Sentada no parapeito da janela do nono andar, Carolina retira cuidadosamente os óculos. Logo, vem o pensamento: Por que os suicidas retiram seus óculos ?
Decide não se acabar daquela forma, pois poderia estar passando algum desavisado e não seria justo tê-lo em companhia. Aliás, tudo o que Carolina não queria era companhia e muito menos testemunhas.
Retorna ao quarto e rasga a carta suicida, certa de que não teria que dar satisfações da sua liberdade de escolha, até porque não se trata de um ato covarde e sim, apenas uma eutanásia.
Já que as dores da alma tornaram-se insuportáveis e objetivava somente descanso de tanto sofrimento.
Diante de alguma dignidade restante, aproveita para separar o seu belo taier vermelho e o estende na cama. Cuidadosamente separa também, as meias de sedas, o scarpin e algumas pérolas em colar e brincos.
Enquanto toma um demorado banho morno, cuja água tépida se confunde com as últimas lágrimas, passa-lhe em mente, feito um curta-metragem os momentos em que se julgou feliz no passado distante.
Já enxuta e decidida, abre a gaveta de maquiagem e começa a pintar-se pelos olhos findando com um batom carmim. Penteia os cabelos ainda úmidos, veste-se e com duas borrifadas de seu perfume está pronta para seu eterno descanso.
Assim, lança mão dos comprimidos e poderá dormir os sonos dos justos.
"A idéia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más" (Nietzsche in Para Além do Bem e do Mal)
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