"Muitas vezes pregada, pouco observada, a fidelidade integral é geralmente um peso para aqueles que a impõem a si próprios como uma mutilação: consolam-se com sublimações, ou com o vinho. O casamento tradicional autorizava o homem a 'algumas traições', sem reciprocidade; agora, muitas mulheres tomaram consciência de seus direitos, e das condições de sua felicidade: se nada em sua própria vida compensa a insconstância masculina, irão se ver roídas pelo ciúme e pelo tédio. Numerosos são os casais que fazem mais ou menos o mesmo pacto que Sartre e eu: manter através de afastamentos uma 'certa fidelidade'... O empreendimento tem seus riscos: pode ser que um dos parceiros prefira suas novas ligações às antigas, julgando-se o outro, então, injustamente traído; em vez de duas pessoas livres, enfrentam-se uma vítima e um carrasco... Sartre e eu havíamos sido mais ambiciosos; tínhamos desejado conhecer 'amores contingentes'; mas há uma questão da qual nos havíamos levianamente equivocado: como o terceiro se acomodaria ao nosso arranjo? Por vezes, ele se conformou sem dificuldade; nossa união deixava bastante espaço para amizades ou camaradagens amorosas, para romances fugazes. Mas, se o protagonista desejava mais estouravam conflitos."
(Simone de Beauvoir, in A Força das Coisas)
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