Pela manhã recebi uma
cliente num caso de divórcio. Uma bela mulher de 50 anos, porém com
marcas evidentes de um sofrimento insuportável. Ouvir toda àquela
história de ruína de um casamento de 24 anos, com riquezas de
detalhes, me remeteu a minha própria dor da separação. Foi me
dando um nó na garganta e principalmente, pela racionalização
diante do caos emocional e de todas as consequências futuras que
estavam por vir.
A consulta foi pesada e
por mais que a encorajasse às atitudes necessárias, ela me parecia
ainda não se dar conta do rompimento, a 'ficha não caiu' como usam
na gíria a falta de percepção de que o marido não a amava mais e
era um mau-caráter. Pois, da mesma forma que contava todo o
sofrimento vivido, ainda pairava em sua fala uma esperança de que
ele poderia voltar. Infelizmente, eu não tinha o poder de fazê-la
enxergar a realidade porque ela não queria saber. Apenas, estava alí
por imposição dos filhos.
Na hora do almoço, fui
ao encontro de uma grande amiga que me esperava em sua casa. Quando
cheguei, para minha surpresa, notei um semblante triste que foi cedendo lugar a uma alegria, através da minha presença e das
borbulhas do espumante gelado dançando na taça de cristal. A minha
manhã fora estressante e com recordações de dores latentes, então
cedi ao escape do espumante para aliviar minhas lembranças
desagradáveis.
O dia começa com duas
mulheres cheias de emoções, uma com mágoas presentes e a outra com
suas mágoas passadas, e se estende com a terceira, também na mesma
situação da segunda. Então, dentre preenchimentos das taças vamos
recordando nossas tristezas do passado até não suportarmos mais
tantas dores sofridas. Mas, o álcool parece que vai amenizando
nossas histórias revividas do âmago e das lágrimas escapulidas sem
querer.
Já a noite, resolvo
voltar para casa, depois tantas conversas e desabafos que me deixaram
extenuada e vou cambaleante no trajeto, quando me deparo com outra
amiga totalmente embriagada com o rosto inchado de choro, num bar nas
proximidades. É a quarta mulher abandonada e cheia de dores
pulsantes. De braços abertos ela me chama e com um abraço apertado se
debulha em lágrimas me confidenciando ao pé do ouvido: “Essa dor
nunca vai passar !”.
Sentei-me à mesa,
transcorrendo pela madrugada, embalada pela fuga da realidade ao som
das nossas gargalhadas catárticas alternadas ao pranto do sofrimento, cada uma
carregando sua dor e anestesiando as angústias. Eis que, a dor não
passa, nunca !