"Talvez não estivesse suportando a situação tão bem quanto antes: não é verdade que 'com o tempo nos habituamos': o tempo longe de curar as feridas, pode, ao contrário, exacerbá-las"
Simone de Beauvoir in A Cerimônia do Adeus.
Não existia mais tempo, pois nos afastamos sem esclarecer nossas questões pendentes. Aliás, as pendências eram apenas minhas em relação à nós. Jacques já, nem me tinha como alguém importante em sua vida. Pelo contrário, seus olhos não fitavam mais os meus, enquanto falava. Aquela situação de desprezo era mais do que a prova viva, de que nossas vidas nunca deveriam ter se cruzado. Não havia o mínimo sinal de afeto. O tempo passara e, ele se esquecera completamente quem sou.
Éramos, agora, dois desconhecidos. Para minha surpresa, já não o reconhecia como o grande amor da minha vida, cujos anos me dediquei. Ele, na verdade, nunca me conheceu, nem pouco se esforçou, apenas demonstrou interesse quando era conveniente. O tempo todo fingiu o falso amor, sem que eu me desse conta do quanto fui ninguém nessa relação inventada.
O tempo passou, mas as feridas continuam abertas. Pulsando todo o sofrimento, dia, após dia, noite, após noite, sem que eu consiga a paz de seguir outro caminho. Pois, estou condenada, a dor eterna da mais cruel essência. Eu não existo mais para Jacques, como nunca existi antes.
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