"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever ? Acho que assim: vem-me uma ideia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los... Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados ? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta ? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante, ainda, ou nunca serei."
Clarice Lispector
É na infantilidade que recuso-me a enfrentar as dores sofridas; dores de uma sociedade individualista, dores da desesperança, dores do sofrimento da deslealdade, dores dos que foram sem despedida, dores das perdas, dores do sofrimento alheio, dores do desamor e todas as dores do mundo...
O tempo passa rápido demais deixando na lembrança os bons momentos efêmeros e, também é o mesmo tempo que passa lento demais quando há feridas abertas.
Essa impulsividade de se entregar sem questionar o amanhã, é a criança latente que não quer perder mais tempo. Vai do riso ao choro e vice-versa, mas não cansa de amar.
Viver o jogo infantil de esconde-esconde, nada mais é do que vivenciar a latente alegria de sorver ao máximo a felicidade líquida que depois escorrerá pelos pés, que estão descalços para aproveitar ao máximo o frescor desses momentos.
Pobre de quem já deixou sua infância simbólica e amadureceu suas emoções previsíveis se adequando ao duro realismo. Jamais, entenderá a vivacidade das boas gargalhadas que causa estranheza pelas regras da etiqueta e dos prantos temendo as críticas da fraqueza.
Tenho a idade emocional de uma adolescente que sonha com príncipes encantados, tenho a idade mental de uma idosa que sabe dos disfarces dos sapos.
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