... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Não passou.... Não passará....


"...tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente ! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações ! 

Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã ! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranqüilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho." (Eça de Queiroz, in "Primo Basílio")


Na última das gavetas a ser desfeita, lá estão alguns sentimentos esboçados, em bilhetes e cartas, no amarelado do papel em tom de pergaminho pelos anos passados. Reli-os cada um com olhos lagrimejantes e uma coriza fluida a escorrer das narinas, pelo passado mofado que desbotou uma união viciada. 

Pouquíssimas vezes, amei intensamente, revigorou-me os meus escritos transbordados de amor, embora unilateral. Não importa, sempre tive coragem em despir-me a alma, ora românticos e carinhosos, ora raivosos e coléricos por algum motivo de rejeição.

Cada móvel, contia em suas gavetas objetos dele, sem valor, nem mesmo sentimental, por isso foram deixados para trás. Nenhuma lembrança do passado lhe foi importante, tanto que ele abandou tudo, absolutamente tudo. Até mesmo, suas roupas ficaram a me torturar preenchendo de maneira simbólica o vazio dele deixado.

Não há como esquecer, não quero deixar para trás, todas as lembranças de um amor que doei e muito preencheu meu ser. Embora, esse amor transformara-se em tragédia, foi vivido intensamente nos áureos tempos da paixão.  

Por isso, estará sempre bem guardado, com cuidado nas gavetas da emoção. Assim, quando saudosa daquele romance desfeito, satisfaço-me com minhas lembranças do passado que não me dói, amenizando um presente sofrido e um futuro perdido.


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