"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já... "
Pablo Neruda
Em passos claudicantes pelos sapatos inadequados ao chão urbano retorno sem destino da labuta intensa que me esgota. Já não há você a minha espera, que vagueia em novos caminhos sem destino certo. Na minha solidão silenciosa vou percorrendo as novas ruas ao caminho incerto, enquanto você na contra-mão deixa o destino para se lançar ao inesperado.
Cada jardim percorrido, me faz lembrar você em tempos remotos em que saíamos a procura das flores furtadas, não tão raras, mas que enfeitavam nosso pequeno mundo verde com o brotar da cumplicidade das sementes germinantes.
Casais de mãos dadas transeuntes apressados passam por mim ao destino do cinema, me remetendo as poucas sessões de outrora em que compartilhamos bala de menta com amendoim, abraçados pelo clima refrigerado ficávamos vidrados na tela para depois opinarmos sobre o filme.
Nossas lembranças tão remotas, nos fazem desconhecidos pela distância. Pois, você mudou... a aparência, a essência e até sua personalidade. Passou a não valorizar mais em sua estética. Agora, tornou-se um modelo comum sem atrair novos olhares. Talvez, na multidão não lhe reconheceria como antes, quando chamava atenção e me sentia atraída pela competição de vários olhares.
Não há mais a nossa casa, apenas a distância sem endereço, não mais há o seu cheiro, nem objetos que me remetem você. Minha solidão de poucos dias sem você, jamais será preenchida com sua chegada. Nunca mais escutarei o tilintar das chaves abrindo a porta e trazendo você de volta. Assim como, não terei mais você a minha espera.
Agora, com aparência diferente corre ao encontro de quem lhe apaga e lhe detém, furtando-lhe sua beleza para não ter que competir com mais ninguém.
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