"Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios." Graciliano Ramos in Angústia
O rádio-relógio toca um longínquo clássico, aos poucos se aproxima retirando minha alma do espaço onírico, trazendo-me a relutante realidade.
É Ravel ! Despertando-me às 7:00 horas. Estou tão cansada para interromper meu sono adiado há semanas. Mas, o bolero me prende ao leito em devaneios de um passado saudoso. Enquanto, o presente me batuca anseios de um samba canção na dor-de-cotovelo.
As nostálgicas lembranças me deprimem. Remetem-me as torturas da alma, na covardia dos atos rasteiros que me destruíram o espírito. Foi tão difícil conseguir juntar alguns dos pedaços e, mesmo assim, minha estrutura ainda está machucada, por feridas que insistem em não cicatrizar.
Meu esgotamento físico é por conta da carga emocional pesada demais que leva-me a exaustão. A alcova está larga, sem limites que possam reter-me ao aconchego. Estou completamente só, sem proteção e cheia de temores.
São 8:00 horas, encolho-me nas cobertas da fantasia de um acalanto nostálgico que embora nunca tive, sinto saudades. Enquanto isso, a vida corre lá fora e estou aqui sem forças para levantar.
Penso, amanhã resolvo tudo, mas há prazos e obrigações que não podem ser adiadas. Mesmo, sendo minha felicidade adiada. Sou prisioneira da vida que foi-me furtada.
Não vou levantar ! Desligo o telefone e mergulho na minha angústia. Caio em prantos. Estou paralisada pela impotência em enfrentar meus fracassos e recomeçar do zero. Adormeço para fugir de todo sofrimento que me esgota.
Logo, perdi mais um dia de vida que evito viver.
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