... Em sentimentos que envolvem o universo feminino, pois “Não se nasce mulher: torna-se.” (Simone de Beauvoir)
A dualidade de sentimentos que envolvem o Universo Feminino.

São tantos os sentimentos em busca da identidade feminina, cujos contratempos das emoções transbordadas vão do êxtase secreto à cólera explícita...

Esse blog é um espaço aberto acerca de relatos e desabafos relativos as alegrias e tristezas, felicidades e angústias... Sempre objetivando a solidariedade e ajuda ao próximo.

domingo, 4 de novembro de 2018

A Mulher libertária.


"Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância.“ 
Simone de Beauvoir


 


Então, ela o olhou fixamente cruzou as pernas sensualmente retirou um cigarro do maço acendeu e tragou intensamente soprando a nuvem de fumaça  como se quisesse apagar a imagem daquele homem impassível que lhe noticiara o rompimento por pura incapacidade de lidar com a liberdade combinada desde o início.  


Ele na tentativa de explicar suas razões era inaudível para os ouvidos moucos dela, pouco interessada perante a justificativa moralista da propriedade privada de sentimentos. 

Pensou para si com imensa decepção. Ora! As regras estabelecidas sempre foram claras, nada de cobranças ou compromissos de fidelidade. Agora ele vem me cobrar exclusividade.


Decidida, apagou o cigarro com torpeza se levantou abruptamente abrindo a porta e num tom áspero determinou:

- Fora! Não preciso de explicações.

- Entenda Cléo. Não tem nada a ver com você. Sou eu que não consigo lidar com suas normas...

- Pare! Não me interessa. Vai viver sua fantasia compromissada. Se mudar de ideia volte.


Irritado por não conseguir o contraditório saiu a passos pesados sem olhar para trás porque seus olhos já apontavam lágrimas a ponto de se derramarem envergonhadamente. Era fraco diante daquela mulher que não tolerava dar satisfação de suas escolhas e, portanto não admitia quem tentasse lhe roubar a liberdade. 


Ela fechou a porta e passou o trinco dirigindo-se para o quarto. Ligou o som em alto volume e pôs-se a cantar a estrofe “Quem chorou, chorou. E tanto que seu pranto já secou...”.  Alheia ao toque da campainha pelo arrependimento dele que insistentemente tentou a volta em vão, chorou a rejeição. Pois, apenas queria momentos de felicidade sem compromisso. Gostava da causalidade das surpresas quando ele aparecia em busca de sua companhia, do sexo fortuito sem promessas no amanhecer.


Porém, ele sentia-se inseguro diante da clandestinidade daquela relação que o atormentava, quando muitas das vezes ela se ausentava em recebê-lo. Assim, todos os encontros eram misteriosos até a chegada. No fundo ele era um homem avesso à liberdade e sentia ciúmes por desconfiar que ela tivesse outros encontros. 

Todavia, somente os compromissos que seduziam aquela mulher madura pela idade e juvenil emocionalmente eram apenas reuniões político-ideológicas em que nada oferecia perigo ao amor que sentia por ele. 


Na verdade, sua opção sentimental se dava pelos traumas do passado nos romances mal sucedidos. No entanto, ao conhecê-lo permitiu o compartilhamento de sua cama aleatoriamente quando sentia desejo. Saciava-se com o peso do braço envolto em seu tronco pelo abraço, após o orgasmo e ouvir o ressonar dele adormecido em satisfação, sem querer saber nada da vida dele ou de algum futuro para não se iludir, bem como não permitia que lhe indagasse sua vida. 


Era uma mulher intensa e libertária demais para a compreensão dele, cuja despedida no dia seguinte sem planos para um próximo encontro o angustiava. Enquanto ela, preenchia o vazio pelas lembranças sem expectativa de futuro.

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