modelo se perde, a distância o machuca e a incerteza da rejeição o
amargura. Mas, sedento da paternidade procura novos modelos entres os próximos.
E, assim o amadurecimento acaba com a fantasia e, tão logo será homem marcado
por cicatrizes marcantes das feridas profundas de um pai que não mais está
presente. Tornando-o órfão sem luto de um pai vivo.