"Nesse ponto, contudo, quando a fachada do casamento feliz se desintegra, a amante fica perturbada e, por compaixão pela esposa abandonada, evita se encontrar com seu amante" Slavoj Zizek, in Como Ler Lacan
Ao toque da campainha abri a porta e apareceu Gustavo para minha surpresa. Estava com a aparência de cansado e, ao entrar percebi o quanto estava acabado e envelhecido em poucos meses, o que levaria anos.
Trajando vestimentas deselegantes, totalmente diverso ao seu estilo. No cumprimento frio de dois breves beijos laterais pude sentir o odor mofado da outra. Gustavo não tinha mais o seu cheiro fresco e adocicado, do qual o tornava sedutor. Agora, tornara-se um homem sem o menor atrativo, apagado.
Ao adentrar acanhado parecia-me um estranho, como se nunca tivesse pertencido à nossa casa, na qual compartilhamos muitos momentos juntos. De certo, abrira mão da família, em troca da nova vida inventada por àquela que o tirou do lar.
Não havia mais emoção em seus olhos e tampouco, brilho algum. Eis que, se mostravam opacos e sem o meu reflexo. Nos seus ombros trazia o peso da culpa de tanto sofrimento causado sem o pudor pela fantasia que o levara de mim.
Por um instante, num delírio, pareceu-me arrependido sem coragem de voltar atrás e resgatar nossos anos vividos. Mas, logo, ao despertar percebi que ele não era mais o meu amado. Àquele que um dia trouxe-me a completude e, agora me deixara vazia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário