... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Decepção com a figura do Pai...

"Cada grão de uma tristeza tem vinte sombras que se parecem com a própria tristeza, mas não a são. 
Pois os olhos da tristeza, embaçados por lágrimas que cegam, partem em muitos o que é inteiro.
Como perspectivas que olhadas de frente mostram apenas confusão e que de viés distinguimos formas, assim vós, doce majestade, olhando de viés a partida de vosso senhor,
Mais que ele vedes formas de tristeza a lastimar -  as quais, se bem-vistas, são apenas sombras do que não são." (A tragédia do rei Ricardo II, Ato II, Cena II. Tradução livre.)

"... um melancólico não tem consciência do que perdeu no objeto perdido. O melancólico não é fundamentalmente o sujeito fixado no objeto perdido, incapaz de realizar o trabalho do luto sobre ele; é antes o sujeito que possui o objeto, mas perdeu seu desejo por ele, porque a causa que o fazia desejar esse objeto se retirou e perdeu sua eficiência. Longe de acentuar ao extremo a situação de desejo frustrado, a melancolia ocorre quando finalmente obtemos o objeto de desejo, mas nos decepcionamos com ele.

Nesse sentido preciso, a melancolia (decepção com todos os objetos positivos, empíricos, nenhum dos quais pode satisfazer nosso desejo) é o início da filosofia. Uma pessoa que, durante toda a sua vida, está acostumada a viver numa certa cidade e é finalmente obrigada a se mudar para outro lugar, sente-se, é claro, entristecida pela perspectiva de ser lançada num ambiente novo - mas o que a deixa triste ? Não é a perspectiva de deixar o lugar que durante anos foi o seu lar, mas o medo muito mais sutil de perder sua afeição por esse lugar. O que me deixa triste é a crescente consciência de que, cedo ou tarde - mais cedo do que estou disposto a admitir -, vou me integrar numa nova comunidade, esquecendo o lugar que agora tanto significa para mim e sendo esquecido por ele. Em suma, o que me deixa triste é a consciência de que perderei meu desejo pelo (que agora é) meu lar.

O status desse objeto-causa de desejo é o de uma anamorfose. Uma parte da imagem que, olhada bem de frente, aparece como um borrão sem sentido, assume os contornos de um objeto conhecido quando mudamos de posição e olhamos a imagem de viés. A ideia de Lacan é ainda mais radical: o objeto-causa de desejo é algo que, visto de frente, não é coisa alguma, apenas um vazio: só adquire os contornos de alguma coisa quando visto de esguelha." (Dificuldade com o Real - Slavoj Zizek in Como Ler Lacan)

Quando o filho quebra a figura paterna que teoricamente seria a lei, no elo familiar, abre-se um vazio. E, é nesse particular que se instala a carência afetiva, da qual em certas etapas da vida faz-se a diferença. Jovens que passam pela ausência repentina do pai por motivo de falecimento; sofrem com a perda fazem o luto, mas os que a perda são decorrência de abandono, separações e não o farão, consequentemente essa decepção com a ida do pai embora trará melancolia. 

Contudo, abre-se uma brecha capaz de aumentar o distanciamento, eis que no estado melancólico esses filhos se isolam em decorrência da decepção com a figura paterna. Importante estar atento para os sinais de alerta, cuja procura em simples telefonema ou convites para alguma atividade já demonstra uma tímida tentativa de aproximação. 

Passado desapercebido tais sinais, por pais que estejam envolvidos em outros projetos, sejam novo casamento ou demanda de trabalho, muitas das vezes esses jovens encontram outras formas de preencher o vazio paterno com álcool ou drogas. 

Assim, como a imagem da lei, ou seja, do pai fora desconstruída, lidar com a realidade da rejeição traz melancolia, os jovens buscam na fantasia evitar a dor. Portanto, esteja atento aos anseios afetivos dos filhos, para evitar prejuízos emocionais irreversíveis. 

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