"Em sua obra "Psicopatologia da Vida Cotidiana", Freud mostrou que os atos cotidianos de esquecimento, "falhas" e transposição de palavras, não são inteiramente "acidentais" e revelam muito mais do que os atos normais. Um "ato falho" tem um valor revelador de algo inconsciente que o paciente teima em ocultar. Resulta sempre de uma "falha" de seu poder de controle e de simulação.
Por duas vezes seguidas, Alfredo esqueceu seus objetos pessoais no seu antigo lar conjugal, quando da visitação aos filhos. Partindo do princípio desses esquecimentos, pode-se analisar a questão do ponto de vista dos atos falhos desse homem arrependido agora, lançando sinais para a ex-mulher abandonada.
Todavia, não se trata de qualquer objeto irrelevante e, sim de um objeto necessário e significativo. Pois, Alfredo deixou para trás duas vezes a "necessaire" contendo produtos de valia útil para a sua vaidade. Foram deixados um aparelho de barbear e instrumentos de colagem dentária para seus provisórios do tratamento de implantes. Insignificantes, se não fossem tão importantes, eis que uma das suas maiores preocupações era justamente a da aparência.
Talvez, a questão ligada tanto a face, quanto a boca, fosse uma tentativa de dizer algo à Sandra. Isso, correlacionado a quem deu de presente aquela necessaire, em que ele não estivesse mais satisfeito.
Como se não bastasse, ainda foram esquecido uma calça e roupa íntima. Numa frontal mensagem de que Alfredo procurava equilíbrio junto à Sandra e, que a questão sexual ainda, travava um desencontro entre aquele ex-casal.
Na verdade, existe um desejo oculto que traz no esquecimento do jeans e da cueca uma defesa do ego, representando algo ainda conectado ao passado que não está totalmente resolvido. Pode-se imaginar, que Alfredo sinta-se desequilibrado pela falta do casamento, com relação ao sentimento de Sandra e, também demonstrando que não está feliz em sua vida sexual, desejando novamente a ex-mulher.
No contraponto, o esquecimento de seus pertences de higiene pessoal, seja além de se sentir impuro, sujo, uma maneira de dizer que Sandra é pura e limpa. Diversamente de seu mundo longe daquele lar.
Efetivamente, os laços entre ambos continuam ligados e há uma demonstração de marcação de território, junto ao objeto do desejo, o Outro, ou seja, Sandra.
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