... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

terça-feira, 11 de março de 2014

Na contra-mão da felicidade...

“Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza, Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer. Ou havia? Ah, como não sei responder às minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar - e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.”
Caio Fernando Abreu



De repente, estávamos novamente diante um do outro, apesar do contato indireto por telefone, mensagem ou correio eletrônico, para as formalidades e as responsabilidades dos nossos filhos. Não sentia mais qualquer sentimento de rancor ou mágoas, e tampouco o sofrimento causado da rejeição pela traição foi capaz de anular todo afeto que ainda, existia. 

A análise havia me fortalecido para enfrentar o abandono e o término daquele amor de anos, cuja ruptura havia me adoecido. Tantas e tantas vezes, imaginei que não suportaria tal dor. Mas, o amor, quando é genuíno, aceita e entende mesmo que se a felicidade do outro é estar em outras sintonias. Então, por mais que ele não me quisesse e estivesse feliz, já me bastaria por toda a nossa história. Agora, eu me comprazia em ter participado por tantos anos em sua companhia. 

Nos cumprimentamos normalmente e seguimos para o restaurante, como uma família em um almoço de fim de semana. Entretanto, no decorrer da refeição sua agitação era notória, em nenhum momento ele me olhou nos olhos e pouco me deixou falar. Sua ansiedade em explicitar seus conhecimentos e notícias me deixaram cansada com tanta informação, das quais se reduziram em um monólogo. Às vezes, transparecia insegurança e me senti uma estranha. Mas, na verdade, ele é que havia se tornado um estranho. 

Logo, um descontentamento tomou conta de mim, olhei àquele homem que no passado havia sido a grande e única paixão da minha vida, capaz de mudar o rumo dos meus projetos de futuro e, agora sentia piedade dele. Pois, toda sua beleza e vaidade havia se esvaído, tornando-o envelhecido e desgastado. Seu olhar já não tinha doçura de antes; seus cabelos perderam o brilho, o corte adotado não o favorecia; sua pele estava ressecada e muito queimada de sol; o desleixo pela falta de vaidade se refletia até na vestimenta inapropriada que intensificava sua magreza excessiva. 

Nunca imaginei que o desconheceria desta forma. O sofrimento que fora a causa do meu envelhecimento precoce pelo abandono afetivo, também parece ter repercutido muito maior nele. Algo estava na contra-mão da felicidade e o preço foi alto demais. 

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