"Estando são de corpo e espírito, deixo a vida antes que a velhice imperdoável me arrebate, um após outro, os prazeres e as alegrias da existência e que me despoje também das forças físicas e intelectuais; antes que paralise a minha energia, que quebre a minha vontade e que me converta numa carga para mim e para os demais. Há anos que prometi a mim mesmo não ultrapassar os setenta; por isso, escolho este momento para me despedir da vida, preparando para a execução da minha decisão uma injeção hipodérmica com ácido cianídrico..." Paul Lafargue
Minha capacidade intelectual havia se desmembrado, não havia mais a concentração necessária para meu ofício. Meu corpo, já sentia as marcas da decrepitude com a falta de energia para um simples caminhar até a esquina. Os dias passavam longos demais, para suportar àquela angústia de ter me tornado um peso morto, sem serventia.
Impossibilitada de manter o meu próprio sustento, dependia da caridade alheia para continuar vegetando. Não havia tratamento que me desse jeito de melhorar. A depressão havia corroído meu desejo instintivo de sobrevivência e roubara-me a alegria de viver.
Nada mais valia a pena para um futuro, se tampouco havia presente. Apenas, restava na lembrança momentos inesquecíveis passados, dos quais nunca mais os teria. O fracasso de não saber lidar com as perdas se sobrepunham aos prazerosos instantes que julgamos felicidade.
O cansaço físico era o sintoma de uma alma torturada, vagando em penosos pensamentos atordoantes que me privavam das alegrias, tão intensas de outrora, cuja existência tornara-se capítulos de uma letra morta. Em que a minha história íntima jazia mofada, esquecida num canto da estante da vida.
Mas, havia um o fruto imanente do amor, um elo permanente que apaziguava toda a minha dor e não havia desistido de mim. Esse fruto do amor passado era a única prova de resistência que me mantinha viva. Embora, as correntes pesadas da escravidão sentimental me prendiam numa vida sem escolhas.
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